Friday, November 16, 2007

Estava escrito


Abaixo o horóscopo do signo de touro, da Barbara Abramo, no dia 19 de agosto, domingo em que conheci minha amada Ju...


“TOURO (21 abr. a 20 mai.)

Com o cenário astral super benéfico para os taurinos soltarem a imaginação no sexo e explorarem todo o potencial de sua sensualidade, o domingo só vai ser chato se você não tiver mesmo a menor vontade de mudar a rotina e se esconder dentro de casa! Saia, busque diversão, seja original na abordagem.” (grifos do autor).


Eu já tinha decidido antes de ler o horóscopo da minha mentora Barbara Abramo que eu iria sair aquele domingo. Em casa havíamos combinado os três amigos de irmos à festa de Nossa Senhora Achiropita, aqui no bairro, mesmo que chovesse canivetes, mas o tempo estava bom. E eu repetia a frase: “seja original na abordagem” como um mantra. Há testemunhas.


Seguimos pela rua Treze de Maio e pusemos o pé na festa, que estava lotada. Estava escrito e caminhamos pela Treze apinhada de gente e eis que vi duas moças de agasalho, mas fiquei encantado pela branquinha que ía na frente com cara de desavisada, com uma latinha de cerveja na mão... procurando algo, talvez. Eu quis voltar, mas o mar de gente me impediu, mas algo me dizia que eu a veria de novo naquela noite.


E não deu outra. Desci um quarteirão com os amigos para procurar barracas mais vazias e achamos. Paramos numa de pizza. Estava no fim do meu pedaço, quando a vi de novo. Olhei para ela e disse: gente, ela vai parar na barraquinha e comer aqui, limpem a mesa... Limpamos a mesa, o Marcos saiu e a Ju e a amiga ficaram ali perto da gente. “original na abordagem, original na abordagem”...


Escutei o que elas estavam conversando e meti o dedo na conversa. Logo, eu e a Ju estávamos conversando como se fossemos velhos amigos. Ela me contou um monte de coisas pelas quais estava passando e eu também. E eu doido para ficar com ela, encher ela de beijo... Até que ela soltou: “Se vc me pegar no colo, eu te dou um beijo”... Não tive dúvida... Antes que ela dissesse não, ela já estava no meu colo e ganhei um selinho de prêmio. Depois que a pus no chão, eu cobrei um beijo de verdade e ganhei... Um beijo cheio de vinho barato que ambos estávamos tomando, mas um beijo muito bom...


A partir de então, nos enrolamos por dois meses... Até que em outubro, a gente parecia precisar mais um do outro e hoje completamos um mês de pura felicidade. Ela conheceu minha irmã, meu pai, minha filha e todos gostaram dela e vice-versa... E aqui estamos, felizes, muitas garrafas de vinho depois. E eu quero mais e quero fazer de tudo para que continuemos felizes por muitos e muitos anos.


Graças à Barbara Abramo, graças à Nossa Senhora da Achiropita, graças ao vinho, mas, principalmente, graças à nós, que nos aceitamos e nos amamos, sem frescura.



Wednesday, October 17, 2007

flux fantecobainiano

tanta coisa na cabeça. (só porque) acordei feliz hoje? manhã nublada com os ipês-roxos do ibirapuera em flor. cenário para ocupar a cabeça com as imagens da semana. pedalo a bicicleta e penso nas cartas não enviadas de kurt, na los angeles de john fante. pergunto ao pó se vou ou se fico, mas só recebo telefonemas sobre cisco, abadia e avião. cisco kid? westminster? campo de marte? estou agitado, mas não estou ansioso. estou, de fato, calmo, como a pele clara dela, a escolhida entre as augustas. lenine, moby, magic numbers, radiohead. mergulho de cabeça. não faltam motivos para me apaixonar. há um mistério. conexão com a praia, o mar. nos prometemos um prato quente um ao outro. na praia será. perequê, tombo, embaré, boqueirão, gonzaga, pitangueiras. the bottom of the sea. interlagos, praia grande, matrícula, escola. mas não consigo esquecer uma coisa da noite que passou: uma pinta, um pouco abaixo da marca de biquíni dela.

Thursday, September 27, 2007

Simples


Queria que tudo fosse simples. Queria que tudo acontecesse como sempre planejei, mas não é assim que as coisas são, como a foto aí de cima. Parece a Europa, não??? Os alpes, carregados de pinheiros... Mas é capim-gordura florescendo. É São Paulo. É um detalhe do cemitério de Perus, 8h e pouquinho da manhã, 10 graus C, mais ou menos, terça-feira passada.

A vida podia ser simplesmente assim, bater uma foto sem flash, como minha amiga me ensinou e ter uma imagem linda. A vida poderia ser viver na mesma cidade que sua filha, mas não é assim. A vida poderia ser o tempo inteiro ao lado de uma grande amiga, passando a noite inteira dando risada, como aconteceu na sexta-passada, mas não é assim. E eu te amo, minha amiga.

Monday, August 13, 2007

Incríveis descobertas


Nunca fui muito de conversar com meu pai. Sei lá, nunca tivemos muito papo. Ele mandava e eu escolhia obedecer ou não. E obedecendo/desobedecendo, eu fui formando minha personalidade até os 22 anos, quando saí de casa. Nesses 11 anos que se passaram (aliás, hoje completo 11 anos em São Paulo!), meus pais se separaram, eu fui para a Europa duas vezes, casei e me separei e minha filha foi morar longe e nunca eu e ele paramos para conversar.


Tinha enorme curiosidade pelo período que ele havia morado em Salvador, pois sabia pouquíssima coisa. Sabia apenas que ele havia morado com o tio/padrinho dele e que tinha trabalhado num bar.


Bem, esse era o meu nível de informação. Que bom repórter eu sou...


Ontem, saímos para almoçar, batemos a cara numa fila enorme no primeiro restaurante e o desejo de ambos era peixes ou frutos do mar. Fomos ao restaurante em que ele sempre come no Boqueirão (que eu não gosto) e eu já esperava decepção... Mas além de comida excelente, descobri um monte de coisas sobre o velho Genésio... até porque tínhamos que matar o tempo de alguma forma enquanto o rango não chegava.


Meu pai saiu da casa dos pais (“o sítio não dava nada”) pela mão de sua mãe, que pediu ajuda ao tio Miguel, que o recebeu de braços abertos em Salvador e lhe arrumou emprego no bar de um camarada dele, cujo nome é bem legal, mas eu não guardei... (Vivi, eu sei, da próxima vez eu levo um bloquinho...) Meu pai tinha só 13 anos e o bar ficava num bairro (talvez) chamado Cidade Nova.


Putz, imagina, tudo bem que as famílias nordestinas não são mega-amorosas, mas imagina a minha avó... imagina a tristeza dela, soltando um filho no mundo com apenas treze anos. E lá meu pai chegou em Salvador, em 1958, pouco antes de completar 14 anos e ficou até 1967, quando voltou para o sítio do meu vô, advinhem, que continuava “dando nada”, tanto que ele foi trabalhar num estábulo ... E lá em Salvador meu pai pulou Carnaval (não consigo acreditar, nem pensar nisso!!!), frequentava as boates, bebia, zoava, cresceu longe dos pais...


O espírito aventureiro permaneceu por mais um tempo e, em 1967, ele mesmo decidiu e pediu no mesmo ano para vazar. Vovó, mais uma vez, pediu para a enteada que morava em Santos (minha madrinha), que desse uma forcinha para o meu pai e lá ele vive até hoje, isso faz 40 anos. Ele começou como faxineiro e trabalhou no mesmíssimo prédio, aposentou-se como zelador e lá continuou trabalhando até 2005.


Foi nesse prédio, a dois quarteirões da praia, que ele e minha mãe nos criaram com costumes burgueses (devido ao ambiente), mas em escola pública de bairro bom... Foi lá que fizemos nossas primeiras festas, que eu fiz os primeiros ensaios antes de minha primeira banda ter nome, foi lá que eu tomei um porre pela primeira vez e foi de lá que eu saí para São Paulo e não voltei mais, a não ser nas férias, feriados, para a pequena Santos.


E ontem fazia o tipo de tempo que mais gosto na praia. Céu cinza, vento frio, úmido, com o mar mexido, sem chuva... tempo que geralmente dá lá de maio a agosto, antes do sol e as flores ressurgirem em setembro. Era com esse tempo que eu gostava de sair para caminhar pela praia e pensar no amanhã, pensar versos novos, namorar, olhar os prédios tortos, o mar batendo na calçada.


Ontem quando eu caminhava e fotografava, vivia o presente, mas o passado estava junto (as demos das minhas bandas estão de volta e pela primeira vez eu tenho músicas da Nowhere em mídia digital) e vivia o futuro também, pois não conseguia parar de pensar em seus olhos verdes...


Para fechar, versos de um garoto cheio de sonhos, escritos um ano e pouquinho antes de eu deixar a praia para trás...


“My time has come/ I´m leaving tonight/ The future I´ve had hoped/ So much for/ Now is reality / I´m leaving tonight/ The past I´ve had hidden/ now is a lie...”


Wednesday, August 08, 2007

Sórdidos, mas comuns

A primeira coisa que me agradou ao chegar no Teatro Popular do Sesi com minha amiga foi perceber que estavam tocando o Exile On Main Street, dos Rolling Stones, em seqüência. Pensei: desse palco só poderá vir coisa boa.


Não sei se a trilha antes do início do espetáculo “A Educação Sentimental do Vampiro”, baseado em 40 textos do escritor Dalton Trevisan, o “vampiro de Curitiba”, foi escolhida por Felipe Hirsch ou por alguém de sua Sutil Companhia de Teatro, mas só poderia ser, pois tinha tudo a ver. Fora que imagino que Hirsch e sua trupe fiel, que inclui o incrível Guilherme Weber, adoram música_quem viu a belíssima adaptação que fizeram de “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, que ficou bem melhor que a de Stephen Frears para o cinema, sabe disso.


Stones tem tudo a ver com o mundo sórdido, mas comum de Trevisan. Sórdido, porque as histórias de submundo que ele conta revelam o pior lado do homem e da mulher, em todo o seu egoísmo, tristeza, ansiedade, devassidão... O mundo do autor, entretanto, é comum também, pois todos nós, mesmo os mais inocentezinhos, em algum momento, sentiram aquele gostinho de fel no cantinho da boca e se lambuzaram.


Fora que eu lembrei de várias histórias da minha vida assistindo situações narradas por Trevisan e drmatizadas por Hirsch na peça, mas isso renderia até outro texto.


A conclusão que se chega ao fim da peça de Hirsch é que não há salvação para ninguém, que não adianta buscar nada no céu, que não adianta recorrer a uma instância superior, enquanto não há nada em você que diga que vale a pena mudar. Na moral torta de hoje, se não faz mal (a ninguém), que mal tem? Não é verdade? Só não devemos ter dramas de consciência, arrependimentos. Na busca do prazer e do melhor para nossas vidas, só temos uma responsabilidade: que nosso prazer não machuque o outro.


Ao fim da peça, seguindo a ordem das músicas de Exile On Main Street que tocavam, chegou a vez de Happy, dos Stones, que começou logo depois de fechadas as cortinas vermelhas... “I Need A Love To Keep Me Happy”, cantam Keith Richards e Mick Jagger, narrando a história de um jovem que “nunca quis ser como papai/ trabalhando para o chefe dia e noite”.


E se queremos sair dessa vida de opressão, buscamos o prazer: seja um show, umas cervejas, uma baladinha, um abraço dos amigos, montar uma banda, dar beijos gostosos na boca da mais nova garota mais linda do mundo... Só sei que hoje estou extremamente cansado, depois do fantástico dia de ontem, mas serei o homem mais feliz do mundo até sexta-feira, porque até lá eu tenho um love to keep me happy. Pelo menos até lá.


Tuesday, July 31, 2007

Hora de voltar e recomeçar*


Depois da correria para chegar à rodoviária de Patos de Minas no horário, partimos para Uberlândia rumo à Maringá. Apenas nestes dois trechos andei 1.011 km dos 4.172 km que percorri entre SP-MG-GO-DF e PR. Mais 150 km e eu poderia ter ido do Oiapoque ao Chuí (os extremos norte e sul do País).

O cerrado é lindo, as cidades muitas vezes mal-crescidas, subnutridas, atrapalham a apreciação do cenário, assim como o bebê babão e seu gugudadá interminável dificultam a degustação da trilha que eu escolhi para o cenário: Beatles e U2. Pelo menos o ônibus era um pouquinho melhor desta vez.

Olho para os ipês, o céu mais azul do cerrado, a terra super vermelha do lugar... No player toca "All I Want Is You" e eu caio em mim e descubro que já não tenho mais esse "you", ou ainda tenho, mas tenho que esquecê-la?

Isabella dorme e eu penso: quando vou ter um "you" para, brega, cantar "All I Want Is You"? E, gente, o Bono está separado da Ali, após quase 30 anos de casamento e quatro filhos!!!

The Dream Is Over, acho. A única coisa que eu sei é que preciso, urgente, fazer algo para mudar minha vida.

Ou vou sempre pegar o ônibus da vida e aguardar as surpresas do caminho, como a jóia que encontrei no cerrado?

* Parcialmente escrito em 27.07.07, no ônibus entre Patos de Minas e Uberlândia... Foto: pôr-do-sol em Patos de Minas, em 21.07.07

Thursday, July 19, 2007

Fazendo uns kms


Como dizem meus amigos taxistas, estou "fazendo uns kms" a mais ultimamente. A falta de grana, somada a necessidade de viajar e aos meus temores diante do caos aéreo, confirmados pelo acidente de anteontem com o avião da TAM em Congonhas, atestam que tomei a decisão ao certa ao decidir fazer toda a minha viagem Santos - São Paulo - Minas - BSB - Minas - Paraná de ônibus.

Até agora já percorri 2240 km dos 4172 km previstos (mais 150 km e seria o suficiente para cruzar o Brasil de norte a sul, do Oiapoque ao Chuí!!!) e estou razoavelmente satisfeito com as companhias de ônibus e com a qualidade do descanso que tive durante a viagem, excetuando a verdadeira cangalha que peguei entre Uberaba e Patos de Minas (alô Viação Gontijo!!!!), um ônibus velho e fedidinho, que parava em qualquer lugar e cujo motorista não informava onde estava parando e por quanto tempo (o que é obrigatório, viu Viação Gontijo!!!!), e o gordão que viajou do meu lado entre BSB e Uberaba, que me tirou espaço e me garantiu uma noite de insônia.

Minha filhota só confirmou ser uma grande companheira de viagem. Do alto de seus seis anos de idade, nos divertimos horrores, seja com os yes ou nos de "I´ve Got A Feeling", que ela ficava cantando ontem em voz alta no ônibus, seja conversando sobre a estrada e soltando suas pérolas extremamente imaginativas, etc...

Até agora foi tudo bem, estou com a minha filha desde o dia 9. Nos dias que ficamos separados, ela em Uberaba e eu em Brasília, nos divertimos horrores. Ela foi ao parque dos Dinossauros, plantou pés de maracujá e eu fui em Pirenópolis-GO e curti meus amigões de Brasília, cada vez mais especiais e queridos e conheci uma pessoa nova MUITO legal. Ah, importantíssimo, descobri a beleza dos buritis, a diversidade, o clima, o sol e os sabores das frutas do cerrado em julho.

No dia que escrevi o texto, não consegui fazer o upload das fotos de Piri, mas agora taí... "Sabe o que é isso?: é pedreira de pedra de Pirenópolis"...

Tuesday, July 03, 2007

Ah se coubessem todos os etc...


“Thank you for your pictures”. Esta foi a única frase com algum sentido que consegui dizer para um feliz Bob Gruen, que autografava seu livro e posava para fotos com adolescentes, adultos e idosos que foram visitar a Rockers, exposição que compila seus 40 anos de carreira e que terminou este domingo. Junto com Mick Rock, ele é um dos maiores fotógrafos da história do rock.


A exposição, muito bem montada, inclui até objetos exóticos feitos a partir de suas imagens, como uma colcha que estampa a famosa foto do Led Zeppelin junto ao avião da banda. Mais do que retratos dos artistas, Bob conseguia revelá-los na intimidade, pois era íntimo dos músicos. Além de registrar momentos importantes da música, como o nascimento dos Ramones, os shows do CBGB Omfug, o surgimento da New Wave, Gruen também foi o responsável por um verdadeiro diário fotográfico do casal Lennon na América.


Ver suas fotos e tirar uma foto com Gruen (essa aí de cima que eu fiquei com essa cara de bobo), foi o ponto alto de um fim-de-semana especial, nostálgico, cercado de amigos de Santos. Era como se eu estivesse voltando à 95/96, aos tempos do Embryo. Só faltou mesmo o Roberto e o calor do verão santista no interior da garagem do prédio dele, onde ensaiávamos todo fim-de-semana.


O Mauro, “meu amigo de fé, meu irmão camarada”, veio ver a Rockers e o show do Lô Borges, em nova turnê, do disco “Bhanda”. Além de hospedá-lo, fui junto. A curtição, claro, seria garantida, até porque teríamos a companhia das F´s, duas irmãs que acompanharam e foram fãs de toda a carreira do Embryo e estavam sempre lá dando uma super força.


Apresentar lugares da cidade onde moro há tanto tempo para o amigo só fazem com que eu me apaixone mais ainda por São Paulo e acabe descobrindo lugares novos também, como o excelente restaurante japonês por quilo na Liberdade que descobrimos sem querer ou novos sabores como o doce de um tipo de pão de ló em formato de banana, com recheio de creme.


Já as manas moram há pouco tempo na cidade, mas sempre estavam por aqui e estão mais adaptadas. Estarmos os quatro ou até com mais gente junto não cai na conversa fácil de meras lembranças do passado. Como já havia abordado aqui em outro texto, há muitos pontos em comum e um horizonte inteiro para explorar ainda. Há pontos de contato indicando o futuro e nossos pontos em comum apenas ajudarão a conquistar a tal felicidade.


Uma das manas, por exemplo, é cinco anos mais nova que eu, o que hoje não tem mais o impacto dos tempos da garagem, quando ela tinha 16/17 e eu, 21/22. Além de termos a mesma profissão, temos um gosto musical parecido e curtimos alguns lugares em comum em São Paulo, com a diferença de que ela tem uma energia incrível que eu ainda estou recuperando aos poucos. Prometemos não perder contato. Ontem, por exemplo, ela me apresentou o Treze Bar.


A outra mana já está mais calma, tem quase a minha idade e a do Mauro e gosta de coisas mais tranqüilinhas, que eu também gosto. Já andou me levando para uns lugares diferentes, portanto acho que vou conhecer mais coisas novas. Todos estamos felizes de estarmos nos vendo de novo. É como se fossem os ensaios de novo.


Mauro, assim como eu, ultrapassou os limites do rock e é também um grande fã de música brasileira, com ou sem P. “Pra mim existe hoje apenas música que eu gosto e que não gosto”, diz ele. E eu concordo. Os rótulos nos engessam e afetam nossa busca pelo novo ou pelo antigo que pulamos nas prateleiras das lojas de disco ou que simplesmente deixamos de conhecer.


Como canta Belchior em “Velha Roupa Colorida”, “o que há algum tempo era novo, jovem, hoje é antigo”, portanto ninguém é obrigado a conhecer as novidades da música ou de qualquer arte assim que elas acontecem. Lô Borges, para mim, por exemplo, é uma novidade de pouco mais de um ano que ainda estou assimilando, assim como eu estou gamado em Magic Numbers e Snow Patrol, que são “fresquinhos”. Na prática, ambos são pão quente para mim, porque conhecer coisas novas é o que importa, não importa quantos anos elas tenham, como os discos de Warren Zevon, que o Mauro me trouxe emprestados e que me cativam mais a cada audição.


O importante é desbravar o desconhecido, como o rejuvenescido Lô, que do alto de seus 50 e poucos anos, concentra boa parte do repertório de seu show em novidades de seus dois últimos discos_”Bhanda” e “Um Dia e Meio”, que incluem parcerias com Chico Amaral (Skank) e César Maurício (Virna Lisi), além do velho companheiro Márcio Borges.


O repertório inclui ainda parcerias com outros artistas, como “Dois Rios” (Borges/Nando Reis/Samuel Rosa), lançada pelo Skank, que você pode ver aqui na versão do Lô no Sesc este sábado (atenção ao guitarrista Giuliano Fernandes!!!), e velhos clássicos como “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”, claro.


Queridos amigos, foi muito bom curtir tudo isso com vocês este final de semana. Virão outros! Já estou com saudade. E olha que faltou contar coisa aqui, imagina se coubessem todos os etc???


Monday, July 02, 2007

Feliz improviso*



Nada como 15 minutos de caminhada até o supermercado, perto da meia-noite, para que as idéias voltassem a servir para alguma coisa, além de esquentar a cabeça.

Preparo-me para as primeiras férias de longa duração após um bom tempo. Ano passado, em julho, optei por um período curto de descanso para ter um período longo de descanso entre dezembro de 2006 e janeiro de 2007, no qual somaria férias e recesso. Foi um erro. No recesso estive de plantão e trabalhei muito e não passei com a minha filha um tempo de qualidade, interrompido por chamadas repentinas e atendimentos a eles, os jornalistas...


Agora estou ansioso. Os amigos esperam e eu quero agradar à todos, principalmente minha filha. Ela merece. Este ano a vi somente duas vezes: na Semana Santa e na Páscoa. É chegada a nossa hora. Dos 20 dias, ficarei 13 com ela e ela poderá ver todos os avós e a tia.


Espero que os 20 dias de férias sejam tão bons quanto os quatro dias que passei no Rio no Corpus Christi. Tinha em mente ir ao Maracanã, assistir a uma apresentação de samba, pegar uma praia em Ipanema... Não fiz nada disso e não me arrependo. Das minhas auto-promessas, realizei apenas o sonho de ver o Rio a partir do Corcovado num dia de sol. Sonho realizado.


Não me arrependo porque curti meu tempo lá com dois dos melhores amigos que eu tenho nessa vida, o Bruno e a Gabi. Os dois são responsáveis por tudo o que eu conheço no Rio, onde me sinto cada vez mais em casa. Fora que os amigos aumentaram. Hoje minha “família” no Rio é maior, todos cariocas.


E os lugares que conheço e revisito só aumentam. Fui ao MAC e conheci Niterói, onde cheguei de barca, um passeio que me fez lembrar as travessias de Santos para o Guarujá na infância, multiplicadas por dez. Andei pela avenida beirando o mar e cheguei ao museu, uma obra futurista de Niemeyer quase dentro d´água com vista para o Pão de Açúcar e o Corcovado ao mesmo tempo. O dia terminou animado com um encontro com amigos em comum na Urca, que um dia já foi palco de confissões numa noite e beijos numa tarde. Depois, emendamos festa improvisada e muito animada na casa da Gabi, organizada pelo “trio ternura” em duas horas.


Aceitando o convite de um novo amigo, da festa emendei uma baladeenha forte na Casa da Matriz que foi fantástica. Já virei de freguês do pico que conheço de outros carnavais. O repertório de bocas e de músicas foi empolgante. O DJ estava animado e tocou uma seqüência cabulosa de sixties no fim da festa, espertamente intercalando Beatles, Stones, Who, Kinks e jovem guarda.


O autor fez sua já antológica performance de “Jumpin´ Jack Flash” e se surpreendeu com a sacada incrível do DJ, que tocou “Night Before”, do Help!. Nunca havia ouvido essa música numa pista antes (A moda de tocar Beatles na balada está pegando mesmo. No último sábado, aqui em Sampa, o DJ emendou uma seqüência grande na Funhouse).


No domingo, último dia, estávamos todos os três um lixo, por motivos diferentes. Levantamos e transformamos os restos da festa em café da manhã, sem vinho, nem cerveja, please... e fomos para a Lagoa queimar os pecados acumulados. Amém! Obrigado queridos amigos, vocês foram demais!!! Voltei zerado e com mais motivos para continuar amando o Rio. Pessoal de Brasília, me espere.


P.S.: Gabi, eu votei no Cristo, tá bom????

*Fotos de Bruno Cruz e MO

Monday, June 18, 2007

Cabeça em chamas


Um lugar nada bom para se estar neste momento é o meu cérebro. Não gostaria de estar na pele dos parasitas microscópicos que o habitam, pois lá dentro deve ser muito quente. Minha cabeça ferve há dias. Desde pouco antes de meu aniversário, foram poucos os momentos de concentração total.


Geralmente, meus pensamentos estão num lugar distinto de minhas ações. Na verdade, sempre foi assim. Na infância, meu pai sempre me acusava de estar “pensando na morte da bezerra”. Não tenho bois, nem vacas pelos quais chorar, mas além da ausência de minha filha, o excesso de trabalho e a grana curta, tenho pensado muito na forma como me relaciono com o mundo e as pessoas. Honestamente, é no que eu mais tenho pensado.


As paixonites vão e vem, mas ao pensar muito descubro que uma pessoa não me sai da cabeça e me sinto mal com a angústia causada pelo fato de que poderá demorar para encontrá-la de novo. Pior ainda pensar no fato que encontrá-la poderá não ser suficiente, como aconteceu no Rio. Foi maravilhoso vê-la, mesmo não tendo ficado a sós com ela, mas foi sofrido, tanto que da festa onde nos encontramos, saí para uma balada.


Precisava dançar, precisava pular, precisava beijar todas as bocas de mulher que sorrissem pra mim, precisava de água, precisava de fumaça. Precisava esquecer, mas não quero e não consigo, pois com ela sinto que a minha comunicação é total. Estivemos poucas vezes juntos, mas existe uma comunicação no olhar. É algo maior que eu e mais forte, bem mais forte. E eu já penso em dar um jeito sobre como estar com ela de novo e penso em arrumar um emprego na cidade dela, e começo a pensar novamente em sair de São Paulo, até porque a cidade dela me atrai.


Penso nela em tudo que vejo, em cada filme, em cada música. Acordo no meio da madrugada e tiro fotos, a partir da janela de casa, do sol nascendo, como essa aí do lado, meio noite, meio dia... Toda hora ela está presente de alguma forma.


Lamento pelas pessoas que estão perto de mim, pois eu estou longe delas. Muitas vezes, acabo sendo um escroto. Aproveito e peço perdão, principalmente para uma pessoa especial, muito legal, com a qual eu não estou sendo nem um pouco legal.


Agora terei uma semana de pausa. O trabalho será tão duro que sobrará pouco tempo para pensar. Já sabendo disso, preparei tudo relacionado ao aniversário da Isabella (dia 22 eu vou ao Paraná). Sequer andei de bicicleta no sábado e no domingo. Até na 25 de Março, que me assombra e assusta, eu fui, tudo para agradar a filhota. Até o dia 24 serei todo dela, mas depois do domingo que vem, eu já sei onde a minha cabeça estará, como um enfermeiro que tenta cochilar dentro da UTI.


É contraditório, eu sei, mas apesar da distância me causar dor, pensar nela me faz bem.


Frase da semana: “O que parece o céu para você, pode ser o inferno para mim”, do nóia que tentava dormir na esquina da Cincinato Braga com a Brigadeiro Luís Antonio.


Thursday, June 07, 2007

No Rio

Entrei no Rio ouvindo Cartola, que entrou no MP3 graças a amiga Lu (obrigado, Lu!!!). O ônibus voou rápido pela Dutra e às 11h eu já estava passando por Nova Iguaçu, depois Meriti, depois vislumbrei a igreja da Penha, Ramos, a p... do estádio de São Januário. 11h30, rodoviária e, logo depois, estava na casa do Bruno em Fátima.

E "agora vou seguir os conselhos de amigos", vou descansar, vou ler (vim lendo sobre Walt Whitman), ouvir música, beber um pouquinho, ver o pessoal daqui, curtir a Lapa, quem sabe Ipanema, ir no Museu de Arte Conteporânea, do Niemeyer, subir, finalmente, o Corcovado com sol... enfim, ser feliz.

Tuesday, May 29, 2007

Andando na Bela Vista

Tenho andado pelas ruas do novo bairro com olhos de criança. A Brigadeiro, a Treze de Maio, a Pedroso e a Vergueiro eu já conhecia mais ou menos bem, das idas ao Madame Satã, nos velhos tempos, e à Speranza. Mas agora aproveito o tempo para, de vez em quando, subir e descer pelas travessas e paralelas entre elas e vou me acostumando com o seu misto de decadência, destruição e beleza, ou às vezes tudo junto. São novos nomes para mim: Artur Prado, Martiniano de Carvalho, Monsenhor Passaláqua, Humaitá, Santo Amaro, Maria Marcolina, João Julião...


Subo e desço por esses nomes e vejo seu esplendor. Está no meu bairro a vista que hoje considero a mais bonita da cidade. A que se tem do viaduto Beneficência Portuguesa, olhando para a 23 de Maio, sentido Centro. Os bebedores de gasolina em seu frenético vai-e-vem, com um canteiro lindamente verde nesta época do ano ao centro e belíssimas e frondosas árvores do lado direito, ao fundo o prédio do Banespa... Antes gostava mais da vista sentido zona sul, com o Centro Cultural e a cúpula da Catedral Ortodoxa, como referência, mas o novo empreendimento imobiliário, medonho, bem na boca do Metrô Paraíso, estragou tudo.


Outro dia, tinha um compromisso e confundi a Vergueiro com a Liberdade e fui descendo pelas paralelas da Brigadeiro e da 23 até a Condessa de S. Joaquim. No caminho, descobri sem querer o convento das Carmelitas e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outro domingo, esperava encontrá-la aberta, mas depois da missa das 11h, ela só reabre às 18h30. Bastou ler a placa.


Aproveitei, desci e conheci a feira do bairro, na rua Santo Amaro, perto da Jaceguai (aquela do Silvio Santos e do Oficina). Provei o pastel, senti o cheiro das flores e vi as utilidades domésticas de última geração, como o desentupidor de pia que parece um câmbio de carro... Mas foi subindo a Brigadeiro pelo mão sentido Jardins que fiquei triste.


O belo hotel Danúbio, onde uma época funcionou o clube Base, está fechado. Suas cúpulas azuis, de inspiração bizantina, com acabamento feito com pequenos ladrilhos azuis e amarelos, parece que esperam que alguém as tome pela mão e cuide delas. Esse prédio precisa ser tombado, porque é lindo, como a pequena rua Adoniran Barbosa, de casas simétricas e coloridas...


Prefiro deixar a decadência da Brigadeiro de lado e volto para o lado de dentro e me deparo com a mais surpreendente construção. Uma típica vila italiana inteira, a Vila Itororó, entre a Maestro Cardim e a rua Martiniano de Carvalho, transformada num gigantesco cortiço e completamente abandonada. Uma grande casa, uma mansão típica dos tempos do café ou do início da industrialização paulistana, toma conta da paisagem. Na sua lateral, seis belíssimas colunas jônicas ou dóricas ornamentam o conjunto de fins do século XIX e seus rococós...


Olhando mais um pouco por cima do muro, me surpreendo mais ainda, pois uma rua de paralelepípedos lá embaixo termina no muro do terreno, crianças jogam bola, as roupas estão no varal, numa cena típica de Nápoles. Estava eu num filme italiano??? Não, estava em São Paulo, a cidade que eu escolhi para viver.


*****

Na mesma Bela Vista, também vou me acostumando com o comércio, seus costumes e seus horários. A pior e melhor coisa é o Extra. Ponto de convergência, costuma estar mais lotado depois da meia-noite, do que às 20h, mas a empresa do seu Diniz insiste em manter pouquíssimos funcionários na madruga. Resultado: filas enormes no caixa rápido do careiro supermercado, mas na Pedroso tem o Pão de Açúcar, que também fica aberto até tarde. O jeito é tentar a sorte por lá... É tudo caro mesmo, não é , seu Diniz??? Aliás, Carrefour, Wal-Mart, onde estão vocês, seus covardes??? Vamos quebrar esse monopólio!!!


Mas o bom mesmo do bairro é o Sacolão Brigadeiro, sob o viaduto Treze de Maio, que na verdade tem outro nome na placa: Armando Puglisi, o Armandinho do Bixiga, fundador do Vai-Vai, se não me engano... Bem, o pessoal do sacolão é muito legal. Você pede, eles dão um jeito e sempre tem o sorriso e simpatia da moça do caixa, que eu já descobri não se tratar de uma moça, mas de uma quase quarentona, mas ela não parece, pô... Tá sempre sorrindo!!!


Ontem descobri o padoca Dengosa, na Artur Prado, que serve sopa e pizzas num salão no andar superior, com um preço bem bacana e serve o honesto chopp Itaipava, que eu tomei com sopa, e muito bem acompanhado, o que dá muito certo no frio. E tem o bar em frente ao sacolão, o Dascanio, ou outro nome parecido (ainda estou me acostumando), com preços honestos, um dia tem chorinho com samba, outro dia Blues... Subindo mais um pouco tem a pizzaria Comilão, um segredo do bairro. É bom morar aqui, estou feliz.

Sunday, May 20, 2007

Transições (sonho, delírio e realidade)

"Não adianta amolar pensamento em pedra cega" (dito popular)

Pessoal, primeiro é preciso pedir desculpas. Andei meio sumido. Na verdade, estava por aí, mas tudo estava acontecendo muito rápido e os fatos se sucedendo tão sem tempo para uma digestão apropriada, que ainda não havia chegado a hora certa de falar. Acho que agora chegou.


As transições em minha vida este ano têm passado depressa. Primeiro, a mudança: missão cumprida e consolidada, inclusive com festa de inauguração devidamente realizada. Simultaneamente, tenho cuidado do meu corpo, sempre relegado a segundo plano. Comecei o RPG semana passada e tenho feito os alongamentos regularmente, o colesterol está sob controle com a dieta, o estômago também. As pedaladas continuam.


No plano financeiro (caralho, isso aqui está parecendo horóscopo da Claudia, mas beleza...), meu aniversário de 33 anos finalmente passou, o pedido de saque foi feito, amanhã o tutu deve estar na boca do caixa e o ar, enfim, começará a ficar mais leve de respirar e finalmente vou poder ajudar minha filha com o aparelho e visitar o Rio que tanto amo.


No plano familiar (gostei dessa forma de indexar as coisas), o relacionamento com minha filha está super amoroso. Me reconheço nela a todo momento, entretanto as visitas serão mais escassas (parte da transição financeira), mas serão de mais qualidade, eu prometo.


No amor, entretanto, a fase de transições continua. Depois de sonhar com uma moça que começou a namorar no dia que a conheci e com outra que vai embora semana que vem, o interesse migrou para uma baixinha (mais uma baixinha: do opposites attract?) atraído por um scrap e um comentário no meu blog que mexeram comigo e me seduziram.


Foram dias mirando o objetivo até que ele foi alcançado. Entre cigarros e cervejas, cervejas e cigarros, os beijos vieram, depois... Bem, depois ela acordou, levantou, foi embora e eu fiquei gamado, querendo que tudo acontecesse de novo. Muitas conversas depois o de novo não veio e lá fui eu na despedida da moça que vai embora e ela apareceu com outro cara.


Não soube suportar a minha decepção com ela, mas também a minha ansiedade, meus delírios que criaram expectativas desnecessárias e exageradas. Perdeu, Zoydinho, perdeu...


E assim o mundo gira e a lusitana roda. Uma semana depois lá estava eu numa baladinha que eu nunca tinha ido na vida e sou devidamente apresentado a uma garota genial, super simples e simpática, cuja vida também já teve uns turnovers básicos... e rolou um clique. E era real, humano, quente e terno. Parece o fim de uma era confusa e o começo de outra, mais relaxada e tranqüila.

Sunday, May 06, 2007

O Fim da Virada

“Além do horizonte existe um lugar bonito e tranqüilo pra gente se amar” (Roberto/Erasmo Carlos)


Tive uma Virada Cultural maravilhosa. Minha jornada começou às 20h de sábado e terminou às 8h de domingo. Doze horas de música, dança, cantoria e muita paz.


Vi a Exposição da Clarice Lispector, no Museu da Língua Portuguesa, em paz e sem fila, pude ver quase todas as gavetas, assistir à entrevista dela, olhar, sentir, curtir o indizível que Clarice era especialista em dizer.


Depois fui ver Sergio Dias, dos Mutantes, em show solo. Chatices progressivas e virtuosismo à parte, ele provou ser um excelente vocalista, além de muito bom guitarrista. Depois de cantar uma música chatíssima em que dizia não gostar de samba e ser doente do pé, Sergio levou uma versão antológica de “Balada do Louco” e depois o samba “Minha Menina”, de Ben, no bis. Gostosa contradição, como São Paulo e como a Virada.


Em seguida, curti o Clube do Balanço, tendo como convidado Erasmo Carlos. Apesar de um bêbado pentelhérrimo atrás de mim e puxando papo, curti o show ao lado de um pessoal super bacana de Osasco, que dançava muito. Fui abençoado por uma apresentação sublime e classuda do vice-rei do Brasil, que abriu sua participação com “Coqueiro Verde”. Após um discurso banhado de otimismo: “o sentido da arte é o amor e esse tipo de evento confirma que a gente ainda tem a ousadia de imaginar coisas utópicas: a arte capaz de deter a violência”, Erasmo cantou “Além do Horizonte”, sem saber o que viria depois.


Dali ainda tentei ver o Jards Macalé no Municipal, mas a fila estava impossível e encontrei e confraternizei com vários amigos. Fiquei ouvindo o show na escadaria com a amiga Fabi e dali fomos todos ver o Gerson King Combo mandar ver seus “Mandamentos Black”, com uma participação especial de Lady Lu, mãe do guitarrista de sua banda, também num clima de paz: "se você conhece alguém que gosta de arrumar briga, manda ele arrumar mulher", simplificou o irmão de Getúlio Cortes.


Encerrei a noite com o Beatles 4Ever fazendo um show de hits dos Beatles, quando estava previsto que fosse tocado a íntegra do Magical Mistery Tour. Mas foi razoável, Rampazzo realmente interpreta Harrison perfeitamente. “While My Guitar Gently Weeps” e “Something” foram algo acima da média para uma banda cover. O resto do show foi insosso, qual o meu estado físico às 7h15.


Tava tudo bem, tudo ótimo, mas pertinho dali, na praça da Sé, nem imaginava eu (quer dizer, eu imaginava antes de a Virada acontecer que o show deles seria um problema, mas, vou me reservar a não comentar, pois no meio da paz em que estava, não conseguia pensar neles) fãs dos Racionais MCs e a PM entraram em confronto (leia um relato sobre o tumulto, clicando aqui). A tenda de Eletrônico da XV de Novembro teve que parar suas atividades e a rua foi depredada, pois a PM “limpou” a praça e o tumulto se espalhou. Mais uma vez, a PM de São Paulo prova não saber lidar com situações de confronto e um certo diabinho dentro de nós fica pensando se é possível o mundo dos Racionais caber no “nosso” mundo, mas isso é odioso só de pensar.


Só sei que cheguei em casa satisfeito e feliz, mas acordei triste com as notícias. Para ajudar, ao mesmo tempo chega a notícia de que o jornalista que denunciou o caso dos vereadores pedófilos de Porto Ferreira foi assassinado de forma covarde e que Sarkozy e seu facismo venceram a eleição francesa. Notícias nada alvissareiras. Acho que o sonho de Roberto e Erasmo só vai se concretizar depois da geração dos meus netos, se ainda houver mundo até lá.

Friday, May 04, 2007

Um assalto, muita sorte, uma conversa fascinante, um B.O. e um beijo

Foi depois da festa do Agora que eu fui assaltado. Caminhava para o ponto de ônibus da Amaral Gurgel para pegar o ônibus de volta pra casa. Segui pela Major Sertório, pois sempre andei por ali de madrugada. Olhava as “damas da noite” quando fui cercado por dois jovens que me seguraram e levaram a carteira, o relógio e o celular, aquele imprestável.


Logo depois passou uma viatura da PM, que deu uma volta de dois minutos no quarteirão, mas os ladrões já tinham pinoteado e já deviam estar pensando em como transformar meu relógio querido e meu celular odiado em pedras de crack. Como sempre, não havia dinheiro na carteira. Não fui ferido. Por estar levemente alcoolizado não esbocei nenhuma reação e não tive raiva de nenhuma espécie. Foi a primeira vez que fui assaltado em São Paulo após 11 anos na cidade.


Só fiquei bem sentido, pois o relógio era de muita estimação. É um dos presentes mais marcantes que ganhei de meu pai. Foi o prêmio pela formatura em jornalismo, em 1996. Significou muito pra mim porque me mostrou que meu pai, independente das ressalvas que tinha sobre a minha profissão (ele queria que eu me formasse em direito), tinha orgulho daquele pequeno sucesso, muito mais dele do que meu. Afinal ele havia conseguido formar o filho mais velho dele, que tinha um diploma que ele não tinha. E meu pai não tinha inveja disso, tinha orgulho.


Mas alguém lá em cima provou mais uma vez que gosta muito de mim. Todos os meus documentos e lembranças (fotos da Isabella, papeizinhos, anotações que eu guardava na carteira) foram encontrados na Rêgo Freitas. A família que guardou minhas coisas mora numa casa simples em Heliópolis e lá fui buscar os documentos à tarde. Ofereci, de coração, uma recompensa, mas dona Gisleine disse que não era necessário e que ela tinha obrigação de fazer o possível para ajudar. Fez mais que o possível. Encontrou o telefone de um amigo anotado num papel, ligou para ele e Claudio me ligou avisando da novidade.


Ao fim da jornada estava esgotado e havia praticamente perdido o dia de trabalho, mas estava feliz por ser tão abençoado. Pude dedicar-me a conversar com N, que estava meio downzinha. Ela é uma garota fascinante que se abre lindamente como uma flor que está desabrochando, que compartilha sentimentos e tem olhos faiscantes que eu teimava em achar que eram azuis, mas não são. Nós falamos bastante e sobre quase tudo. Ela mexe comigo. Me convidou para um típico lugar que eu não iria nunca, mas eu vou só porque quero vê-la. Quero estar mais perto dela, quero conhecê-la mais. N, você brilha e eu quero um pouquinho da sua luz, mesmo você defendendo a pós-modernidade, que eu não acredito existir.


Entretanto, um sorriso no ônibus na volta do DP (pois é, ainda arrumei tempo para fazer o B.O. do assalto) me fez começar a crer na pós-modernidade. Supostamente chamada Bel, supostamente de 25 anos, supostamente publicitária, Bel estava bebinha e sorriu após cambalear e quase cair o corredor do ônibus. Como parecia que ela cairia fiquei preocupado. Ela seguia para o mesmo lado que eu, trocamos olhares e sorrisos e começamos a conversar. Tivemos ainda mais 15 minutos de um papo muito louco, mas que senti ser verdadeiro. Ela me fez prometer que se eu a visse de novo que não falasse com ela e que eu não pedisse o telefone dela. “Gosto de ser e não de ter”, foi como ela justificou. Será essa a pós-modernidade? Cumpri minha promessa e ela disse que ela era a (personagem principal de..) Doce Novembro e pediu fervorosamente: “assista”. Vou assistir.


Escoltei a bela e cambaleante Bel até o ponto de ônibus onde ela pegaria a conexão para sua casa supostamente nos Jardins e meu dia muito louco acabou com um beijo com gosto muito bom de cigarro e cerveja. Foi nossa primeira e última vez e foi ótimo, uma história completa em 20 minutos. Se todos os dias, os seres humanos tivessem 20 minutos de qualidade, como os que tive com N e com Bel, a vida de todos nós seria muito melhor e jovens pobres talvez não precisassem roubar. Como disse o cobrador do ônibus: sem amor, gentileza e educação, a vida não tem sentido.

Thursday, May 03, 2007

Continuando a matar a auto-negligência

“Sua coluna é um caso sério, como é que você nunca fez nada por ela até hoje?”.

“Provavelmente, mais pra frente, se você não fizer nada, você vai ter que operar essa coluna”.

“Teu alongamento é zero”.

“Você tem uma vértebra mal desenvolvida, o que é comum em casos de artrose”.

“Essa dor no seu quadril é bursite ou tendinite e a outra, irradiada, ciático. Sua bacia é pequena para o tamanho do seu corpo e aí os músculos da região ficam mais alongados que o normal (será essa a origem do meu rebolado à la Windsor?)”.

“Sua perna direita é levemente maior que a esquerda”.

“Vale a pena você investir em você, faz umas sessões de RPG”.

“A impressão que dá é que você resolveu cuidar de você de uns tempos para cá”.

Todas as frases são verdadeiras e o pior é que eu já sabia tudo isso (menos o lance da bacia e da perna menor que a outra). E, apesar dos pesares, estou orgulhoso das última frase do médico. Queria ou não, no último ano e meio, desde a cirurgia, eu tenho cuidado melhor de mim.

Mas foi um choque, mesmo assim, ouvir todo esse rosário do ortopedista. Pra mim, elas (as frases) são a prova capital que palavras bem colocadas têm um poder enorme sobre o ser humano. Se o meu médico fosse um bundão, provavelmente o que ele disse entraria por um lado e sairia por outro, mas este dr. Angeli, tão contundente quanto o cartunista, deu o tiro de misericórdia na minha preguiça e na minha resignação. Chegou a hora de cuidar de mim, obrigado. Vou fazer RPG em breve. É só sair aquela bufunfa.

Esse foi o começo do meu dia, nada alvissareiro, exceto por uma passagem, sem querer, ao errar o caminho do consultório, pela magnífica fachada da igreja de Nossa Senhora do Carmo (nenhuma carolice aqui, só admiração), a das irmãs carmelitas, coisa linda, linda de morrer. Um amarelo pálido em meio a um céu azul promissor de ontem de manhã.

O dia seguiu, sobrevivi, fui tocando, outras coisas saíram, pessoas novas vieram conversar (tô falando de você, futura ex-loira...) e Isabella me deu duas provas de sua fibra, da altura de seus cinco anos (quase seis, quase seis). Ela se comportou super bem no teste do aparelho móvel e aceitou resignada (explico mais pra frente porque isso é bom) que o aniversário dela não vai ser no McDonalds.

Não há nenhum anticapitalismo aqui. Minha luta por uma comida mais natural e saudável (que não é só minha, amém), me faz levar a Isabella raramente ao Mc, e por isso concordei que ela poderia ter uma festa de aniversário lá, porque festa é exceção, como era a Coca-Cola lá em casa, “nos idos de 63”, mas o Mc de Maringá parou de oferecer o serviço e melou todo nosso esquema. Orientada por mim, a mãe dela deu outras sugestões e falou a real para a Isabella, que entendeu (um sinal de maturidade). Ela terá uma festa alternativa e com a presença deste escriba em pessoa.

Saturday, April 28, 2007

Chegou a hora do acerto de contas

Com a renda carcomida por pilhas de dívidas chegou a hora de encarar o acerto de contas. Faltam apenas alguns dias para, enfim, saber novamente como é respirar. Isto acontecerá um dia depois do meu aniversário, será meu presente para mim mesmo. O mergulho nas mais diversas sensações dionísicas foi intenso, mas agora não dá mais. Nos próximos 15 dias, sai o prazer fútil em busca do desconhecido, entra o encontro terrível comigo mesmo_ o que nem sempre é prazeroso.


O choque final aconteceu dia 25. Minha filha foi ao dentista e ela precisa de um aparelho. E eu não tenho um centavo para ajudar neste momento. Isso me jogou no chão com violência, como o tombo daquele outro dia. Fiquei mal, me sentindo um merda... Peguei meu cartão de crédito e o parti em dois. Pô, se me chamam para uma balada eu vou, por que posso pagar no cartão. Se minha filha precisa de dinheiro vivo para o aparelho eu não tenho.


Que vida é essa na qual usufruo de crédito, mesmo sem ter dinheiro vivo? É uma espiral sem fim, da qual começarei a me livrar mês que vem, quando, finalmente, terei direito a um dinheiro que é meu, mas que o Estado precisa emprestado para financiar casas. Coisas do Estado. Foi ruim para mim, mas é justo que o sistema seja assim. De alguma forma, esse país de endividados tem que tentar poupar.


Tenho condições de buscar prazer de outras formas e vou encontrá-lo, sem gastar um centavo. Há uma pilha de livros e CDs na minha sala que sempre quis ler e escutar e agora chegou a hora, até porque “la piazza e mia!!!!!!!!”. Tem Talese, Gaspari, Paulo Cesar Araújo, mais Safran Foer, Hornby, tem Los Hermanos, Nara Leão, Erasmo, rock inglês que eu não ouvi, um monte de filmes que não assisti... E se o frio deixar tem a bicicleta também. Fred está viajando, Marcos sumiu e eu vou ficar aqui sozinho este feriado, acertando as contas comigo mesmo. Alguém quer vir?

Wednesday, April 18, 2007

Do que somos feitos?

No último dia 4 havia chegado a hora de pegar o ônibus de novo. Após dez horas de estrada e um descanso fuleiro no sempre confortável Íbis Maringá havia chegado a hora da surpresa. Encontrei minha filha na entrada da escola, como todo pai deve ter o direito de encontrar e ela me recebeu com um sorriso banguela enorme.

Como todo pai deve, conheci cada centímetro daquele lugar apresentado pela minha própria filha, com suas palavras, de incontida satisfação e com toda a espontaneidade. Como todo pai deve, conheci a professora da minha filha. Isabella adora o lugar, eu também.

Dali em diante, passamos quatro dias juntos, como sempre gostamos de passar: passeando em parques, indo ao cinema, jantando e almoçando em restaurantes, brincando (sua nova mania é jogar forca), desenhando, ouvindo e escutando muitos “eu te amo”.

A vida não precisa ser perfeita. Talvez ela ainda estivesse em São Paulo e o tempo que passaríamos juntos poderia não ser de qualidade. A vida precisa ser como é, mas nós temos que transformar cada momento em algo importante, como nas pedaladas na Bela Vista ao som de Modern Times, do Dylan, no MP3, olhando as antiguidades da feirinha do Bixiga. Ou seja, precisamos nos adaptar e fazer as coisas se encaixarem.

Entretanto, há momentos em que não resistimos e nos quais descobrimos do que somos feitos, e choramos, mesmo em meio a toda a alegria.

Fomos assistir juntos à “Família do Futuro”, da Disney. Não sabia que seria tão emocionante. Garoto órfão e muito CDF resolve inventar uma máquina para voltar no tempo para conhecer a mãe biológica que o havia abandonado na porta do orfanato. Futuro e passado se encontram numa trama simples e inocente, mas cativante.

Descobrimos que somos feitos dos mesmos tecidos, com algumas diferenças, claro, mas descobrimos. Rapidamente, a história do garoto sem pai, nem mãe, que é acolhido no futuro por uma bela família, nos soava retumbantemente nossa e começamos a chorar, quase ao mesmo tempo, como choro agora, escrevendo e ouvindo um velho disco. Éramos nós na tela, mas estávamos ali de novo, abraçados, no escuro do cinema, como nós sempre fizemos e sempre faremos.

Os amigos têm vindo

Após uma noite de sexta-feira de muito álcool, risadas, conversas profundas com uma pessoa linda e intrigante que nasceu no mesmo dia que eu, dança delirante ao som de Beatles e Stones e gostosos beijos roubados e perdidos, veio o sábado.

Não sei quantas latas de cerveja, doze garrafas de Original, várias Paulaners, e uns petiscos. Seria esta a receita de uma tarde perfeita de sábado? Não sei, só sei que alguns de nossos amigos queridos vieram e se divertiram. Contei a história da minha medalha ganha numa regata como contrapeso e todos riram.

Ah, se eles soubessem dos mistérios do mar... O garoto da praia sou eu também. Posso não levar jeito, mas o mar e a praia estão no meu DNA e a minha medalha também, que é minha e tão merecida como as pintas espalhadas pelo meu corpo. Mas todos rimos da minha história, inclusive eu, pois realmente não deixa de ser curioso eu ter ganho uma medalha esportiva justo quando estava gordo. Na época, em 2005, eu pesava 95kg. Agora, 82kg.

Depois de uma noite perdida de sábado, perdida mesmo... veio o domingo, o Massa, o frango na brasa, o sono atrasado, o trem para Itaquera, o trampo, feliz, com o amigo, ao som do vizinho dele cantando as canções que o Rei fez para mim, pra vocês, pra todos nós. Então chegou o grande amigo Mauro, trazendo o sotaque de Santos que eu não tenho mais e a esperança de um novo trampo.

E enfim, Mauro e Marcos Sergio se conheceram e todos nós conhecemos, sem querer, o Amigo Sushi, um restaurante que vale a pena conhecer. A única coisa que eu tenho a dizer é: vão lá. Avenida da Liberdade, 607, todos os dias aberto para o jantar até as 3h, exceto terça-feira. Tem o melhor sashimi que eu já comi na vida e é barato.

E pelo MSN, um último registro. Finalmente conversamos tudo que precisávamos, eu e a garota da praia. E foi muito bom. Ela está feliz agora, eu estou tentando. E seremos amigos.

Os dois últimos posts foram escritos ao som do belíssimo “Into The Great Wide Open”, de Tom Petty and Heartbreakers, em breve no resenhas.

Sunday, April 01, 2007

Velhos discos, novas sensações

Aos poucos o apê é cada vez mais um lar. O time agora está completo. MS chegou, foi recebido com farofa e galinha e trouxe a vitrolinha na qual tenho ouvido meus velhos vinis (o auge se deu na manhã de domingo, com o Sticky Fingers, dos Stones, estourando os tímpanos).


Ao mesmo tempo em que revirava minha adolescência, o novo se fez presente. No sábado, almoço no chinês da Umberto I com as novas amigas da Aclimação e o círculo vai se aumentando. Elas conhecem pessoas que eu conheço e amo em Bauru, velhos amigos, novas conexões. As conversas vão nos aproximando, gostam de lugares que eu gosto. Tudo prova que somos todos da mesma tribo humana.


À noite, a nova velha amiga Sha me apresentou, enfim, o idch. Lugar lindo, quadros lindos, bebidas deliciosas, som black amador, oscilante, com bons e maus momentos, mas valeu a pena. Volto para casa de madrugada, à pé. Tudo continua tão perto... Os amigos estavam acordados> Demorei a dormir, ansioso pelo dia seguinte, pois veria minha irmã após três meses.


Acordei cedo, comprei frutas e fui andar de bike e consegui subir a Brigadeiro parando apenas duas vezes, num semáforo e para tomar uma água. O sol estava escaldante e eu estava orgulhoso e feliz. Mana chegou com o simpático Andrés e fomos ao Halim, um restaurante/lanchonete árabe excelente, no Paraíso, na rua Rafael de Barros. Se você for, peça uma picanha de carneiro por mim e um uzzi_ que é uma comida quase inexplicável de tão boa. Outro hit é a esfiha fechada de ricota, um espetáculo.


De lá, fomos ao Centro Cultural, na Vergueiro, tudo a pé. Pela primeira vez na vida, veria um show de Zé Geraldo, de quem só conhecia uma ou duas músicas, no máximo, mas era um compromisso com os amigos de Santos. Que felicidade dá ver um cara tão feliz quanto ele no palco. Músicas novas com muito a dizer, como “Porra, Mano!” e velhos clássicos como “Senhorita”.


Mais uma vez o velho e o novo. Músicas antigas de um artista renovado, velhas amizades rejuvenescidas, algumas delas já com 23 anos, como o Fábio, que foi meu colega na 3a série do fundamental!!! Depois mostrei, orgulhoso, a casa nova para os amigos, e daqui descemos até a Lazzarella, no Bixiga, novidade para eles, um clássico para mim.

Monday, March 26, 2007

Censurar todos se atrevem

“Negue que me pertenceu

Que eu mostro a boca molhada

Ainda marcada pelo beijo seu...”


  • - Base chamando Supervisão. QRU na escadaria. Copia? Uma mulher, do sexo feminino, de cor parda, está subindo do Piso Paulista para o piso superior, cantando. Copia?

  • - Tá fazendo o quê?

  • - Cantando, chefe, cantando.

  • - Continue monitorando pelas câmeras. Vou consultar o regulamento. Aguarde por novas instruções.


Cinco minutos depois...

  • - Tem nada não, colega. Nada consta no regulamento. A mulher pode cantar à vontade, compreendido? Você já pediu o vale este mês? O último dia é hoje. Quanto você vai querer?

  • - Uns 600 paus, beleza?

  • - Beleza, amigão.

Imaginei esse diálogo hoje à noite quando voltava para casa. Uma mulher cantava lindamente enquanto subia uma escada do Top Center.

Cada vez mais acho que qualquer ato ou comportamento mais transgressor ou fora do padrão, por menor que seja, como a da mulher que cantava, é visto com temor pelos seguranças da vida _e olha que nem todos eles ganham merreca, vestem preto, azul marinho ou cinza e são PMs fazendo bico. Assim como nem toda censura termina quando aquele que puxou o assunto é interrompido por um tema mais interessante, como os 600 paus aí de cima.


Tenho tido bastante tempo para pensar na forma como me relaciono com as pessoas, ou melhor, como me relacionava no passado e como me relaciono hoje, e a conclusão a que chego é que sempre é melhor para mim quando eu estou apaixonado. Qual o problema de se apaixonar? Sou feliz me apaixonando. Eu adoro me apaixonar.


A onda pode ser bem curta, como o barulho que faz o seixo arremessado num certo ângulo contra um lago. Pode ser também uma onda loucurinha um pouco mais longa, como uma pedra jogada num balde de metal, em que primeiro vem o “glup” e depois o “tóin”. Ou pode ser uma viagem maravilhosa, dividida em várias fases , com direito a flashbacks, ausências por períodos indeterminados, etc.


Tenho sido censurado nos últimos dias por “pensar com o pau”, como disse uma ex-amiga e por “não me valorizar” ou até por ter sido menos homem do que o normal, como preferem uma ex-namorada e uma amiga. São bons conselhos, prometo pensar neles, mas não mais do que o tanto que penso cada vez que minha irmã pede para que eu vá ao centro espírita, mas, putaquipariu, qual o problema em me apaixonar?


Sabe. Não quero daqui 40 anos ser um septuagenário amargurado como meu ex-barbeiro. Uma desilusão amorosa na vida e as mulheres, para ele, viraram uma caricatura abominável e, como saldo, restou uma equação em que a casa dele é a barbearia e os amigos, os clientes. E não falo em sentido figurado.


Também não quero trocar o dia pela noite, como o gente finíssima do sapateiro da Joaquim Eugênio, que fez furos novos nos meus cintos de graça, pois “nunca cobrou por esse tipo de serviço”. E muito menos quero repetir esquemas a vida toda, como meu pai. Ele mora sozinho há quase dez anos, mas tem duas geladeiras e as enche como se todos nós ainda estivéssemos lá em casa.

Caramba, será que não tem uma mulher no mundo que goste de se apaixonar e curtir esse prazer com outra pessoa e ser feliz? Ou eu vou ter que virar outra pessoa?


EU GOSTO DE QUEM EU SOU. E GOSTO DE ME APAIXONAR, AINDA QUE SEJA TODA SEMANA.



Sunday, March 25, 2007

Let´s Get It On?

A conversa no MSN estava animada no final do expediente. Conversa vai, conversa vem, T. me chama para encontrá-la na Choperia Liberdade, onde estaria celebrando a despedida de uma amiga. Estaria com amigos logo mais, mas pensei, “eu levo eles lá, oras”. A havia conhecido através de uma amiga e gostei de cara. Além de linda, gosta de comédias, black music, tem um humor ótimo e uma risada deliciosa.


Na conversa prévia fiz questão de pedir para dançar com ela. E realizar isso foi um sonho. Japa Wonder, um personagem incrível que freqüenta a choperia e tem uma voz negra incrível, cantou “Let´s Get it On”, de Marvin Gaye. Tirei T. para dançar. Não havia muito o que dizer na hora, apenas demonstrar, ao sentir aquele corpo e aquele perfume (ótimo) de pertinho.


Como é bom! Todos os seres humanos deveriam ter o direito básico de dançar agarradinho com alguém tão bonito _deveria haver um artigo na Declaração Universal dos Direitos do Homem: “todo homem tem direito a dançar com uma mulher linda uma vez por ano”. Mas com você, T., eu achei muito especial e eu gostaria de sentir isso mais vezes. Quero dançar de novo com você.
A coletânea com Barry White tá aqui esperando...


Concebido enquanto ouvia a coletânea Black Files Volume 1, que tem “Never Gonna Give Ya Up”, do Barry White, a música preferida da T. na última sexta-feira. Concluído ao som de “Last Goodbye”, a minha preferida de Jeff Buckley.

Thursday, March 22, 2007

A vida é feita de sonho e fúria

Eu sei, eu sei. Não é essa a frase, mas é isso mesmo. É uma parafrase. Parto de uma idéia anterior e a adapto, para compreender um momento meu. Com o acaso do jogo de palavras, encontro inspiração para me entender. E é isso: pra mim, a vida anteontem ou "trásanteontem" foi feita de sonho e fúria.


O fim do sonho e o início da fúria aconteceram no mesmo momento, logo depois da febre que me acometeu após a queda cinematográfica deste humilde escriba na rua da Consolação. Era como se não houvesse consolo para mim ou se o consolo fosse o chão.


Aquele tombo, finalmente, fez que eu voltasse a mim. O sonho acabou. E eu não precisei da Yoko!!! Foi quase um ano de sonho, mais uma paixão problemática, mais uma vez a coisa andava de um lado só, tudo eu, tudo eu. Eu investindo, eu querendo, eu ligando, eu (quase) nunca sendo atendido, ou sempre com o clássico “não posso falar com você agora”. Para mim, ela não tinha tempo e eu sempre tive tempo para ela: almoço de duas horas para dar conselhos, ler textos, dar pitacos profissionais, etc.


No Carnaval, depois do que ela fez, qualquer ser humano normal teria sentido a ficha cair. Foram quatro dias à espera dela, ligando que nem louco para saber onde ela estava. Quando conseguimos falar, já depois do Carnaval, disse que havia ligado muito para ela, pois “sou muito ansioso e queria saber onde ela estava para...”. “Ansiedade você trata com terapia. Não tenho nada a ver com isso...”. Vai tomar no cu, pensei, se ela não tem nada a ver com a minha ansiedade, com o desejo que tinha por ela, ela não tem nada a ver comigo. Mas não disse nada. Calei.


Calei e ainda fui atrás! Onde eu estava com a cabeça?! O créme de la créme foi no aniversário dela, no qual ela me tratou com o desdém habitual que, finalmente, eu enxerguei. Mas nesse mesmo dia eu vi uma pessoa bacana e ela soube que me interessei e ficou puta comigo. Marcar território que não é seu, como um Soláno López em busca do Mar? Nunca fui dela, nem na mais remota ocasião. Me mandou um e-mail despeitado, teve resposta a altura e agora venho aqui devidamente exumá-la.

Mas me dêem licença, agora só faltam 14 dias para eu estar com minha filha. Tchau, ex-paixão. Já vai tarde!


Lendo Safran Foer, ouvindo Paralamas, Jorge Ben e Beethoven...

Tuesday, March 20, 2007

Wireless news

"Senhoras e senhores, trago boasssss novassss/Eu viiii a cara da morrrte e ela estava viva"(Cazuza)

Agradeço ao ar todos os dias por nos trazer o sinal de internet wireless de cada dia que me permitirá blogar com mais assiduidade, agradeço também às empresas e pessoas físicas que não trancam seus sinais. Com cerca de 5,5 mbps eu consigo atualizar posts, responder scraps do orkut e e-mails. E já consegui postar no resenhas e agora estou postando aqui. Conexões lentas dão mais tempo para pensar.

Já estou instalado na casa nova, que está ótima. Pintaram o banheiro ontem e ela está um luxo só. Recebemos as primeiras visitas domingo, MS vem aí esta semana. Nem os 12 trabalhos de hércules de cada dia vão me incomodar, nem as festas estranhas e os encontros casuais de concorrentes, nem tombos sensacionais na rua da Consolação. Nada vai me impedir. Agora eu quero a Páscoa e abraçar a minha filha!!!

Monday, March 12, 2007

Atualizando: uma semana depois

É gente, muita coisa se passou nessa semana. Em primeiro lugar, está tudo certo: vou me mudar para a Bela Vista no sábado. A Aclimação deixa saudades, vou visitar o bairro sempre, pois fiz novos amigos lá, mas a adaptação é necessária. Aprender a dividir, a compartilhar, deixar de ser maníaco... Além da economia que terei, acho que tudo virá a calhar. O lugar é muito perto do meu trabalho. São 20 minutos para ir (subida), uns 15 minutos para voltar (descida).

Sai da paisagem o Ipê Roxo e os pardais, entram a vista de uma piscina recheada de beldades e as torres da Catedral da Sé. O Ibirapuera ficou um pouco mais longe, mas outro dos meus all-time favorites, o centro de São Paulo, ficou mais perto ainda. Sai o banheiro velho, entra um novinho em folha, com box e ducha. Saem os fantasmas e a síndica mala, entram o Fred e o Marcos Sergio.

Bem, como vocês sabem, eu sou um pouquinho ansioso e já não estou conseguindo dormir direito. A mudança já está contratada para sábado, mas a preocupação com o maldito e inútil encaixotamento das coisas me irrita, fora a tensão de ter que tentar vender umas coisas antes de mudar (tenho dois armários de cozinha, uma escrivaninha e um capacete para vender. Alguém se habilita?). Sempre acho que posso perder algo. Mas essa hora de revisão é muito boa. Hora de dispensar um monte de coisa inútil.

Bem, agora é só rezar para o sofá caber no elevador.

Mas de volta ao mundo terreno, o Flamengo foi campeão. Derrubou o Madureira por 4 x 1, jogando como um time grande deve jogar.

Outra coisa, a gente vai estar sem sinal de TV no sábado. Alguém se habilitaria a deixar zoydinho assistir ao GP da Austrália de F-1, abertura de uma temporada de F-1 que promete ser a melhor de todos os tempos???

Monday, March 05, 2007

Há novidades...

Estou menos triste.

Minha filha é oficialmente uma banguela. Ela perdeu o primeiro dentinho de leite. Reza a lenda que o primeiro dente a cair, foi a primeiro que nasceu.

Conheci gente nova na balada. Detalhe, é da vizinhança. E é um amorzinho.

Achamos "o" apê.

Estive essa semana com amigos queridos, convivi com eles, conversei com eles. Terça, quinta e sexta foram dias de muito trabalho, mas simplesmente perfeitos graças a vocês.

Continuo tomando foras, mas eles doem menos agora.

Uma pessoa do passado recente, que está longe, deixou mensagens carinhosas e de conforto, mas a lembrança que eu tenho dessa pessoa ainda é majoritariamente triste. Adoro conversar com ela, mas adorava muito mais todo o resto. Foi uma época muito especial.

Dei um soco no capô de um Corolla que quase me atropelou na calçada outro dia. Confesso que se eu tivesse um martelo ou um coturno teria obtido uma realização pessoal.

Tem U2 no blog de música.

Mas o Flamengo tinha que perder para o Madureira? Fuck!

Tuesday, February 20, 2007

Felicidade: onde está?

“A felicidade não deve ser confundida com necessidade nem com prazer. O prazer nasce e acaba. Felicidade é um prazer que nem nasceu nem acabará. É o estado da verdade dentro de nós. É o que você é agora. Não está ligada ao desejo, nem ao tempo. É o prazer eterno. Não tem opostos. É o real em nós. É nossa essência.” Professor Hermógenes

Minha crise física, econômica e emocional atual têm me levado a pensar bastante. Mais do que nunca, mais do que em toda minha adolescência, mais do que na minha infância quase toda infeliz, nunca pensei tanto. Decidi, em meio ao choque causado pelo tédio, raiva e desilusão (leiam os posts: "Fui gongado e comprei uma bike" e outros anteriores), bem no meio das minhas férias, a iniciar o que eu chamo de “terapia de choque”.

Tenho buscado conforto na busca por saúde, andando de bike sempre que posso e observando o mais rigorosamente possível minha dieta. A solidão eu tenho procurado substituir socializando ao máximo, ligado para os amigos e amigas, procurando estar presente, tentando conhecer gente nova sem me forçar. A paz eu tenho buscado nos livros, revistas e filmes.

Uma leitura e um filme tocaram de forma diferente em um assunto difícil de lidar e sobre o qual é muito difícil encontrar as palavras certas: felicidade. Na última revista Trip, cujo tema é “O Corpo”_ um dos 12 pontos que a revista elenca como fundamentais para que encontremos a felicidade e sobre os quais a publicação tem se debruçado há um ano e meio, num respeito inexorável a suas próprias metas e ao leitor jamais vistos no mercado editorial brasileiro_ me deparei com um personagem impressionante, Hermógenes, potiguar, 85 anos, ex-militar, difusor da ioga no Brasil, autor da frase acima.

Com um simples clique, um simples toque, vou incluir mais um ponto na minha terapia alternativa: independentemente da minha busca pelos amigos, na minha fé no ser humano, na minha busca pelo encontro, pelo amor, não vou mais buscar a felicidade nos outros. Tenho que encontrá-la em mim.

Não posso mais depender que a presença de alguém se torne essencial para que eu possa sorrir. Não posso mais ficar angustiado à espera do telefonema prometido. Se eu estiver angustiado, eu vou ligar. Se eu tiver que ir do ponto A até o ponto B e estiver chovendo canivetes. Vou caminhar entre o ponto A e B. Acabou. O que tiver de ser feito, será feito. Vou atender somente aos meus dois principais patrões, muitas vezes incoerentes: meu coração e meu cérebro.

O filme que me tocou foi “Pergunte ao Pó”, baseado no livro homônimo de John Fante (vou ler, na tradução do Leminski, eu prometo!!). Num determinado momento, quando está todo fodido, Bandini, o herói, procura por Vera Rifkin, uma moça que sofreu uma queimadura grave e foi abandonada pelo marido. Em certo momento, eles tem uma discussão rápida e ela pergunta o que ele estava fazendo ali, de fato. E ele dispara: “Tudo que eu queria hoje é fazer alguém feliz”.

Inúmeras vezes em minha vida senti a mesma coisa. Muitas vezes quando a gente está um lixo, o sorriso do outro é suficiente para que fiquemos autenticamente felizes. Às vezes, basta só uma palavra. Outras vezes, são necessárias mais palavras, outras vezes mais ações. Uma coisa que me faria feliz seria ver minha filha agora, mas não é possível. Outro dia ela me pediu que eu começasse a guardar os troquinhos do pão e fosse juntando para que pudesse vê-la no Carnaval.

Infelizmente, não é esse o caso. Os 700 km entre e São Paulo e Maringá estão cada vez mais longos, maiores, espessados, envoltos em névoa. Não posso ir, é razoavelmente impossível. Mas eu vou no próximo feriado, terei cinco dias para ficar com ela. Na verdade, não poderia e não deveria ir também no próximo feriado, mas preciso ir. Tenho que ir, afinal ela já tem o ingresso do Ody Park. Quero ir pelo menos uma vez em cada semestre, além das férias de julho e dezembro. Gostaria muito que a mãe dela pudesse trazê-la de vez em quando, mas não vou morrer esperando por isso.

Hoje liguei para ela. Nossa conversa se resumiu a três frases. Ela disse que estava me esperando e que estava com o ingresso do parque aquático. Não deu nem tempo de perguntar como ela estava. Ela estava vendo um desenho inédito e não queria perder. Quem sou eu para interromper? Nesse caso, o telefone não vai resolver. Tenho que estar presente, mesmo que eu sofra bastante financeiramente. É a troca de um ou vários prazeres por outro muito maior. Mas é a felicidade? Talvez. Ainda não sei. Só sei que ela não estava feliz hoje e eu também não.

Sunday, February 11, 2007

Nada substitui o acaso e o telefone


Indo para Santos encontro na rodoviária do Jabaquara a querida amiga Fabiana. Após quinze anos de amizade, somos os mesmos e somos muito diferentes também. Os pontos de vista convergentes em alguns assuntos, divergentes em outros. Uma certa aversão ao calor e uma paixão pelo álcool (desculpe, Fabi, mas nisso você me supera) em comum. O que muda, é que hoje somos um pouquinho mais maduros. Balzacos? Trintões.

Outra coisa que não mudou é nosso amor pelo rrrrróque, é claro que com pitadas de outras cositas ao longo dos anos. No caminho, fico sabendo que tem PopScene, a festa da Flávia, no Retrô. Diversão garantida ou um pouco menos de dinheiro em sua conta bancária. Tonhão (hoje Toni) e o Psico (hoje Titio Marco Antonio) viriam, acompanhados de seus respectivos companheiros. Já éramos a essa altura, quatro, mais o nosso amigo em comum, o Ed Gardenal.

Até que me ilumino e ligo para o Goya, de sopetão, e ele topou aparecer. Éramos cinco. Toni chamou as Adrianas e elas apareceram. E, assim, sete ex-colegas de jornalismo da Facos (1992-1995) se encontram no centro velho de Santos. Muitos abraços e poses para fotos depois, dá tempo de saber as novidades uns dos outros e ver, que apesar dos pesares, estamos todos bem. Até as boas tiradas voltam. Vai dizer que aquela de que: "um dos maiores clichês de banda cover é uma gorda nos backing vocals" já não valeu a noite?

Juntos, cinco de nós fomos ao Retrô curtir o bailinho pré-momesco que a Flávia (nossa caloura na faculdade) armou, com direito a "Top Top", com os Mutantes, e "Minha Menina", com o Belle and Sebastian. Quando tocou "Quando", com o Rei, deu vontade de puxar o trenzinho... Muito punk-rock, indie rock, teen lesbians se pegando, e muita diversão. Foi lindo!

E foi assim, através da comunidade da nossa turma da faculdade, no Orkut, não conseguimos organizar nada, mas uma coincidência e alguns telefonemas depois, uma parte de nós estava lá.

Wednesday, February 07, 2007

Blog paralelo

Amigos, acabo de criar um novo blog. Chama-se "Resenhas que você não vê no jornal", o endereço é http://resenhassemjornal.blogspot.com/ e só fala de música. O "Crônicas..." vai continuar funcionando normalmente.

No novo blog só falarei de música. Mais especificamente, farei um trabalho doido de resenhar todos os CDs e DVDs de música que eu tenho. É uma loucura, eu sei, mas faz tempo que eu queria fazer.

Abro o blog com o clássico de Bob Dylan, "Highway 61 Revisited", de 1965. Aguardo comentários civilizados e (muitos) xingamentos.

Minha primeira vitória

Ah, o futebol. Não bastasse estar lendo "Febre de Bola" ("Fever Pitch"), de Nick Hornby, o mesmo de "Alta Fidelidade" e "Um Grande Garoto", me deu uma loucura sábado de assistir um jogo em estádio. Almoçava com o meu amigo Marcos quando tivemos a idéia meio que ao mesmo tempo. "Vamos ver o Juventus na rua Javari?". E lá fomos nós, sempre quis ir lá.

O jogo era contra a gloriosa Ponte Preta, time de um amigo meu de faculdade, que era meu companheiro de incompreensão naquela época. Ninguém nunca entendeu porque eu torço para o Flamengo, bem como ninguém entendia porque o Goya, japonês, nascido em Santos, torcia para a Ponte Preta, time de Campinas. O Goya é o único torcedor da Ponte que eu conheço. E é do Juventus a única camisa de time de futebol que eu tenho. O Flamengo que me perdoe.

O jogo é o maior match disputado na Javari. A Ponte é o time com maior torcida que a Federação Paulista de Futebol deixa jogar lá. O estádio lotou, menos o setor dedicado à torcida da Ponte, que tinha, juro, de 30 a 40 pessoas no máximo.

Acanhado, simplezinho, mas honesto, o estádio da rua Javari oferece visão total do campo de todos os ângulos. Localizado no coração do hoje classe média bairro da Mooca, atrai os moradores do bairro e curiosos para jogos, no mínimo, diferentes.

Depois da fila quilométrica para comprar o ingresso (R$ 10, estudante), provei o tal do canole. O doce é maravilhoso. Uma massa folhada, doce para caramba, com recheio amarelo de sonho. Supimpa. Começamos a assistir o jogo na arquibancada atrás do Gol onde o Juventus atacava, mas o sol estava alucinante, de rachar a testa e fundir a cuca. Nem os xingamentos da torcida Juventina ao goleiro Aranha, da Ponte, eram suficientes para aguentr o jogo ali.

Mudamos para a arquibancada atrás do gol da Ponte e lá tinha uma sombra e a uma torcida bacana da Juve que nunca xinga o time (o que é comum em jogo de times de torcida maior), só apóia.

O primeiro tempo foi medonho. Nenhum dos times tinha objetividade e tocavam para o lado o tempo inteiro. Numa jogada bacana, cheia de dribles, Leo Mineiro cruzou toda a grande área, sem chutar a gol, aquilo me irritava. E assim foi até os 20 minutos do primeiro tempo, quando Leo Mineiro, esse é o nome dele, recebeu uma bola cruzada na área, limpa o zagueiro e chuta no canto esquerdo superior de Aranha. O Juventus jogava bem melhor, especialmente o reserva da camisa 16, que entrou correndo muito, fazendo jogadas e dribles ótimos e deu uma sacudida no time. Fico devendo o nome do sujeito.

A Ponte depois teve um penalti a seu favor. Finazzi converteu a primeira cobrança, mas o juiz marcou invasão. O centroavante bateu novamente, dessa vez na trave, e rebateu a cobrança, o que soube que é proibido. E esse foi o resultado do jogo até o fim. Um a zero para a Juve e assim acabou o primeiro jogo de futebol que eu assisti que não terminou em empate.

Pela primeira vez me senti vencedor num estádio de esporte coletivo, é uma sensação única, de catarse, mesmo quando não é seu time de coração. E já decidi, ainda este ano, verei o Flamengo no estádio (em SP ou no Rio) e vou ser pé quente de novo.

Tudo bem que eu não vi o Flamengo, mas já agi como Flamenguista no estádio. Em 2000, quando o São Caetano montou aquele time surpreendente que foi vice da João Havelange, me encantei com o futebol daquele bando de renegados (César, Ademir, Claudecir, Silvio Luís e outros feras) e fui secar o Vasco na primeira partida da final, disputada no Parque Antarctica. A torcida foi ótima e o jogo, muito melhor que Juventus e Ponte, mas acabou em 1 a 1. E essa é minha experiência no futebol até hoje, espero ter outras.

Thursday, February 01, 2007

Não se preocupem mais

Queridas amigas,

Não se preocupem mais com a endoscopia. Mamãe, aquela que passou açúcar em mim, estará lá comigo na segunda-feira.

Obrigado!

Tuesday, January 30, 2007

Acompanhante para endoscopia, procura-se

Amigas, estou avaliando o currículo de candidatas a me acompanhar numa endoscopia que vou realizar nos próximos dias. À candidata não é necessário uma garganta profunda... Deixa essa parte comigo.

Para vocês terem uma idéia da gravidade do problema, segue a minha dieta para os próximos 20 dias.

Dieta Gastro e Colesterol * 21 dias

O que pode comer:

Arroz
Caldo de feijão
Purê de batata
Batata
Chuchu
Abobrinha
Cenoura
Beterraba
Folhas cruas ou cozidas apenas com sal
Carne magra * tudo sem gordura e sem pele
Ovo pochê ou cozido (raramente)
Queijo branco
Requeijão light
Gelatina
Mamão
Pera (eu odeio pera!!!)
Melão (detesto melão!)
Maçã
Torradas
Bolacha de água e sal (biscoito água, please...)
Chás cidreira e hortelã (o médico liberou boldo e erva-doce, mas tô fora!)
Bebidas só com adoçante (ok, já fazia isto)

O que não pode -
álcool
chá preto ou mate
doces
açúcar
pães
refrigerantes
frituras
queijos amarelos

Refeições principais: 8h, 14h e 20h
Maalox: 11h, 17h e 23h
Nos intervalos entre as refeições e o maalox: 2 bolachas ou meia pera
ou meia maçã

Não pode passar mais do que uma hora e meia sem beliscar alguma coisa

Querida Garota da Praia

Concordo totalmente com seus argumentos. Mudei o texto a seus pedidos. Seu nome não está mais no texto, mas você continua na minha cabeça, querida. Você tem razão, a web é insegura, mas os seres humanos mais inseguros ainda.

Espero que isto seja o suficiente para que possamos ter um relacionamento bacana daqui para a frente, bom como naquele fim de tarde.

Paz!

Monday, January 29, 2007

Perfume fedido

Aqueles que confiam em mim (rarará) não percam seu tempo assistindo ao fedorento “Perfume – A História de Um Assassino”, de Tom Tykwer (“a produção alemã mais cara de todos os tempos”, como disse um amigo meu), baseado no best-seller “O Perfume”, de Patrick Süskind.

O filme é muito bom até matarem o Dustin Hoffman (aliás, ele e o Alan Rickman salvam o filme da indigência), depois é uma sucessão de idiotices. A cena do cadafalso é a cena mais ridícula e mal dirigida dos últimos tempos, com figurantes simplesmente fazendo cara de “ah, esse diretor é gênio, vamos fazer o que ele manda”. Qualquer filme da sessão “como era gostoso o meu cinema”, do Canal Brasil seria melhor.

Se eu fosse adolescente, diria que o filme valeria a pena pelos peitinhos da primeira ruivinha que o psicopata Jean-Baptiste tenta transformar em perfume, mas eu não sou mais adolescente (pelo menos é o que eu reafirmo para mim mesmo, diariamente).

Foi um final de semana banal, cheio de filmes ruins. No sábado, vi a pré-estréia de “A Grande Final”, que mostra as dificuldades de três tribos nômades (índios brasileiros, tuaregs e pastores mongóis) para assistir à final da Copa do Mundo.

A idéia é boa, mas o produto final é extremamente ineficiente e joga na tela assuntos seriíssimos, como o confronto entre brancos e índios na Amazônia, a corrupção na Mongólia pós-comunismo e a hierarquia patriarcal no deserto, de forma extremamente banal.

Outra banalidade é “Em Direção ao Sul”. Charlote Rampling (linda, como sempre, mesmo aos 60 anos e sem plásticas) passa seus verões no Haiti devorando garotinhos, até que chega Brenda (Karen Young, ótima) querendo brincar com o mesmo meninão da outra coroa.

Só que o meninão tem problemas na sua terra Natal, conturbada e corrupta como sempre em meio a mais um golpe militar nos anos 70 (apesar de numa cena passar um Corolla zero na tela) e advinha o que acontece com ele??? Bem, se fosse nos 80, ele morria de aids, como o filme passa nos 70, ele morre de tiros. As coroas ficam tristes e eu também, pelos R$ 7 jogados fora.

Pelo menos andei de bike esse finde e subi a Vergueiro montado... Quatro dias seguidos pedalando.

Wednesday, January 17, 2007

Um velho disco de vinil

Quantas boas lembranças podem conter os sulcos de um velho disco de vinil? Ainda mais quando o LP é dado de presente por um velho amigo_ um amigão de... 20 anos? Dezenove, para ser exato.

Esse é o Mauro, meu ex-colega de escola, de bandas e amigo para toda a vida. Pois eu sumo e ele é quem apareceu ontem com o presente, no caso o “Viva Hate”, primeiro disco solo do Morrissey, gravado em 1987, da idade da nossa amizade.

O melhor é que as reminiscências ficaram apenas nos sulcos do disco. No nosso encontro não falamos do passado, apenas do presente e do futuro. E deu para perceber que ainda há muita vida pela frente e que nenhuma sombra ou dúvida que paira sobre nós agora, nada disso tirará de nós a coragem infinita dos tempos de garoto, nas areias, nas quadras invadidas ou nos palcos da velha Santos, quase da idade do Brasil.

Pois os nossos olhos ainda têm viço e podem brilhar. Algumas cervejas e percebemos que estamos vivos e melhores que nunca. Não é, companheiro?

O tédio (sim, paulistanos, mineiros e todos aqueles que não tem mar na porta, é possível se entediar na praia) que está me acometendo às vezes aqui, tão bem diagnosticado por outra grande amiga pelo MSN, pode ser vencido facilmente. Basta pegar o telefone e ligar para os velhos amigos, tirar a carcaça de dentro de casa e exercitar a cabeça e o corpo, à pé, de bike, à nado...

Vocês não sabem, queridos, o quanto sou e feliz e grato por seus telefonemas, suas mensagens, os papos no MSN. Vocês fazem a vida me doer menos.

E também ontem um grande companheiro de roubadas e ganhadas me ligou para perguntar. “Meu, quando é que você volta? Você sabe que só você me entende depois de um final de semana em que tudo deu errado”. Esse meu amigo não sabe, mas acho que esse foi o melhor elogio que eu recebi nos últimos tempos.

Não falei para ele na hora, porque isso só me ocorreu agora, quando escrevia este texto. Nós temos que parar de pensar nossa semana em função do final de semana. O sábado e o domingo, amigos, podem ser extremamente frustrantes. A gente coloca muito expectativa sobre eles dois e eles são apenas dois dias, 48 horas...

Temos que buscar a iluminação todos os dias. Ver o arco-íris no chafariz bregão da praia, as matizes diferentes no céu a cada pôr-do-sol, que, mesmo visto inúmeras vezes de um mesmo ponto, nunca é igual.

Anteontem, na última vez que parei para vê-lo, o céu tinha laranja, verde-água, azul celeste, azul cobalto, azul marinho, púrpura, violeta, amarelo, branco, vermelho. Cada cor era como se cada um de vocês, amigos, que têm me confortado nesses dias de tédio e de preparação para este ano (que será duro) estivessem ali comigo.

Obrigado, Mauro. Obrigado, Carol. Obrigado, Dani. Obrigado, Lu. Obrigado, Fabi. Obrigado, Marcos. Obrigado, Patrícia. Eu amo todos vocês.

A seguir, reproduzo uma letra do Morrissey, que explica como é o tédio-litorâneo a la Tatcher. Depois da letra original, segue a tradução, que eu fiz.

Everyday Is Like Sunday

Trudging slowly over wet sand
Back to the bench where your clothes were stolen
This is the coastal town
That they forgot to close down
Armageddon - come armageddon!
Come, armageddon! come!

Everyday is like sunday
Everyday is silent and grey

Hide on the promenade
Etch a postcard :
How I dearly wish I was not here
In the seaside town
...that they forgot to bomb
Come, come, come - nuclear bomb

Everyday is like sunday
Everyday is silent and grey

Trudging back over pebbles and sand
And a strange dust lands on your hands
(and on your face...)
(on your face)

Everyday is like sunday
Win yourself a cheap tray
Share some greased tea with me
Everyday is silent and grey

Todos os dias são como domingo

Avançando lentamente sobre a areia molhada
De volta ao banco onde suas roupas foram roubadas
Essa é a cidade costeira
Que eles esqueceram de fechar
Armagedon, venha, Armagedon
Venha Armagedon, venha!

Todos os dias são como domingo
Todos os dias são silenciosos e cinzas

Escondido no passeio
Gravado num cartão postal:
Como desejo ardentemente que eu não estivesse aqui
Na cidade litorânea
...que eles esqueceram de bombardear
Venha, venha, venha – bomba nuclear

Todos os dias são como domingo
Todos os dias são silenciosos e cinzas

Voltando sobre o cascalho e a areia
E um estranho pó pousa em suas mãos
(e no seu rosto...)
(no seu rosto)

Todos os dias são como domingo
Ganhe uma bandeja barata
E divida um pouco de chá melado comigo
Todos os dias são sileciosos e cinzas