Monday, December 08, 2008

Todos temos um pouco de Vicky e Cristina

... ou sobre como Woody Allen pode ser inspirador.

Esse texto é para quem viu Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. Mas quem não viu pode ler também. É fim-de-ano e todos ficamos meio idiotas nesse período do ano. A gente olha para os 11 meses anteriores, vê que não conseguiu ou não quis mudar muita coisa e acha que pode virar super-homem em 30 dias. Infelizmente, não é assim.

É mais ou menos como auto-confiança da Vicky... Romântica, ela chega a Barcelona para um mestrado, de casamento marcado. Ela acha que nada na sua vida vai mudar e que vai voltar igualzinha após essa viagem.

Outros já podem olhar a vida como Cristina. Meio perdida e sem ter feito nada de que pudesse se orgulhar, ela aposta tudo e nada na viagem e se encanta com o pintor Juan Antonio de cara... E ela vive, tudo, de fato... Vejam o filme, não é meu objetivo contar o filme aqui...

E, no sábado, eu ainda não tinha visto o filme, se já tivesse tudo poderia ser diferente... Talvez eu estivesse R$ 199 menos pobre ou estaria R$ 199 mais feliz... mas não estaria me sentindo como agora: pobre e infeliz. Tudo dependeria da atitude que tivesse empregado durante o episódio desastroso que vivi.

A pessoa romântica, ou quando fica romântica, é meio imbecil. Muitas vezes, devido a solidão, ou à infelicidade de um dia ou outro, ela tende mais à fatalidade. Talvez seja essa a origem dessa minha crise... que, diferente da americana, vai passar. Há dias vinha tentando contato com uma moça, uma moça que me escapa por vários motivos. Ela mora longe, ela não pára quieta. Tudo que, a Vicky aqui não deveria dar atenção, mas...

Mas, meu lado Cristina pesou mais forte e eu segui em frente. Após dois foraços na sexta, tentei de novo a moça em questão... No MSN, a convenci que nos encontrássemos... O “mi casa” não funcionou e parti para um campo neutro. Um bar a meio caminho para ambos... Perto do bar há bons hotéis... Não pestanejei, no bar os beijos estavam bons, a comida e a cerveja, idem... (R$ 54). O papo sobre nossas vidas passadas, idem...

Por volta das 19h, nos registrávamos num dos bons hotéis (R$ 125). Valeria a pena, para minha casa ela não queria ir, pois tinha entrevista no dia seguinte, mas disse que ficaria e voltaria cedinho para casa, a tempo do compromisso. Para mim seria bom também, pois depois, dali, ficava fácil para buscar minha filha...

Tudo começou bem. “Aproveitamos a estadia” e, logo depois, saímos para que ela comesse algo, pois ela não tinha comido no primeiro bar... Ao voltarmos, ela já não era mais a mesma pessoa... Fumou um cigarro e da janela, olhou para mim como se uma parede fosse e disse que estava enjoada, que não iria ficar e que estava com saudade de sua casa, de sua cama... Agora, como Juan Antonio que sou, tentei contemporizar tudo, fui gentil e a levei até o ponto de ônibus e ela se foi... Eram pouco mais de 22h e eu estava possesso! Como pude ser tão bocó, estúpido, idiota... Porque eu acho que posso tudo??? Porque sou tão Vicky e tão Cristina ao mesmo tempo???

Tudo isso porque??? Porque minha Maria Elena se foi???? Porque ela não me quer mais??? Porque ela mesma não sabe o que quer??? E eu menos ainda??? Só sei que, depois que a moça entrou naquele ônibus e eu fiquei sozinho no quarto daquele hotel, tudo que eu queria era chamar meu amor para estar comigo naquele quarto. Mas, além da extrema cara-de-pau que se teria de ter para fazer aquilo, eu ainda estava triste depois de nossa última conversa, a mesma tristeza que me fez chamar a outra moça, mesmo, no fundo, sabendo que não daria certo...

Só sei que, depois de todas las mierdas, só penso numa coisa. Numa frase de Woody na boca do personagem Juan Antonio, comentando como vê a vida, apesar do jeito negativo de olhar a vida de seu pai, um poeta que, por odiar a humanidade, não publica sua poesia, muito parecido com a filosofia de sua amada Maria Elena, que pinta e não expõe: “I affirm life, despite everything” (eu afirmo a vida, apesar de tudo).

E é essa auto-afirmação da arte, é essa vontade de viver cada gota de vida, que me atrai ao cinema de Woody Allen e me faz pensar e aprender que, apesar de todas as merdas e de horas gastas em vão, sozinho num hotel ou de frente para o computador, vale a pena viver. É tudo um aprendizado. E não posso me arrepender de estar vivo e ter minha filha linda e sentimentos que uma vez transformados em algo produtivo, outras pessoas podem até considerar arte.