Wednesday, August 08, 2007

Sórdidos, mas comuns

A primeira coisa que me agradou ao chegar no Teatro Popular do Sesi com minha amiga foi perceber que estavam tocando o Exile On Main Street, dos Rolling Stones, em seqüência. Pensei: desse palco só poderá vir coisa boa.


Não sei se a trilha antes do início do espetáculo “A Educação Sentimental do Vampiro”, baseado em 40 textos do escritor Dalton Trevisan, o “vampiro de Curitiba”, foi escolhida por Felipe Hirsch ou por alguém de sua Sutil Companhia de Teatro, mas só poderia ser, pois tinha tudo a ver. Fora que imagino que Hirsch e sua trupe fiel, que inclui o incrível Guilherme Weber, adoram música_quem viu a belíssima adaptação que fizeram de “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby, que ficou bem melhor que a de Stephen Frears para o cinema, sabe disso.


Stones tem tudo a ver com o mundo sórdido, mas comum de Trevisan. Sórdido, porque as histórias de submundo que ele conta revelam o pior lado do homem e da mulher, em todo o seu egoísmo, tristeza, ansiedade, devassidão... O mundo do autor, entretanto, é comum também, pois todos nós, mesmo os mais inocentezinhos, em algum momento, sentiram aquele gostinho de fel no cantinho da boca e se lambuzaram.


Fora que eu lembrei de várias histórias da minha vida assistindo situações narradas por Trevisan e drmatizadas por Hirsch na peça, mas isso renderia até outro texto.


A conclusão que se chega ao fim da peça de Hirsch é que não há salvação para ninguém, que não adianta buscar nada no céu, que não adianta recorrer a uma instância superior, enquanto não há nada em você que diga que vale a pena mudar. Na moral torta de hoje, se não faz mal (a ninguém), que mal tem? Não é verdade? Só não devemos ter dramas de consciência, arrependimentos. Na busca do prazer e do melhor para nossas vidas, só temos uma responsabilidade: que nosso prazer não machuque o outro.


Ao fim da peça, seguindo a ordem das músicas de Exile On Main Street que tocavam, chegou a vez de Happy, dos Stones, que começou logo depois de fechadas as cortinas vermelhas... “I Need A Love To Keep Me Happy”, cantam Keith Richards e Mick Jagger, narrando a história de um jovem que “nunca quis ser como papai/ trabalhando para o chefe dia e noite”.


E se queremos sair dessa vida de opressão, buscamos o prazer: seja um show, umas cervejas, uma baladinha, um abraço dos amigos, montar uma banda, dar beijos gostosos na boca da mais nova garota mais linda do mundo... Só sei que hoje estou extremamente cansado, depois do fantástico dia de ontem, mas serei o homem mais feliz do mundo até sexta-feira, porque até lá eu tenho um love to keep me happy. Pelo menos até lá.


3 comments:

Grazi Lavezo said...

ah, muleque!!!

depois do dia dos pais, te arrasto para a achirophita!!!!!!!!

obs: quero viver mais meu lado vampiro

Defunto Autor said...

Alta fidelidade é excelente, Marcelão, mas o filme não é do Crowe não. É do Stephen Frears!

MO said...

Nossa, que comida de bola! Vou corrigir. Gracias.