Tive uma Virada Cultural maravilhosa. Minha jornada começou às 20h de sábado e terminou às 8h de domingo. Doze horas de música, dança, cantoria e muita paz.
Vi a Exposição da Clarice Lispector, no Museu da Língua Portuguesa, em paz e sem fila, pude ver quase todas as gavetas, assistir à entrevista dela, olhar, sentir, curtir o indizível que Clarice era especialista em dizer.
Depois fui ver Sergio Dias, dos Mutantes, em show solo. Chatices progressivas e virtuosismo à parte, ele provou ser um excelente vocalista, além de muito bom guitarrista. Depois de cantar uma música chatíssima em que dizia não gostar de samba e ser doente do pé, Sergio levou uma versão antológica de “Balada do Louco” e depois o samba “Minha Menina”, de Ben, no bis. Gostosa contradição, como São Paulo e como a Virada.
Em seguida, curti o Clube do Balanço, tendo como convidado Erasmo Carlos. Apesar de um bêbado pentelhérrimo atrás de mim e puxando papo, curti o show ao lado de um pessoal super bacana de Osasco, que dançava muito. Fui abençoado por uma apresentação sublime e classuda do vice-rei do Brasil, que abriu sua participação com “Coqueiro Verde”. Após um discurso banhado de otimismo: “o sentido da arte é o amor e esse tipo de evento confirma que a gente ainda tem a ousadia de imaginar coisas utópicas: a arte capaz de deter a violência”, Erasmo cantou “Além do Horizonte”, sem saber o que viria depois.
Dali ainda tentei ver o Jards Macalé no Municipal, mas a fila estava impossível e encontrei e confraternizei com vários amigos. Fiquei ouvindo o show na escadaria com a amiga Fabi e dali fomos todos ver o Gerson King Combo mandar ver seus “Mandamentos Black”, com uma participação especial de Lady Lu, mãe do guitarrista de sua banda, também num clima de paz: "se você conhece alguém que gosta de arrumar briga, manda ele arrumar mulher", simplificou o irmão de Getúlio Cortes.
Encerrei a noite com o Beatles 4Ever fazendo um show de hits dos Beatles, quando estava previsto que fosse tocado a íntegra do Magical Mistery Tour. Mas foi razoável, Rampazzo realmente interpreta Harrison perfeitamente. “While My Guitar Gently Weeps” e “Something” foram algo acima da média para uma banda cover. O resto do show foi insosso, qual o meu estado físico às 7h15.
Tava tudo bem, tudo ótimo, mas pertinho dali, na praça da Sé, nem imaginava eu (quer dizer, eu imaginava antes de a Virada acontecer que o show deles seria um problema, mas, vou me reservar a não comentar, pois no meio da paz em que estava, não conseguia pensar neles) fãs dos Racionais MCs e a PM entraram em confronto (leia um relato sobre o tumulto, clicando aqui). A tenda de Eletrônico da XV de Novembro teve que parar suas atividades e a rua foi depredada, pois a PM “limpou” a praça e o tumulto se espalhou. Mais uma vez, a PM de São Paulo prova não saber lidar com situações de confronto e um certo diabinho dentro de nós fica pensando se é possível o mundo dos Racionais caber no “nosso” mundo, mas isso é odioso só de pensar.
Só sei que cheguei em casa satisfeito e feliz, mas acordei triste com as notícias. Para ajudar, ao mesmo tempo chega a notícia de que o jornalista que denunciou o caso dos vereadores pedófilos de Porto Ferreira foi assassinado de forma covarde e que Sarkozy e seu facismo venceram a eleição francesa. Notícias nada alvissareiras. Acho que o sonho de Roberto e Erasmo só vai se concretizar depois da geração dos meus netos, se ainda houver mundo até lá.
1 comment:
Não fique triste, pelo que li, sua Virada teve muito mais coisas boas que ruins..
Uma "segunda"..com flores.. festejando mais um dia que vém vindo!!
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