Monday, March 26, 2007

Censurar todos se atrevem

“Negue que me pertenceu

Que eu mostro a boca molhada

Ainda marcada pelo beijo seu...”


  • - Base chamando Supervisão. QRU na escadaria. Copia? Uma mulher, do sexo feminino, de cor parda, está subindo do Piso Paulista para o piso superior, cantando. Copia?

  • - Tá fazendo o quê?

  • - Cantando, chefe, cantando.

  • - Continue monitorando pelas câmeras. Vou consultar o regulamento. Aguarde por novas instruções.


Cinco minutos depois...

  • - Tem nada não, colega. Nada consta no regulamento. A mulher pode cantar à vontade, compreendido? Você já pediu o vale este mês? O último dia é hoje. Quanto você vai querer?

  • - Uns 600 paus, beleza?

  • - Beleza, amigão.

Imaginei esse diálogo hoje à noite quando voltava para casa. Uma mulher cantava lindamente enquanto subia uma escada do Top Center.

Cada vez mais acho que qualquer ato ou comportamento mais transgressor ou fora do padrão, por menor que seja, como a da mulher que cantava, é visto com temor pelos seguranças da vida _e olha que nem todos eles ganham merreca, vestem preto, azul marinho ou cinza e são PMs fazendo bico. Assim como nem toda censura termina quando aquele que puxou o assunto é interrompido por um tema mais interessante, como os 600 paus aí de cima.


Tenho tido bastante tempo para pensar na forma como me relaciono com as pessoas, ou melhor, como me relacionava no passado e como me relaciono hoje, e a conclusão a que chego é que sempre é melhor para mim quando eu estou apaixonado. Qual o problema de se apaixonar? Sou feliz me apaixonando. Eu adoro me apaixonar.


A onda pode ser bem curta, como o barulho que faz o seixo arremessado num certo ângulo contra um lago. Pode ser também uma onda loucurinha um pouco mais longa, como uma pedra jogada num balde de metal, em que primeiro vem o “glup” e depois o “tóin”. Ou pode ser uma viagem maravilhosa, dividida em várias fases , com direito a flashbacks, ausências por períodos indeterminados, etc.


Tenho sido censurado nos últimos dias por “pensar com o pau”, como disse uma ex-amiga e por “não me valorizar” ou até por ter sido menos homem do que o normal, como preferem uma ex-namorada e uma amiga. São bons conselhos, prometo pensar neles, mas não mais do que o tanto que penso cada vez que minha irmã pede para que eu vá ao centro espírita, mas, putaquipariu, qual o problema em me apaixonar?


Sabe. Não quero daqui 40 anos ser um septuagenário amargurado como meu ex-barbeiro. Uma desilusão amorosa na vida e as mulheres, para ele, viraram uma caricatura abominável e, como saldo, restou uma equação em que a casa dele é a barbearia e os amigos, os clientes. E não falo em sentido figurado.


Também não quero trocar o dia pela noite, como o gente finíssima do sapateiro da Joaquim Eugênio, que fez furos novos nos meus cintos de graça, pois “nunca cobrou por esse tipo de serviço”. E muito menos quero repetir esquemas a vida toda, como meu pai. Ele mora sozinho há quase dez anos, mas tem duas geladeiras e as enche como se todos nós ainda estivéssemos lá em casa.

Caramba, será que não tem uma mulher no mundo que goste de se apaixonar e curtir esse prazer com outra pessoa e ser feliz? Ou eu vou ter que virar outra pessoa?


EU GOSTO DE QUEM EU SOU. E GOSTO DE ME APAIXONAR, AINDA QUE SEJA TODA SEMANA.



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