Wednesday, September 27, 2006

Hoje eu vi o horror e revivi um sonho passado

Pelo menos nove anos após nosso último encontro, revejo Aline em um restaurante japonês onde participava de um almoço de trabalho. O choque foi instantâneo. Ela estava mais alta (eu a conheci adolescente) e mais bela, sorriu seu melhor sorriso, entre surpresa e abalada. Eu levantei imediatamente da cadeira e a abracei demoradamente, conversamos pouco, pois estava trabalhando e peguei tudo que eu busquei durante os últimos nove anos, conversando com amigos em comum nossos, seu telefone e seu endereço.

Findo o almoço de trabalho, devidamente atrapalhado pelo choque, segurava aquele pedaço de papel como se fosse a minha vida. A memória de momentos emocionantes de minha vida estavam ali. Na época da faculdade, Aline era a minha parceira de rock´n´roll. Uma das maiores artistas que conheci, com múltiplos talentos (suas dobraduras e caricaturas são inesquecíveis), ela deu um pira em todos nós, viveu na Europa (Firenze e Barcelona), vendeu artesanato, dizem, chutou tudo e eu quero muito saber o quanto é verdade e contar tudo o que aconteceu comigo nesse tempo (é claro que já deu para mostrar a foto da minha filha!!!).

Mas não deu tempo de dizer, Aline, o quanto eu te amo e o quanto eu te admiro e o quanto eu sempre pensei em você. E eu vou falar tudo. Novidades nos próximos capítulos.

Ao acordar do sonho, vi o horror pouco depois. Em seguida ao almoço, saí para uma diligência de trabalho. Objetivo: visitar um abrigo de crianças com deficiência mental em situação de risco _em bom português: crianças deficientes abandonadas por suas famílias e que, tuteladas pelo Estado, passam a vida perambulando entre instituições pestilentas e imundas, como o local visitado ontem.

Vinte e cinco crianças, adolescentes e adultos, entre elas três moças, dividiam três quartos imundos, com colchões no chão, amontoados um sobre o outro. O cheiro de urina e mofo tomava conta do lugar. Todos estavam há dois meses no local, sem atendimento médico, odontológico e psiquiátrico. Remédios tarja preta eram armazenados na mesma dispensa que o arroz e o feijão. Já visitei cadeias em delegacias, já visitei unidades da Febem, mas ali, enfim, me senti no inferno_ o inferno do abandono, onde crianças de nove anos têm que lavar as próprias roupas.

Pedimos pelas fichas das crianças e nada. A resposta dada é que as crianças sairão dali no próximo sábado e irão para um prédio do Estado. E esses dois meses já passados, como o Estado vai recuperar? Mas, por incrível que pareça, as crianças e adolescentes nos contavam que aquele local nojento e imundo era melhor que o último abrigo onde estiveram, em Embú-Guaçu, onde eram agredidos e humilhados por supostos educadores.

A decisão saiu na hora. Chamamos a imprensa e mandamos um relatório urgente para o Juizado da Infãncia e da Juventude. Esperamos que antes de sábado elas saiam de lá. Carentes, os mais novos, principalmente, seguravam nossas mãos e pediam para ser adotados, seguravam minha câmera fotográfica e o gravador que emprestei para uma colega tomar depoimentos, pediam para ser fotografados em suas roupas maltrapilhas. Ofereciam seus melhores sorrisos e eu queria gritar, mas não podia. Quero apenas retransmitir-lhes seus gritos.

Monday, September 25, 2006

An Ideal For Living

Maria Schneider: Terminou, acabou, chega!
Marlon Brando: Terminou e agora começa tudo de novo, e de novo, de novo...

Sensacional, não???

A vida podia ser como ``O Último Tango em Paris´´ (dir. Bernardo Bertolucci, 1972), não é?

Impulso e controle

Gente, faz um frio absurdo em São Paulo neste momento. Há exatamente 40 minutos, às 23h36, saí de casa, com o pijama por baixo da jaqueta, em direção ao supermercado 24 horas que fica um quarteirão e meio _e duas avenidas atravessadas_ de casa. Objetivo: comprar algo doce que não fosse sorvete (a droga mais pesada que eu consumo).

Consegui resistir ao sorvete, mas o impulso por doce era monstruoso. Antes de pagar as comprinhas, já tinha tomado um chandele e terminei o outro antes de chegar na esquina da primeira avenida, no caminho de volta. Na seqüência, abri e comecei a comer o biscoito Negresco, o outro item da compra. Após cruzar o portão do prédio, comecei a sentir enjôo. Parei. O pacote ficou pela metade, provavelmente ficará daquele jeito no armário por um bom tempo agora.

Impulsos. Tenho (não) lidado com eles a vida toda. A começar pelas minhas coleções, que foram sendo interrompidas ao longo do tempo: figurinhas, action heroes, selos, Playboys, até chegar aos discos (com esta paixão e a anterior eu não parei!!!). Depois ou simultâneamente vieram as paixões, primeiro as platônicas (de vez em quando eu ainda faço essa merda), depois todas as demais, sempre insanas, com direito a poucos amores e muitos machucados...

E assim as paixões e impulsos têm me domado. Ontem, conversava com um amigo, que pregava: “triste o homem que se deixa dominar pela carne”. Em seguida, conversava com uma ex-, convertida em amiga (na verdade, ela nunca deixou de ser amiga, mas é ex-também, merece o crédito) e ela me disse: “você precisa de controle”.

E, apesar de eu, até hoje, não ter corrido nenhum risco de vida absurdo, de não ter estado perto da morte de verdade, sei os riscos que uma vida desregrada pode trazer. Eu sempre soube disso. Hoje sei mais ainda, afinal tem uma pequena-grande menina de 6 anos que precisa de mim a 700 km daqui. Faz seis meses estava com o colesterol alto, o triglicérides na puta que pariu... E eu os venci, emagreci, fiz dieta, tomei 45 dias dos 90 previstos de remédio e tá lá, os índices baixaram.

Porque não posso fazer isso com a minha paixão, com o meu dinheiro, com minha libido, com minha paixão pelo álcool? Porque tenho que me apaixonar por todo sorriso ou unhas vermelhas em um pé branco toda vez que vejo uns, porque tenho que gastar todo meu dinheiro em pouco tempo e me endividar como um suicida louco, porque tenho que trepar toda vez que tenho vontade, mesmo sem ter ninguém com quem trepar, porque tenho que beber muito toda vez que saio? É preciso controle. E, muitas vezes, sobre a bike, eu tenho todo o controle... Essa magrelinha tem sido fundamental. As próximas vítimas serão os livros parados na estante... Pasarán todos!!!

Saturday, September 23, 2006

Carta à WW

São Paulo, 23 de setembro de 2006,

Caro Sr. Wanderlei Luís Wildner,

Venho por estas mal traçadas linhas dizer que o show do senhor ontem no Studio SP foi foda. Putaquipariu, o show foi pau-a-pau com os dois maiores espetáculos de sua arte que eu assisti_ o show especial de Curitiba Rock Festival, em 2004, com o Frank Jorge, e um show que o senhor deu em 2000, quando estava na Trama (calma, vai passar!!!), no Blen-Blen, com o Júpiter Maça abrindo. O show foi tão bom que fiquei com uma conterrânea vossa aquele dia...

Bem, Wander, posso te chamar assim? Olha, o senhor arrumou uma puta banda boa agora, hein... A baixista, além de ser uma espoleta, toca bem pacas, e o guitarrista ainda precisa dar umas ensaiadas, mas quando ele dá aqueles solinhos Neil Young, o som fica maravilhoso, mais adequado ainda às proporções de seu talento.

Meu caro, agora eu queria tecer considerações sobre o local do show. Puta lugarzinho metido do caralho... Casa de artista pau no rabo do carai, velho... Tava de ressaca e com sono e não queria beber mais. Fui pedir uma coca, o negócio veio quente, fora os DJs que tocaram: dois imbecis, querendo dar showzinho. O primeiro parecia que achava que só tem rock nos EUA, só tocou Strokes e outras bandas americanas que acham que os anos 80 foram do caralho. Foram bons, só. O segundo chegou na maior marra, ligou um computadorzinho todo cheio das luzinhas e só acertou no final quando tocou “Se Você Pensa”, do Rei.

Meu, e teve aquela banda de abertura, o Super Reverb, que acha que toca rockabilly. Perdoando o colega baixista, o resto foi uma tristeza... Como na hora em que o vocalista anunciou que iria tocar uma música de um amigo dele, chamado Eddy Teddy!!! O negócio era uma versão de “It´s All Over Now” (Bobby e Shirley Jean Womack), eternizada pelos Stones... Assim não dá. Pô, afinal Wander, o povo estava no Studio SP para ver WW, não para ver o DJ ou Super Reverb, que ainda reclamou que o show terminou antes do combinado!!!

Mas falando em versões, vamos tecer considerações sobre seu repertório, Wander. Falando em covers, vamos começar por elas. Caceta: abrir com “Ganas de Vivir” foi genial, emocionante. O senhor tocou “Candy” também, “Lonely Boy”, metade na versão do Roger (não é?), metade no original. E tocou dois clássicos geniais do rock gaudério: “Um Lugar do Caralho”, de um tal de Flávio Basso, e “Empregada”, do tal do Frank Jorge... Me senti em POA, isso porque nunca estive lá. Se Deus quiser verei o Guaíba com os meus próprios olhos em novembro.

A versão que o senhor tocou de “Eu Não Consigo Ser Alegre o Dia Inteiro” foi demais! Comecei a lembrar da minha linda filha, que está morando longe de mim, em Maringá, de quem tenho saudades imensas. Ela é a maior fã do senhor, desde os dois anos de idade. Ela adora “O Sol que Me Ilumina”, “Eu não consigo...”, mas a preferida dela é “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita eu Te Amo”... Fiquei com um nó na garganta quando você tocou “camiseta”.

Foi um barato uma vez que viajamos juntos do Paraná para São Paulo e eu tive que explicar o que era porre. Imagina se ela ouvisse a versão que o senhor toca ao vivo... Um dia tenho certeza que eu e ela veremos um show do senhor juntos, aí, creio eu, ela já vai saber o que quer dizer aquela outra palavra que o senhor canta nessa música ao vivo... E eu não terei que passar pelo constrangimento de explicar.

E teve o bloco alcóolico de seu repertório, com “Bebendo Vinho” e “Quase um Alcóolatra”, que eu gosto muito e não esperava que o senhor a tocasse. É uma belíssima canção!

Bem, vou ficando por aqui e lhe desejo boa viagem e boa temporada!*

Um abração,

MO

*WW viajaria para um show em BH assim que terminasse o de SP. A partir da primeira terça-feira de outubro, tocará todas as terças com los Comancheros na casa “Mão Santa”, na rua Mourato Coelho, na Vila Madalena.

Sunday, September 17, 2006

Quem estava na Funhouse?

Olhando as fotos do Motomix, finalmente descobri quem estava na Funhouse na madruga de sexta para sábado. Além de Alex Kapranos, estavam presentes o baterista do Franz Ferdinand, Paul Thomson, o vocalista do Art Brut, Eddie Argos, que pessoalmente parece muito Oscar Wilde, e o guitarrista do AB, Chris Chinchilla, que era quem conversava com o headbanger brasiliense sobre Deep Purple. Para Argos, que parecia estar bem louco, este escriba recomendou: "Don´t worry, man! Just never get worried!"

Saturday, September 16, 2006

Franz Ferdinand na Funhouse

Alex Kapranos e sua entourage passaram esta madrugada (de sexta, 15, para sábado, 16) na Funhouse, em São Paulo. Kapranos, pelo menos mais um integrante do FF, roadies, amigos e talvez gente do Art Brut e uma cicerone brasileira foram curtir a verdadeira "casa de todas as casas".

A turma chegou por volta das 2h, circulou por todos os ambientes e acabou ficando de vez no lounge (piso superior), curtindo a jukebox com os fãs, onde tocava Weezer, FF (o brasileiro nem sabe agradar) e Clash. Um dos FFs se entretia com um headbanger falando de Deep Purple e a banda nem dava sinais de estar preocupada com a perseguição da prefeitura de São Paulo ao evento.

Na sexta, parte das performances programadas para o MIS e o Mube foram canceladas pela administração (Serra) Kassab. Até as 8h de hoje, o novo local da performance do FF, Art Brut e outros, prevista originalmente para um lugar medonho chamado Espaço das Américas, na Barra Funda, e também cancelada pela prefeitura, não estava agendado.

Apesar disso, a banda e seus amigos se divertiam numa boa, conversando com todos que os abordavam, especialmente Alex Kapranos, cuja masculinidade foi testada por uma bela fã-kosher carioca, que saiu satisfeita com o beijo do vocalista/guitarrista, cuja sexualidade é o assunto de mais matérias do que o som da banda. Destaque especial para uma turma grande de Brasília que veio à São Paulo especialmente para o show e que praticamente tomava conta do lounge da Funhouse, perguntando o tempo todo onde estava Clara Averbuck, e para Deborah, uma verdadeira Deusa.

A única cara feia na turma era a da cicerone da banda, que olhava preocupada a cada vez que alguém se aproximava, mas tanto Kapranos como seus amigos estavam curtindo mesmo o contato direto com o público.

E entre os fãs da banda que estavam na Funhouse o boato é que o show seria transferido da Barra Funda para o excelente Via Funchal, na Vila Olímpia, disparada a melhor casa de shows de São Paulo.

Thursday, September 07, 2006

Scandurra e Vanessa no gargarejo




Como é bom voltar ao rock´n´roll!!! Estava havia alguns meses sem ir a um bom show de rock, desde um show do Ira! em praça pública. Em meio ao marasmo alucinado de muito trabalho, nem tinha atinado para as datas do Campari Rock e nem do que estaria em risco se perdesse os shows de Gang of Four e Cardigans_ duas bandas que não estão muito presentes em minha discoteca.

Apesar de ter influenciado boa parte da geração brasileira de músicos dos anos 80, como Ira!, minha banda preferida, a fase inicial dos Titãs e um pouco o pessoal de Brasília, nunca tinha parado para ouvir Gang of Four. Como não tenho um bom computador, nunca fiquei baixando música e algumas faixas ouvidas num iPod (é assim que escreve?) era tudo o que eu conhecia (valeu Helô!), fora os versos do refrão de “Damaged Goods” (your kiss so sweet/your taste so sour), já ouvidos em algumas baladas. Ponto.

Mas os tiozinhos, todos na casa dos 50 anos, ao vivo, impressionam. A começar pelo vocalista Jon King, cujos trejeitos foram imitados por inúmeros outros astros do rock, de Peter Garret, do Midnight Oil, a Renato Russo. O guitarrista Andy Gill, que produziu meio mundo nos anos 90, inclusive o Red Hot da época do guitarrista Hillel Slovak, é um show à parte com seus vocais e suas (des)sutilezas na guitarra alta, muito alta. Como o vocalista não toca nenhum instrumento, apenas destrói um microondas com um taco de beisebol, o baixo de Dave Allen assume muito mais funções do que apenas acompanhar. Muitas vezes ele é a base ritmíca sobre a qual Andy delira com apenas seis cordas. E o baterista Hugo Burnham, que não tocava desde 1986 e estava preocupado com seu som, segura a onda com competência.

Na platéia, do meu lado, meu ídolo, Edgard Scandurra, gritando como um garotão. Estranho ver o artista que você admira na platéia, pedindo uma música insistentemente, ali, do gargarejo. No show dos Cardigans, outra honra, Vanessa Krongold, do Ludov. Fiz questão de abrir passagem para a melhor cantora desse país poder tietar com paixão. Sorriso de fora a fora, admirando como uma cantora pode tão bem reencarnar outra. Nina Persson é Stevie Nicks quando jovem. Alguém tem que avisar o Cardigans para fazer um show tocando o Rumours inteiro...

Bem, e teve o Montage! Cara, uma das melhores performances de uma banda brasileira que eu vi na vida... O que é aquilo!

Renata, valeu pelo toque! Foi lindo.

Pra quem não viu o show, clique aqui para ver as fotos de Renata D´Elia, direto do gargarejo.

Sobre a foto: fim do show, minha amiga não resiste e pede 5 segundos para o Edgard. Eu preferi fazer um xiste e esticar o pescoço, bancando o "pirate´s parrot".