Wednesday, December 20, 2006

Absolute beginners

Quem ama a arte sabe que o artista dentro de cada um de nós nunca morre. Não foi à toa que escolhi a mitológica Choperia Liberdade, um karaokê extremamente bizarro e antológico no centro de SP, para a festa de fim-de-ano da “firma”. Desejava ansiosamente que aquele pequeno grupo de talentosas pessoas se soltassem e se divertissem e honrassem o palco em que pisariam aquela noite, ainda que o palco tivesse menos de 20 cm de altura. Afinal de contas, cada um que subiu naquele palco, a cada música desembolsou duas pilas.

Até o segundo ano do segundo grau eu era completamente nerd. Três eventos naquele ano, entretanto, me fizeram começar a me soltar. Em 1990, aos 16, tomei meu primeiro porre no aniversário de 15 anos de minha irmã. Licor de menta e sprite foram a fórmula que me levaram a emular um misto de Page/Plant com uma vassoura... Entre 1990 e 1991 interpretei João Grilo em o “Auto da Compadecida”, na montagem que fizemos da peça de Suassuna para a aula de Literatura. E em 1991 minha primeira banda, a então Nowhere Band, estreou no anfiteatro da outrora gloriosa EESG Primo Ferreira.

A partir desses três eventos descobri que poderia dar um pouco de mim para os outros através de movimentos, expressões, palavras e música e comecei a entender o que é o artista, seu trabalho, sua importância e porque jamais se deve vaiar aquele que dá a cara para bater em cima de um palco. Poucas pessoas têm noção, por exemplo, sobre o que é um ensaio em uma garagem calourenta, no verão santista, a 40º C, a repetição exaustiva, dentro de um estúdio, de um riff, ou decorar um poema para declamá-lo...

A vida levou-me a não ser um artista profissional, mas nunca deixei de ser um “entertainer”. Entendo que o convívio entre pessoas pode ser algo extremamente desgastante e chato e o meu lado artista tenta, com minhas presepadas, deixar o ambiente leve para o outro, que não é obrigado a estar feliz o tempo inteiro.

Eu mesmo não passo por um dos momentos mais brilhantes da minha vida: stress, excesso de trabalho, falta de grana, doenças, despesas que surgem do nada, coisas extremamente desagradáveis têm me ocorrido... Nos últimos dias cheguei até a não ser gentil ou agradável com os meus colegas de trabalho. Ontem, definitivamente, eu queria muito cantar, interpretar. Na verdade, eu precisava.

E os colegas vieram. Estávamos num simpático grupo de oito pessoas, alguns estreavam num karaokê e se intimidaram, mas todos tentaram. Felipão surpreendeu sacando o sambinha “As Mariposa”, de Adoniran Barbosa. Bruno dividiu os microfones comigo em duas canções do Cazuza, “Ideologia” e “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, com direito a olhares fulminantes para uma gaja de olhoso verdes, mesmo com o arranjo travado do Barão (que sufoco, mano!). No karaokê a gente sempre conhece pessoas legais e fui convidado ao palco para dividir os vocais de “Canteiros”, de Fagner, um dos meus hinos... mesmo sem saber direito a parte do meio.

Soltei minhas veias bregas, românticas e cantei: “Me Dê Motivo” (Tim Maia), que é muito boa para soltar a voz, uma vez que é uma música na qual tento imitar a voz e trejeitos de Tim em vez de cantar; “Eu Te Darei o Céu” (Roberto e Erasmo Carlos); “Sonhos” (Peninha); “Tempos Modernos” (Lulu Santos), um velho clássico dos tempos do Espetinhos, em Santa Cecília... e, pela “primeira vez na TV”, “Cachoeira”, de Ronnie Von... com coro animado de todo o karaokê...

Apesar de tantas músicas, a sensação de frio na barriga antes de cada estréia, a espera ansiosa, e muita manguaça no cerebelo, todos esses sentimentos estavam de volta... Mas nem um pouco de vergonha, nem um pouco de raiva, nem um pouco de stress, estava livre, era dono do meu espaço. Eu sorria, como um iniciante que acerta um belo chute, uma bela tacada, afinal éramos todos absolutamente iniciantes, absolutamente amadores, e nervosos também, como Bowie (lindamente) cantou na brega, porém maravilhosa “Absolute Beginners”, tema de um filme horroroso de mesmo nome.

I've nothing much to offer
There's nothing much to take
I'm an absolute beginner
But I'm absolutely sane...
As long as we're together
The rest can go to hell
I absolutely love you
But we're absolute beginners
With eyes completely open
But nervous all the same

If our love song
Could fly over mountains
Could laugh at the ocean
Just like the films
There's no reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true

Nothing much could happen
Nothing we can't shake
Oh we're absolute beginners
With nothing much at stake
As long as you're still smiling
There's nothing more I need
I absolutely love you
But we're absolute beginners
But if my love is your love
We're certain to succeed

If our love song
Could fly over mountains
Could sail over heartaches
Just like the films
If it's reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true

FELIZ NATAL E FELIZ 2007, AMIGOS, COM MUITO AMOR.

Monday, December 11, 2006

Amor incondicional

Enquanto na vida amorosa todos os meus resultados são incompletos e tudo parece estar em colapso (nenhum ciclo parece se fechar e meus três casos recentes não foram vividos plenamente _um beijo fugidio longe de casa, uma garota mais ligada em livros e computadores do que na vida e uma bela psicóloga que não sabe se fica casada ou se separa), com Isabella, mesmo com a distância de 696 km, a vida parece fazer sentido.

Dezessete horas de viagem (ida e volta), diárias de hotel, gasto com material escolar, presente de Natal, gasolina (minha contrapartida para a volta de carro), gastos com alimentação, lanches, tomar Coca-Cola normal, coisa que já não faço mais... Para muita gente tudo isso poderia ser o inferno, para mim é o paraíso. Porque são por essas atitudes, essa presença, que acredito estar vivendo pela primeira vez meu único amor incondicional _o amor de um pai por sua prole.

Logo de cara começo a sentir a sensação de dever cumprido. Chego, me registro no hotel, encontro Isabella e a levo para a escola. Naquele segundo, ela entra pela última vez na pré-escola. Ano que vem, no final de janeiro, ela começa o ensino fundamental. Me sinto parte, sinto que cada centavo está sendo bem empregado. Depois, verifico os documentos de matrícula da minha filha e constato que ela já tomou todas as vacinas e leio o primeiro boletim escolar de uma carreira que eu sei que será longa e que vai bem, obrigado.

No sábado, mantivemos uma tradição que temos desde quando ela tinha dois anos. Fomos ao cinema à tarde. Vimos “Happy Foot”. Tirando as músicas, os efeitos de animação fantásticos, a versão em português meia-boca e o roteirozinho chulé derrubam o filme e tornam seu final ininteligível para uma criança de 5 anos.

À noite, fomos ao Willie Davids ver os balões que participavam do Campeonato Brasileiro de Balonismo fazer o Night Glow... Espetáculo bonito, mas os organizadores estragaram tudo, anunciando que a festa começaria às 19h, quando 19h era apenas o horário de abertura dos portões, deixando as pessoas duas horas trancadas num estádio de futebol, assistindo uma prostituta da cidade fazer um cover podre de Vanessa da Mata, acompanhada de duas piranhas e uma bichona supostamente dançarinos e pessimamente coreografados. Viva a pipoca e o churros...

Mesmo com o soninho e o showzinho dado no restaurante japonês logo em seguida e a longa viagem que teríamos na volta, nada era capaz de desfazer a minha alegria. Tudo valeu a pena no domingo de manhã. Assim que acordamos, ouvi um sonoro e sincero “papai eu te amo!”.

Friday, December 08, 2006

Neologismo sino-francês

Como os brasileiros são criativos!

Como você chamaria um
restaurante/lanchonete que serve yakissoba? Que tal misturar a palavra
yakissoba com o sufixo de origem francesa "eria", que remete a
rotisserie, panetterie... A nova palavra foi vista na rua Barão de
Iguape, na Liberdade, a caminho da Choperia para esbaldar-me no
aniversário de Debbie ontem:

Bem, já imagino o verbete no dicionário:

Yakissoberia - s.f.: Local onde é servido yakissoba, receita de origem
chinesa na qual se refogam macarrão, legumes e isca de carne na manteiga
e cebola, alho e muito molho de soja (shoyu).

Saturday, December 02, 2006

Brasileiro sim, e daí

Quarta-feira caminhava à noite pela rua Augusta, sem eira, nem beira, com uma fome não-específica. O Ibotirama, que serve um pf honesto estava lotado. Lembrei do Violeta, o melhor pedaço de pizza da afamada rua. Ouvi uma voz feminina até que afinadinha cantando Roberto Carlos, era Claudia Abreu. Ela tava na TV (Globo), onde passava o (muito bom) “O Caminho das Nuvens”, de Vicente Amorim, cantando “Se Você Pensa”.

“Das origens”, o balconista gente boa estava com os olhos fixos na tela, babava o tempo todo, se via na história de Romão, que percorre o Brasil de norte a sul (3.200 km) entre a Paraíba e o Rio de Janeiro, levando mulher e cinco filhos, em busca de seu sonho. “Puta filme bom da porra!”, exclamava o “cãoterrâneo”. Também estatelado, falei que o filme era bom pra cacete e que ele deveria assistir até o final. Esqueci de perguntar seu nome.

Roberto Carlos, a quem o filme é dedicado, é a trilha do sonho. Quando faltava dinheiro ou comida ou os dois, a personagem de Claudia Abreu tirava um Roberto da cachola e mandava com os filhos. Com os cobres, enchiam os buchos e os pneus da bicicleta e seguia em frente. Nosso personagem, atrás do balcão, se via na tela e reconhecia. “A gente vê tanta porcaria do estrangeiro e às vezes não dá valor ao que é nosso”. E eu continuei dando força ao nosso amigo. “Eu já vi o filme muito bom”. “Viu no cinema?”, ele pergunta. “Sim, aqui do lado”, respondo.

O nosso personagem não sabe que Amorim é filho de embaixador, ele não quer e não precisa saber disso, ele não está nem aí que o filme é da Globo Filmes, ele não torce o nariz porque Claudia Abreu canta Roberto. Ele acha a história bonita e vê um filme brasileiro, às 22h30 da noite, na Rede Globo! E é isso que importa! O Brasil precisa se reconhecer na tela, foda-se quem ta pagando por isso. Nosso amigo balconista prometeu procurar “O Caminho das Nuvens” na locadora. Tomara que ele ache, tomara que ele assista. Quando eu passar de novo no Violeta, vou cobrar isso dele.

Friday, December 01, 2006

Dirija um kart

Fã de Fórmula 1 desde a mais tenra infância, quando, aos 7 anos, vi Nelson Piquet ganhar seu primeiro título mundial na travada pista de Las Vegas, sempre tive curiosidade de tomar o volante de um monoposto. Realizei esse sonho no último domingo, pilotando o kart, num lugar super legal de tão bizarro, o SP Diversões, no Butantã, numa tarde com o pessoal do "selviço"...

Tinha chovido um pouco antes e os marmanjos decidem então botar o simpático macacão fornecido pelo centro de diversões. Manja aquele macacão podre do seu mecânico, com zíper até a altura da cueca... Pois é, usei um treco desses... Hehehehe

Partimos para as voltas de reconhecimento de pista, mas o meu kart apresentou problemas no seu impressionante sistema de partida e morreu várias vezes, me impedindo de fazer a tomada de tempo. Os carrinhos estavam todos empenados e muitas vezes o freio só freava de um lado, fora isso estava com calçado completamente inadequado...

Apesar de tudo isso ter prejudicado o meu desempenho e me posto no último lugar da competição, correr naquele velotrol turbinado foi sensacional. Por estar posicionado bem atrás do piloto, o motor faz um ronco inacreditável... Nas curvas é preciso ter muito braço e a pista molhada fazia o kart rodar direto. Tudo isso é extremamente adrenalizante e é tudo o que você jamais poderia fazer com o seu carro.

O SP Diversões cobra, segundo os meus colegas de trabalho pesquisaram, um dos preços mais baratos para uma bateria de meia-hora. R$ 48. Eu recomendo. Entretanto, sugiro que os mais sensíveis levem protetor auricular, não pelo barulho dos motores, mas em virtude da horrorosa trilha sonora: Rappa, axé e Bruno & Marrone.

Saturday, November 25, 2006

Porque eu amo São Paulo

Decidi escrever este texto ao parar pela milésima vez no alto da passarela Ciccillo Matarazzo (a passarela do Detran), que liga o Detran ao pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Passava pela enésima vez por ali com a minha bicicleta, mas não pude deixar de parar o olhar para aquele horizonte metade de pedra, metade verde. Árvores, parque Ibirapuera começando a lotar, trânsito insandecido (aliás, como tava parada a 23 sentido Centro), mas hoje tinha sol, hoje tinha céu azul...

Céu azul e sol forte logo após uma noite de chuva, daquelas feitas para dormirmos bem, têm poder abrasador. Acordei cedo e fui buscar o remédio da filhota (que eu entregarei pessoalmente no feriado do dia 8), enchi os pneus da bike e lá estava eu na farmácia de manipulação. Mesmo há quase um mês sem andar de bike decentemente, lá fui eu para o inexorável, onipresente, tesudo, cheiroso, louco parque do Ibirapuera, grande concentração de pessoas zen do bem...

E ao chegar, não pude deixar de sentir o cheiro das folhas úmidas e da terra que subiam, voláteis, rumo ao ar, rumo às nossas narinas. Cada sombra trazia uma sensação única, assim como trecho da ciclovia do parque sob o sol levava aos olhos as matizes mais diversas de cor, o lago do parque parecia encantada, faltando apenas que ali encarnassem fadas diáfanas... Não sei como as pessoas não usam o parque o Ibirapuera como cenário para casar, como os japas fazem no Central Park...

Com um parque como o Ibirapuera, para que uma cidade precisa de vida noturna??? Mas São Paulo tem e só na noite de São Paulo é possível encontrar uma colombiana curtindo Chuck Berry e Ray Charles na pista da Funhouse, depois de testemunhar seu melhor amigo destruir, por desafinação e não por avacalhação, “As Curvas da Estrada de Santos”, no karaokê-restaurante japonês-choperia Liberdade, enquanto era vaiado por falsos moderninhos bombados e tatuados com mullets-interlace que não conseguiam sequer cantar “Besame Mucho”.

E só em São Paulo um amigo seu te liga às 23h30, depois de assistir com a mãe ao Rei no Credicard Hall, nos fundões da marginal Pinheiros, e te chama para sair... E, no táxi, no caminho para a balada, o motorista, admirado por `jovens´ gostarem de Roberto Carlos, revela que teve uma banda de rock nos anos 60, chamada Os Lobos e que conheceu o rei “himself” e que o cara era muito gente fina (“O Paulo Sérgio, que não era nada, era todo metido, já o Roberto sempre conversava com todo mundo. Ele merece todo o sucesso que tem”. Vida longa ao Rei, e te agradeço, São Paulo, por existir, todos os dias. Foi aqui que eu construí o pouco que eu tenho, foi aqui que nasceu minha filha maravilhosa, é aqui o cenário da minha história... Tava com saudades.

Tuesday, November 21, 2006

Suspenso no espaço (sobre POA, mais um pouco)

Um beijo só, entre concedido e roubado, escalado a partir da nuca, galgado em um pescoço branquinho, parcialmente encoberto por charmosos cabelos curtos... Porque algo tão simples envolve tanto mistério? Porque a cabeça de um homem supostamente tão experiente fica de repente enuviada? Porque nada mais serve? Porque todo o resto é apenas consolação?

A resposta é: não sei. Só sei que ela me encanta. Já havia me encantado no ano passado, mas não tive a auto-confiança necessária para me aproximar de fato. Este ano, quando pediu para que eu me sentasse a seu lado durante um almoço, fiquei de queixo caído. Algo tão simples ligou algo em mim de novo.

Na sexta saímos, tocava uma banda cover de Beatles, os mesmos Beatles que já tínhamos cantado juntos outra noite. O beijo aconteceu, mas ela recusou meu carinho, pediu para que eu esquecesse aquilo, mas agora é impossível, querida! Você já faz parte da minha história, pois estará lá, cravado para sempre no meu chip, esse momento mágico.

Ela mora no centro do país e eu aqui em Sampa, é comprometida, mas não paro de pensar nela e meu único desejo é que toda minha vida coubesse numa mala e que eu pudesse juntar a minha mala e a dela em algum lugar. “Será isso a permanência?”, como cantava Ian Curtis?? _um momento fugidio, algo incompleto, porém perfeito?

Toda essa inquietação me consumiu durante horas ao longo do fim de semana, especialmente nas seis horas em que esperei um avião que parecia fadado a nunca aparecer, talvez para me deixar lá, preso em Porto Alegre com as minhas lembranças de viagem, numa outra dimensão, imaginária...

Bem, nossas vidas seguirão. Cada um em sua cidade, com o seu trabalho e todo o resto. Independentemente do que acontecer, tudo isso é só para dizer que adoro você e que posso ser o que você quiser que eu seja: namorado, amigo, confidente. Apenas não quero que você suma.

De volta à São Paulo, imerso em meu edredon, ouvia um disco antigo dos Acústicos & Valvulados e meus sentidos foram tomados por sua imagem novamente ao ouvir estes versos de “Suspenso no Espaço”. A letra é do poeta/baterista Paulo James, para mim o melhor letrista brasileiro.

“Namorado sempre teve mas também quer seu melhor amigo
E falou que já não mais sabia o que podia ser dito ou não
E muito menos eu que espero a música tocar
Suspenso no espaço
Eu que vou tão longe por guardar
Um beijo na memória”

Thursday, November 16, 2006

No lugar certo, na hora errada

Porto Alegre é uma das cidades mais bonitas e encantadoras que eu já conheci. Estou apaixonado pela rua Borges de Medeiros, pelas colunas do viaduto que a divide ao meio, pelos ipês em flor, pelo por do sol no Guaíba, pelos colegas generosos e gentis do congresso do qual estou participando. Até do chimarrão estou gostando. Só peço aos torcedores do Grêmio e do Inter que não se animem, pois não troco meu Flamengo por nada.

Só peguei táxi para levar as malas para o apê onde estou hospedado, em Menino Deus, um bairro misto aqui de POA, perto da Cidade Baixa _ a Vila Madalena daqui, cheia de bares sensacionais, como simpático Van Gogh e seu pastelzinho delicioso, pertinho do Farroupilha.

Como gosto, tenho explorado bastante a cidade andando ou de ônibus. E me surpreendeu a atenção da maioria dos motoristas e cobradores. Fiquei chateado apenas com o atendimento em um só lugar dos vários em que estive, na tal de Olaria. De resto, todo mundo é muito educado e atencioso, os mais legais foram os da churrascaria Garcia´s, aberta a madrugada inteira, na avenida Praia de Belas.

Entretanto, uma gripe logo após uma infecção de garganta que eu trouxe de São Paulo estragou vários de meus planos. Nada de balada até domingo, nada de álcool. Baixei no hospital Mãe de Deus (que atendimento!) e saí de lá agora para dormir muito de hoje para amanhã, pois de tarde teremos a imperdível parte dois de nosso encontro setorial. Uma pena estar no lugar certo, mas na hora errada (se ainda tivesse um colinho!). Espero voltar logo.

Saturday, November 11, 2006

Der Glauben Liebe*

Não consigo entender as pessoas que tentam viver a vida apenas em termos racionais, na tentativa de esquadrinhar sentimentos, interpretá-los o tempo todo. A compulsão humana por esse racionalismo, agravada mais ainda nos tempos atuais, pelos verbos julgar (comparar), planejar, executar me deixam cada vez mais sufocado, me fazendo sentir cada vez mais deslocado na Terra.

Sou do tempo em que os verbos sonhar, amar, viver acompanhavam muito mais o imaginário humano. Cresci lendo as Grandes Aventuras Abril (20.000 Léguas Submarinas, Capitão Tormenta, Ivanhoé, Robin Hood, Os Três Mosqueteiros), todos traduzidos e adaptados por grandes autores brasileiros. Me transportava para aquele mundo o tempo todo, aquelas eram as minhas lendas. Ao mesmo tempo entrava pelos meus ouvidos a música de meu pai e minha mãe, Roberto Carlos, Erasmo, os reis em primeiro lugar e todo um cancioneiro popular do fim dos 70, começo dos 80: Discoteque, trilhas de novelas, como O Astro (internacional), Gilliard, Amelinha, a fase Danado de Bom, de Gonzagão, e Roberto Ribeiro.

A televisão e toda a fantasia e alienação que ela representava naqueles tempos em que o idealismo era torturado e morto nos porões da Ditadura (muito antes da constatação de Cazuza de que as Ideologias perdiam sentido – “meu partido é um coração partido/ e as ilusões estão todas perdidas/Os meus sonhos foram todos vendidos/tão barato que eu nem acredito...”). Mundo afora, Mark Chapman e seus tiros invejosos que mataram o resto de ideologia que John Lennon representava, um homem que só queria a paz num sentido não-burguês. Pôxa, não é à toa que, sendo fruto dessa época de ouro (só os tolos acham que os 80 foram completamente inúteis), eu sou Flamengo.

Meu dicionário era a brochura com todas as letras do Roberto até 1981!!! Por causa desse caldo todo é que eu sou extremamente romântico (muito carente, é claro, mas essencialmente romântico), bem humorado a maior parte do tempo, muito rabugento também, crítico exasperado, jornalista, óbvio... Amante das causas impossíveis: Lula Lá, direitos humanos, igualdade, liberdade ainda que à tardinhA e fraternidade.

Por isso está sendo quase impossível o diálogo com essa moça seis anos mais nova pela qual estou me apaixonando e que ainda não beijei!!! Eu não quero novamente viver outro amor platônico. Eu não quero novamente ouvir o que eu ouvi ontem: “quando eu fico com alguém pela primeira vez eu sumo pelo menos uns 15 dias para digerir o que aconteceu”. Pois eu, baby, tudo que eu quero é te agarrar e se eu te agarrasse eu não ía querer soltar! É lógico que você teria sua liberdade, eu te dou todo o espaço para você mergulhar no seu alemão, nos logs e configurações dos sistemas de computação que você desenvolve, mas eu preciso de contato físico... Me dê algum, por favor!!! Ah, e eu já passei da idade de pedir beijo!

* O título desse post não quer dizer nada. Não sei alemão, apenas sei que Liebe é amor. Glauben tem em seu prefixo letras que formam o nome da moça em questão... Mas se alguém souber que faz sentido, me escreva. Estou, no mínimo, curioso.

Um sorriso do tamanho do mundo

Felicidade. Essa é a impressão que passa e a sensação que causa assistir a um show do Del Rey (união de integrantes do Mombojó com o vocalista China, do Sheik Tosado, bandas de diferentes gerações do rock brasiliano de Pernambuco, com o objetivo de tocar o repertório de Roberto Carlos).

China ou Flávio Augusto, como queiram, que fazia aniversário na última quarta-feira, dia do show, tocava com um sorriso no rosto o tempo todo, feliz, fazendo-me esquecer do DJ que tocava antes da apresentação da banda, que irritou a maior parte dos presentes tocando funks (apesar de clássicos) intermináveis, aquela coisa sem refrão ou só com refrão... (um parêntesis deve ser feito aqui, os DJs que tocam no Studio SP parecem ter esse triste costume de estragar o clima com um repertório extremamente pessoal e completamente nada a ver com o clima da noite).

O cantor é um performer nato, nasceu para o palco. Devia ser um daqueles garotos que nas festas de família fazia imitações, cantava as últimas do Balão Mágico ou imitava as caretas de Jerry Lewis. E ele parecia realmente à vontade, como se estivesse na sala de casa...

Ao repertório, nenhum retoque: uma cobertura extensa da fase ultra pop-rock-soul de RC (1966 até 1970), com esporádicas aparições, muito bem colocadas, de clássicos dos 70 como "Detalhes", "Além do Horizonte", "Ilegal, Imoral ou Engorda" até hoje no repertório do Rei. Apenas senti um pouco a falta de uma ou outra canção mais filosófica como A Janela, O Divã, Traumas. Mas como encaixá-las???

Roberto e Erasmo e até Ronnie Von merecem todo o culto que usufruem hoje e quando cultivados por caras espertos como os do Del Rey vale a pena. E, gente, o Brasil tem que conhecer o China.

Thursday, November 09, 2006

Caso encerrado

Wander Wildner respondeu e-mail deste escriba sobre o episódio da cobrança de ingresso antecipado, em cash, no último show da temporada em que ele tocou toda terça-feira no bar e não teatro musical Mão Santa (veja o post abaixo).

Ao contrário do que afirmou o pessoal da casa, Wander respondeu que não houve tal acerto com sua equipe e ele não sabia que a cobrança estava sendo feita dessa forma. Pediu desculpas pelo inconveniente e disse que, nos próximos shows, vai cuidar para que isso não ocorra novamente.

Eu que devo desculpas por ocupar o tempo dele com assunto tão banal. Fiquei muito grato e honrado com a resposta de WW.

Thursday, November 02, 2006

Odiei o lugar, mas amei o Wander

A expectativa diante do show de Wander Wildner no último dia 31 era enorme. Seria o último show de sua temporada de todas as terças em São Paulo, no Mão Santa (rua Mourato Coelho, 816, Vila Madalena, São Paulo), o que sempre prenuncia um show especial, ainda mais quando anunciado que teria a participação especial de Júlio Reny (artista solo, guitarrista, ator, radialista, integrante de bandas como os Cowboys Espirituais, Expresso Oriente, lançando um novo disco solo “Dias de Chuva”, enfim uma lenda do rock gaúcho, com quase 30 anos de serviços prestados à música).

Uma pena que parte dessa expectativa acabou frustrada, causando-me, inclusive, uma descarga tão bruta de adrenalina que me rendeu uma dor de cabeça monstro só curada pela atenção amiga da Helô.

A parte mais frustrante foi que a participação do Júlio não pôde ser considerada especial. Não por causa do show, que foi ótimo, apesar de ter sido uma apresentação de abertura, curta, é claro, mas devido ao desrespeito do público com o artista. As conversas das pessoas na audiência eram mais altas que a bela voz do cantor no (fraco) sistema de som da casa. Ninguém prestava atenção, mesmo com os arranjos maravilhosos do guitarrista apresentado por WW como Viajandão. E uma vez que a participação do artista foi divulgada como especial, eu tinha entendido que ele e o Wander, apesar de suas formações musicais distintas, iriam fazer uma jam, mas não rolou...

Até aí, tudo bem, mas a frustração foi antecidida por incidentes muito chatos. Não sei se por ser uma temporada fechada, num dia não muito maravilhoso (terça-feira), a casa (que anuncia aceitar cartão de crédito e débito) cobrou os R$ 10 de entrada na porta, em dinheiro... Como estava só, metade da minha grana do táxi já ficou ali mesmo. Segundo o porteiro, essa cobrança antecipada de ingresso foi decidida entre a entourage do músico e a casa. Com a palavra o Wander (estou mandando um e-mail para ele sobre isso).

Pessoalmente e financeiramente, não fico puto pela cobrança antecipada, mas me senti aviltado como consumidor. Se o ingresso custava R$ 10 para todos, antecipado, pagos na porta e não no final da conta, porque mesas reservadas? As condições deveriam ser iguais para todos os consumidores, não é? Fui um dos primeiros a chegar e fiquei sentado no fundo e sou fã igual a maioria das pessoas que estava ali... E se o esquema da casa é bar com show, deveria cobrar couvert artístico e não ingresso, com pagamento na saída e aceitando todas as formas de pagamento disponíveis. E se o esquema da casa é show, com bar, não deveria permitir que parte dos consumidores ficasse em pé, atrapalhando a visão do artista para boa parte da audiência, eu incluso.

Não bastasse isso tudo, no letreiro da casa havia a informação “chopp” e a casa só vendia cerveja em garrafa e em lata, de três marcas: Schincariol, Skol e Original. Pedi uma Original que chegou quente a minha mesa e, apesar da minha reclamação, não foi trocada. Detalhe, a pobre garçonete, casa lotada, mais perdida que o Mr. Magoo no trânsito, não me disse que havia latinhas... Infeliz com a cerveja, pedi uma Coca-Light... Não tinha. Só a Coca-Hard... E refris de limão e guaraná, da Schin...

Decidi não beber mais nada, mas tava um puta calor dentro daquele lugar pequeno e pedi uma coca normal mesmo, com bastante gelo para diluir, mas já tinha acabado a coca... Tomei uma schin de Limão, parecia a Tubaína do demo!!!! O copo cheio de gelo foi minha salvação... Tudo isso para dizer: pode tocar o WW de novo, o Ira!, o Roberto Carlos naquela p... de Mão Santa, que eu nunca mais piso naquela m... Lugar de bosta. Mais um (confira os posts Lugarezinhos de Merda 1 e 2).

Mas graças a Deus, WW, que estava alheio a tudo isso, sossegado, assistindo o show do Reny (o qual apresentou com enorme carinho) como todos os mortais. Em seguida, subiu ao palco com o mesmo guitarrista do show do Studio SP e arrasou. Acústico, Wanderley Luiz Wildner mostra todas as nuances de sua voz enorme, às vezes rouca, às vezes grunhida, porém sempre afinada, um Tom Waits melhorado, menos excêntrico, brasileiro, latino, com suas letras que de uma hora para outro mudam de curso, mas que dizem o simples (o simples é sempre o mais difícil de alcançar e ele alcança o simples com facilidade). No show, WW se dividiu com maestria entre os clássicos gaúchos revisitados como “Empregada”, “Amigo Punk” e “Um Lugar do Caralho” e suas próprias canções. Poucos acordes e muita alegria e sorrisos no rosto de quem o vê.

Já escrevi demais, o repertório do show fala por si...

Ganas de Vivir (Juan Suarez)
Refrões (WW)
Bebendo Vinho (WW)
Anjos e Demônios (WW)
Um bom motivo (WW)
Quase Um Alcoólatra (Giancarlo Morelli)
Empregada (Frank Jorge)
Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro (WW)
Você Já Era (Out Of Time) (Jagger/Richards, vers. Clarah Averbuck)
Minha Vizinha (Gerbase/Wildner)
No Ritmo da Vida (WW)
Um rapaz só (Lonely Boy) (Steve Jones/Paul Cook, vers. Marcelo Moreira)
Correndo por Correr (Todo Mundo Um Dia Vai Embora) (Sandro Nunes/WW)
Candy (Iggy Pop)
Rodando El Mundo (WW, com citação de “Machu Pichu”, de Hermes Aquino)
Maverickão (Zicco Cardoso)
Mantra das Possibilidades (WW)
Um Lugar do Caralho (Flávio Basso a.k.a Júpiter Maçã)
Última Canção (Vico)
Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo (WW)
Amigo Punk (Frank Jorge)

Saturday, October 21, 2006

100 páginas de puro sexo

Sexo é a união de duas ou mais pessoas em busca de prazer. Sexo heterossexual é a união de um homem e uma mulher em busca de prazer, portanto é a união de pintos e bucetas em busca do bem mútuo daquelas duas pessoas que compartilham a alcova, o chão do banheiro, a pia da cozinha, o motel, enfim, qualquer lugar... E com a mercantilização do sexo, ou seja, desde que o samba é samba (afinal não dizem que a prostituição foi a primeira profissão???) veio o erotismo e a pornografia, duas faces de uma mesma moeda _a demonstração ao público de manifestações pessoais tidas íntimas: o corpo e o sexo até então invioláveis.

Entretanto, no mercado editorial de revistas eróticas brasileiro e, para bem dizer, mundial, sempre imperou o termo revista masculina. Enquanto que no mercado pornô, a busca por produtos que agradassem a platéia feminina, como filmes de softcore ou de pornôs com história, por exemplo, começava, nos idos dos 80, a abrir um veio em busca do mercado feminino, o mercado de revistas eróticas de estagnou nesse sentido. Com a revolução trazida pela web e a crescente produção de vídeos caseiros proporcionados pelas web cams, esse mercado parece quase obsoleto, colocando mulheres até então insuspeitas em busca da realização de suas fantasias em meio aos downloads e uploads.

A boa surpresa é o retorno do título EleEla, mais Ela do que nunca. Do alto de seus 37 anos, a revista renasce com um projeto editorial (de Wagner Carelli) e gráfico soberbo, com sexo em suas 100 páginas, com muitas bocetas e também com pinto (afinal essa história tem duas metades), mas mantendo algumas tradições como a sessão Fórum, repaginada, com textos de primeira, como o belíssimo conto “Truco”, de Ivana Arruda Leite.

Em busca desse futuro, a revista parece seguir um promissor caminho (sem volta, espero). Já começa mostrando o trabalho de duas exibidas da internet, Olívia e Rosa, duas amigas que gostam de fotografar uma a outra, nuas. Não há praticamente uma página sem link para a web (será uma dica que o futuro está lá fora, ou melhor, na rede?) e tirando a página com o retrato do genial Contardo Calligaris, praticamente não há nenhuma página que não exale sexo. Enfim, surge uma revista erótica não exclusivamente masculina, uma revista que um homem e uma mulher podem ler juntos e não um de cada vez. Boas transas para todos e vida longa à nova EleEla.

A primeira polêmica

Enfim o blog tem sua primeira polêmica! Êba!!! Num momento ego-surfing mais do que justo, o músico Ricárdo Cunha, da banda Super Reverb, reclama a correção de uma informação em um parágrafo do post Carta à WW (23 de setembro de 2006), no qual eu falo de um recente show de Wander Wildner em São Paulo e expresso meu descontentamento com o show da banda de abertura_ a banda dele.

Sei o quanto é duro o trabalho de uma banda (afinal já tive duas e convivi de perto com várias outras, algumas bem sucedidas, outras não) e não duvido que a dele deve trabalhar muito. Mas ali apenas quis expressar meu descontentamento com o som dos caras.

Entretanto, cometi um erro de informação ao ter dito que eles apresentaram uma música dos Stones como sendo da banda CokeLuxe, o qual corrijo agora (leia aqui a nova versão do post e desça até o final para ler o comentário do Ricárdo). Aliás, pesquisei e relembrei que “It´s All Over Now”, eternizada por Jagger e Cia., é uma versão rascante para uma composição dos americanos Bobby e Shirley Jean Womack. Na verdade, eles apresentaram a música (tocaram uma versão em português) como se fosse de Eddy Teddy, amigo dos caras, autor de uma versão em português do clássico dos Stones, boa, por sinal, melhor momento do show.

Reproduzo abaixo e-mail que enviei para o músico no dia 20 de outubro, assim que fui notificado pela Blogger sobre o comentário dele.

“Ricardão,

Muito obrigado pelo seu comentário no meu blog. Nada contra a mistura de
estilos. Minha coleção tem de tudo. Só não gostei do som da sua banda,
acontece. Adoro rockabilly, antigo e moderno, de Little Richard a Stray
Cats, mas com sua banda, sei lá, seja ela eclética ou predominantemente
rockabilly, não gostei.

Sobre a correção com relação ao nome do Cokeluxe, muito obrigado! De
coração. E realmente minha memória (e principalmente, o som do Studio SP)
pode ter me traído, mas ouvi uma menção à banda durante o show, pode não ter
sido neste momento, sobre o que me desculpo. Farei uma nova edição do texto
e um post para chamar a atenção sobre a correção no fim de semana (não posso
fazer isso de onde estou neste momento) em que apenas criticarei não ter
sido dado o devido crédito à canção eternizada pelos Rolling Stones, mas de
autoria de Bobby e Shirley Jean Womack, acabei de pesquisar.

Lamento, entretanto, a análise que você faz sobre o jornalismo. É uma
profissão em crise, mas que tem muita gente correta, não todas, como em
qualquer profissão do mundo, inclusive na música, carreira que eu tentei,
mas não abracei. Quanto ao blog, ele não é essencialmente jornalístico, ele
é pessoal, um apanhado de impressões pessoais, sem obrigação para com a
correção jornalística, com a qual coaduno.

Um abraço,

Marcelo

P.S.: E continue escrevendo, escrever é muito bom mesmo.”

Mesmo não concordando com vários pontos do comentário de Ricárdo, me ative a corrigir a informação e não aquecer a polêmica, apesar da brincadeira no título deste post. Entretanto, não recuo um milímetro do que quis expressar naquele parágrafo: não gostei do som da banda, que tanto poderia estar num mal dia ou ser ruim mesmo. O som da casa também não estava lá essas coisas... acontece. E espero não magoar os sentimentos de ninguém em nenhum post futuro.

Monday, October 02, 2006

Eu me lembrarei dessa noite para sempre

À tarde Liebe Dich havia se materializado num telefonema de dois minutos, depois, como névoa, sumiu de novo... Antes que a ansiedade me destruísse completamente, fiz o que costumo fazer nessas situações: fui ao cinema. Queria ver “O Maior Amor do Mundo”, mas a fila para comprar o ingresso estava enorme depois que o Gerald Thomas bombou o filme em um artigo para a Folha de S. Paulo.

Atravessei a rua e optei por uma grata surpresa: o primeiro longa de Edgard Navarro, do média-metragem “Superoutro” (quem nunca viu esta pérola, procure-a), “Eu Me Lembro”. O filme é maravilhoso, um raro mergulho autobiográfico de um cineasta brasileiro. Cheio de memórias, faltou apenas o sabor da cocada, o cheiro do baseado e o aroma de alfazema para que o deja vu fosse completo.

As canções, as cores, a cenografia, o sotaque baiano, enfim, tudo, me trouxeram também lembranças da minha mais tenra infância. Muito daquilo contado ali está presente no epitélio da minha subconsciência. O canto, a mãe preta, todos aqueles elementos me trouxeram a memória minha primeira viagem ao interior de Sergipe, quando tinha cinco anos... Com toda essa idade, aquela viagem foi um marco em minha vida. Foi quando despertei e descobri que o mundo não era apenas eu.

O contato com a cena agreste de Sergipe foi um choque para um garotinho bem criado de Santos, que crescia à um quarteirão da praia. O contraste entre as duas realidades me trouxe um estranhamento natural, cujo auge se deu no contato com a benzedeira preta (é a primeira lembrança que tenho de uma pessoa tão preta). O contato da arruda molhada com água benta na minha testa, o cheiro do insenso com a arruda, a reza cantada em voz aguda e alta, me fizeram gritar, espernear, chorar enraivecidamente, com ódio de meus pais. Porque eu estava ali?

Eu estava porque tinha que ser batizado naquela cultura. Foi um ritual. Eu era aquilo tudo e não poderia negar jamais. Sou filho de nordestinos e toda aquela força terrena está no meu sangue. É da terra que tudo brota e é daquele barro que eu sou feito. Agradeço até hoje ao meu pai por aquele batismo de sangue, aquele momento, me inundando com a nossa cultura... Hoje não tenho mais medo de sarapatel e dobradinha e tento descobrir, em cinco minutos, de onde é cada nordestino com quem eu converso. Eu amo esse povo.

E a noite prosseguiu. Liguei para o velho companheiro de guerra, MS. Depois de um papo agradável e muita comida no Exquisito!, atravessamos a rua e fomos na Funhouse. Apesar de ter quebrado minha promessa e bebido pacas, inclusive vodka, eu lembro de absolutamente tudo, viu, Rê... Até quinta...

O mundo precisa ouvir Steve Marriot

Estou completamente fascinado por Small Faces e seu líder, Steve Marriot. Junto com outro gênio, Ronnie Lane (que depois montou os Faces com Rod Stewart e Ron Wood), o cantor baixinho e cabeçudo criou umas das melhores pérolas pop dos anos 60, como “Itchycoo Park” e seu lado B, “I´m Only Dreaming”, “All Or Nothing”, “Here Comes The Nice” e “My Mind´s Eye”.

Estou ouvindo a banda o tempo inteiro, nos últimos dias. Meu primeiro contato com os caras foi através do compacto simples de Itchycoo/I´m Only, que eu comprei num sebo de Santos por R$ 1... Hahahahaha. Depois, a curiosidade ficou ali, atiçando, e fiquei uns três anos percorrendo lojas de CDs atrás do vol. 32 da Definitive Collection, uma série alemã, pirataça, lançada no Brasil pela Paradoxx (às vezes aparecem uns volumes dessa série na Neto Discos e na Virtual Discos).

Entretanto, o que me fez ter certeza que os caras são gênios foi o You Tube, onde assisti uma performance impressionante de Marriot e a da banda no programa Beat Beat Beat, da TV Alemã, por volta de 1965, onde eles interpretam “Hey Girl”, “Watcha Gonna Do About It” e “Sha La La La Lee”, seus três primeiros sucessos. Marriot tem uma voz impressionante ao vivo e uma performance que, na época, deixava no chinelo Mick Jagger e Ray Davies.

Outra coisa que está me impressionando é a semelhança do vocal de Robert Plant com o de Marriot em alguns momentos. A voz do cantor do Small Faces que, após o fim da banda, criou a boa banda de hard rock Humble Pie, que revelou Peter Frampton, é uma espécie de protótipo das maneirices dos vocalistas de hard rock, como Plant e Paul Rodgers (Free). Para quem acha a comparação bizarra, faça a checagem comparando as versões de Plant e do Small Faces para o clássico “If I Were a Carpenter”.

Para quem ainda tem dúvidas de que a obra de Marriot, morto em 1991, é perene, procure ou baixe o DVD Tributo a Steve Marriot, gravado em 20 de abril de 2001 no Astoria Theatre, em Londres. O show teve as presenças de Noel Gallagher, Paul Weller, Peter Frampton, Kenny Jones e Ian MacLagan. O Humble Pie se reuniu após trinta anos para este show e toca seus clássicos como “I Don´t Need No Doctor”, a versão de Weller com Noel, Jones, MacLagan e Gem Archer de “I´m Only Dreaming” é inesquecível. O DVD é achável nas bancas da região da Paulista, custa R$ 12,90.

Nova série: Listas Bestas 1

Momento Rob Fleming...

Dez melhores rrrrrrocks e baladas com sax... Jazz não vale

Nem curto sax e o uso exagerado de metais pode ser prejudicial ao rrrrrrrrock, mas outro dia estava pensando que, às vezes, um sax vai bem.

Never Tear Us Apart – INXs
Bitch e Brown Sugar – Rolling Stones, as duas com Bobby Keys no sax
Aladin Sane – David Bowie
Where Have All The Good Times Gone – vers. do Bowie, com o próprio camaleão no sax
Money – Pink Floyd
You Know My Name (Look Up The Number) - Beatles, com Brian Jones (Stones) no sax
I´m Only Dreaming – Small Faces (tem três segundos de sax, mais ou menos, mas entra devido meu momento Small Faces)
Good Golly Miss Molly – Little Richard
Shipbuilding – Elvis Costello

Wednesday, September 27, 2006

Hoje eu vi o horror e revivi um sonho passado

Pelo menos nove anos após nosso último encontro, revejo Aline em um restaurante japonês onde participava de um almoço de trabalho. O choque foi instantâneo. Ela estava mais alta (eu a conheci adolescente) e mais bela, sorriu seu melhor sorriso, entre surpresa e abalada. Eu levantei imediatamente da cadeira e a abracei demoradamente, conversamos pouco, pois estava trabalhando e peguei tudo que eu busquei durante os últimos nove anos, conversando com amigos em comum nossos, seu telefone e seu endereço.

Findo o almoço de trabalho, devidamente atrapalhado pelo choque, segurava aquele pedaço de papel como se fosse a minha vida. A memória de momentos emocionantes de minha vida estavam ali. Na época da faculdade, Aline era a minha parceira de rock´n´roll. Uma das maiores artistas que conheci, com múltiplos talentos (suas dobraduras e caricaturas são inesquecíveis), ela deu um pira em todos nós, viveu na Europa (Firenze e Barcelona), vendeu artesanato, dizem, chutou tudo e eu quero muito saber o quanto é verdade e contar tudo o que aconteceu comigo nesse tempo (é claro que já deu para mostrar a foto da minha filha!!!).

Mas não deu tempo de dizer, Aline, o quanto eu te amo e o quanto eu te admiro e o quanto eu sempre pensei em você. E eu vou falar tudo. Novidades nos próximos capítulos.

Ao acordar do sonho, vi o horror pouco depois. Em seguida ao almoço, saí para uma diligência de trabalho. Objetivo: visitar um abrigo de crianças com deficiência mental em situação de risco _em bom português: crianças deficientes abandonadas por suas famílias e que, tuteladas pelo Estado, passam a vida perambulando entre instituições pestilentas e imundas, como o local visitado ontem.

Vinte e cinco crianças, adolescentes e adultos, entre elas três moças, dividiam três quartos imundos, com colchões no chão, amontoados um sobre o outro. O cheiro de urina e mofo tomava conta do lugar. Todos estavam há dois meses no local, sem atendimento médico, odontológico e psiquiátrico. Remédios tarja preta eram armazenados na mesma dispensa que o arroz e o feijão. Já visitei cadeias em delegacias, já visitei unidades da Febem, mas ali, enfim, me senti no inferno_ o inferno do abandono, onde crianças de nove anos têm que lavar as próprias roupas.

Pedimos pelas fichas das crianças e nada. A resposta dada é que as crianças sairão dali no próximo sábado e irão para um prédio do Estado. E esses dois meses já passados, como o Estado vai recuperar? Mas, por incrível que pareça, as crianças e adolescentes nos contavam que aquele local nojento e imundo era melhor que o último abrigo onde estiveram, em Embú-Guaçu, onde eram agredidos e humilhados por supostos educadores.

A decisão saiu na hora. Chamamos a imprensa e mandamos um relatório urgente para o Juizado da Infãncia e da Juventude. Esperamos que antes de sábado elas saiam de lá. Carentes, os mais novos, principalmente, seguravam nossas mãos e pediam para ser adotados, seguravam minha câmera fotográfica e o gravador que emprestei para uma colega tomar depoimentos, pediam para ser fotografados em suas roupas maltrapilhas. Ofereciam seus melhores sorrisos e eu queria gritar, mas não podia. Quero apenas retransmitir-lhes seus gritos.

Monday, September 25, 2006

An Ideal For Living

Maria Schneider: Terminou, acabou, chega!
Marlon Brando: Terminou e agora começa tudo de novo, e de novo, de novo...

Sensacional, não???

A vida podia ser como ``O Último Tango em Paris´´ (dir. Bernardo Bertolucci, 1972), não é?

Impulso e controle

Gente, faz um frio absurdo em São Paulo neste momento. Há exatamente 40 minutos, às 23h36, saí de casa, com o pijama por baixo da jaqueta, em direção ao supermercado 24 horas que fica um quarteirão e meio _e duas avenidas atravessadas_ de casa. Objetivo: comprar algo doce que não fosse sorvete (a droga mais pesada que eu consumo).

Consegui resistir ao sorvete, mas o impulso por doce era monstruoso. Antes de pagar as comprinhas, já tinha tomado um chandele e terminei o outro antes de chegar na esquina da primeira avenida, no caminho de volta. Na seqüência, abri e comecei a comer o biscoito Negresco, o outro item da compra. Após cruzar o portão do prédio, comecei a sentir enjôo. Parei. O pacote ficou pela metade, provavelmente ficará daquele jeito no armário por um bom tempo agora.

Impulsos. Tenho (não) lidado com eles a vida toda. A começar pelas minhas coleções, que foram sendo interrompidas ao longo do tempo: figurinhas, action heroes, selos, Playboys, até chegar aos discos (com esta paixão e a anterior eu não parei!!!). Depois ou simultâneamente vieram as paixões, primeiro as platônicas (de vez em quando eu ainda faço essa merda), depois todas as demais, sempre insanas, com direito a poucos amores e muitos machucados...

E assim as paixões e impulsos têm me domado. Ontem, conversava com um amigo, que pregava: “triste o homem que se deixa dominar pela carne”. Em seguida, conversava com uma ex-, convertida em amiga (na verdade, ela nunca deixou de ser amiga, mas é ex-também, merece o crédito) e ela me disse: “você precisa de controle”.

E, apesar de eu, até hoje, não ter corrido nenhum risco de vida absurdo, de não ter estado perto da morte de verdade, sei os riscos que uma vida desregrada pode trazer. Eu sempre soube disso. Hoje sei mais ainda, afinal tem uma pequena-grande menina de 6 anos que precisa de mim a 700 km daqui. Faz seis meses estava com o colesterol alto, o triglicérides na puta que pariu... E eu os venci, emagreci, fiz dieta, tomei 45 dias dos 90 previstos de remédio e tá lá, os índices baixaram.

Porque não posso fazer isso com a minha paixão, com o meu dinheiro, com minha libido, com minha paixão pelo álcool? Porque tenho que me apaixonar por todo sorriso ou unhas vermelhas em um pé branco toda vez que vejo uns, porque tenho que gastar todo meu dinheiro em pouco tempo e me endividar como um suicida louco, porque tenho que trepar toda vez que tenho vontade, mesmo sem ter ninguém com quem trepar, porque tenho que beber muito toda vez que saio? É preciso controle. E, muitas vezes, sobre a bike, eu tenho todo o controle... Essa magrelinha tem sido fundamental. As próximas vítimas serão os livros parados na estante... Pasarán todos!!!

Saturday, September 23, 2006

Carta à WW

São Paulo, 23 de setembro de 2006,

Caro Sr. Wanderlei Luís Wildner,

Venho por estas mal traçadas linhas dizer que o show do senhor ontem no Studio SP foi foda. Putaquipariu, o show foi pau-a-pau com os dois maiores espetáculos de sua arte que eu assisti_ o show especial de Curitiba Rock Festival, em 2004, com o Frank Jorge, e um show que o senhor deu em 2000, quando estava na Trama (calma, vai passar!!!), no Blen-Blen, com o Júpiter Maça abrindo. O show foi tão bom que fiquei com uma conterrânea vossa aquele dia...

Bem, Wander, posso te chamar assim? Olha, o senhor arrumou uma puta banda boa agora, hein... A baixista, além de ser uma espoleta, toca bem pacas, e o guitarrista ainda precisa dar umas ensaiadas, mas quando ele dá aqueles solinhos Neil Young, o som fica maravilhoso, mais adequado ainda às proporções de seu talento.

Meu caro, agora eu queria tecer considerações sobre o local do show. Puta lugarzinho metido do caralho... Casa de artista pau no rabo do carai, velho... Tava de ressaca e com sono e não queria beber mais. Fui pedir uma coca, o negócio veio quente, fora os DJs que tocaram: dois imbecis, querendo dar showzinho. O primeiro parecia que achava que só tem rock nos EUA, só tocou Strokes e outras bandas americanas que acham que os anos 80 foram do caralho. Foram bons, só. O segundo chegou na maior marra, ligou um computadorzinho todo cheio das luzinhas e só acertou no final quando tocou “Se Você Pensa”, do Rei.

Meu, e teve aquela banda de abertura, o Super Reverb, que acha que toca rockabilly. Perdoando o colega baixista, o resto foi uma tristeza... Como na hora em que o vocalista anunciou que iria tocar uma música de um amigo dele, chamado Eddy Teddy!!! O negócio era uma versão de “It´s All Over Now” (Bobby e Shirley Jean Womack), eternizada pelos Stones... Assim não dá. Pô, afinal Wander, o povo estava no Studio SP para ver WW, não para ver o DJ ou Super Reverb, que ainda reclamou que o show terminou antes do combinado!!!

Mas falando em versões, vamos tecer considerações sobre seu repertório, Wander. Falando em covers, vamos começar por elas. Caceta: abrir com “Ganas de Vivir” foi genial, emocionante. O senhor tocou “Candy” também, “Lonely Boy”, metade na versão do Roger (não é?), metade no original. E tocou dois clássicos geniais do rock gaudério: “Um Lugar do Caralho”, de um tal de Flávio Basso, e “Empregada”, do tal do Frank Jorge... Me senti em POA, isso porque nunca estive lá. Se Deus quiser verei o Guaíba com os meus próprios olhos em novembro.

A versão que o senhor tocou de “Eu Não Consigo Ser Alegre o Dia Inteiro” foi demais! Comecei a lembrar da minha linda filha, que está morando longe de mim, em Maringá, de quem tenho saudades imensas. Ela é a maior fã do senhor, desde os dois anos de idade. Ela adora “O Sol que Me Ilumina”, “Eu não consigo...”, mas a preferida dela é “Eu Tenho Uma Camiseta Escrita eu Te Amo”... Fiquei com um nó na garganta quando você tocou “camiseta”.

Foi um barato uma vez que viajamos juntos do Paraná para São Paulo e eu tive que explicar o que era porre. Imagina se ela ouvisse a versão que o senhor toca ao vivo... Um dia tenho certeza que eu e ela veremos um show do senhor juntos, aí, creio eu, ela já vai saber o que quer dizer aquela outra palavra que o senhor canta nessa música ao vivo... E eu não terei que passar pelo constrangimento de explicar.

E teve o bloco alcóolico de seu repertório, com “Bebendo Vinho” e “Quase um Alcóolatra”, que eu gosto muito e não esperava que o senhor a tocasse. É uma belíssima canção!

Bem, vou ficando por aqui e lhe desejo boa viagem e boa temporada!*

Um abração,

MO

*WW viajaria para um show em BH assim que terminasse o de SP. A partir da primeira terça-feira de outubro, tocará todas as terças com los Comancheros na casa “Mão Santa”, na rua Mourato Coelho, na Vila Madalena.

Sunday, September 17, 2006

Quem estava na Funhouse?

Olhando as fotos do Motomix, finalmente descobri quem estava na Funhouse na madruga de sexta para sábado. Além de Alex Kapranos, estavam presentes o baterista do Franz Ferdinand, Paul Thomson, o vocalista do Art Brut, Eddie Argos, que pessoalmente parece muito Oscar Wilde, e o guitarrista do AB, Chris Chinchilla, que era quem conversava com o headbanger brasiliense sobre Deep Purple. Para Argos, que parecia estar bem louco, este escriba recomendou: "Don´t worry, man! Just never get worried!"

Saturday, September 16, 2006

Franz Ferdinand na Funhouse

Alex Kapranos e sua entourage passaram esta madrugada (de sexta, 15, para sábado, 16) na Funhouse, em São Paulo. Kapranos, pelo menos mais um integrante do FF, roadies, amigos e talvez gente do Art Brut e uma cicerone brasileira foram curtir a verdadeira "casa de todas as casas".

A turma chegou por volta das 2h, circulou por todos os ambientes e acabou ficando de vez no lounge (piso superior), curtindo a jukebox com os fãs, onde tocava Weezer, FF (o brasileiro nem sabe agradar) e Clash. Um dos FFs se entretia com um headbanger falando de Deep Purple e a banda nem dava sinais de estar preocupada com a perseguição da prefeitura de São Paulo ao evento.

Na sexta, parte das performances programadas para o MIS e o Mube foram canceladas pela administração (Serra) Kassab. Até as 8h de hoje, o novo local da performance do FF, Art Brut e outros, prevista originalmente para um lugar medonho chamado Espaço das Américas, na Barra Funda, e também cancelada pela prefeitura, não estava agendado.

Apesar disso, a banda e seus amigos se divertiam numa boa, conversando com todos que os abordavam, especialmente Alex Kapranos, cuja masculinidade foi testada por uma bela fã-kosher carioca, que saiu satisfeita com o beijo do vocalista/guitarrista, cuja sexualidade é o assunto de mais matérias do que o som da banda. Destaque especial para uma turma grande de Brasília que veio à São Paulo especialmente para o show e que praticamente tomava conta do lounge da Funhouse, perguntando o tempo todo onde estava Clara Averbuck, e para Deborah, uma verdadeira Deusa.

A única cara feia na turma era a da cicerone da banda, que olhava preocupada a cada vez que alguém se aproximava, mas tanto Kapranos como seus amigos estavam curtindo mesmo o contato direto com o público.

E entre os fãs da banda que estavam na Funhouse o boato é que o show seria transferido da Barra Funda para o excelente Via Funchal, na Vila Olímpia, disparada a melhor casa de shows de São Paulo.

Thursday, September 07, 2006

Scandurra e Vanessa no gargarejo




Como é bom voltar ao rock´n´roll!!! Estava havia alguns meses sem ir a um bom show de rock, desde um show do Ira! em praça pública. Em meio ao marasmo alucinado de muito trabalho, nem tinha atinado para as datas do Campari Rock e nem do que estaria em risco se perdesse os shows de Gang of Four e Cardigans_ duas bandas que não estão muito presentes em minha discoteca.

Apesar de ter influenciado boa parte da geração brasileira de músicos dos anos 80, como Ira!, minha banda preferida, a fase inicial dos Titãs e um pouco o pessoal de Brasília, nunca tinha parado para ouvir Gang of Four. Como não tenho um bom computador, nunca fiquei baixando música e algumas faixas ouvidas num iPod (é assim que escreve?) era tudo o que eu conhecia (valeu Helô!), fora os versos do refrão de “Damaged Goods” (your kiss so sweet/your taste so sour), já ouvidos em algumas baladas. Ponto.

Mas os tiozinhos, todos na casa dos 50 anos, ao vivo, impressionam. A começar pelo vocalista Jon King, cujos trejeitos foram imitados por inúmeros outros astros do rock, de Peter Garret, do Midnight Oil, a Renato Russo. O guitarrista Andy Gill, que produziu meio mundo nos anos 90, inclusive o Red Hot da época do guitarrista Hillel Slovak, é um show à parte com seus vocais e suas (des)sutilezas na guitarra alta, muito alta. Como o vocalista não toca nenhum instrumento, apenas destrói um microondas com um taco de beisebol, o baixo de Dave Allen assume muito mais funções do que apenas acompanhar. Muitas vezes ele é a base ritmíca sobre a qual Andy delira com apenas seis cordas. E o baterista Hugo Burnham, que não tocava desde 1986 e estava preocupado com seu som, segura a onda com competência.

Na platéia, do meu lado, meu ídolo, Edgard Scandurra, gritando como um garotão. Estranho ver o artista que você admira na platéia, pedindo uma música insistentemente, ali, do gargarejo. No show dos Cardigans, outra honra, Vanessa Krongold, do Ludov. Fiz questão de abrir passagem para a melhor cantora desse país poder tietar com paixão. Sorriso de fora a fora, admirando como uma cantora pode tão bem reencarnar outra. Nina Persson é Stevie Nicks quando jovem. Alguém tem que avisar o Cardigans para fazer um show tocando o Rumours inteiro...

Bem, e teve o Montage! Cara, uma das melhores performances de uma banda brasileira que eu vi na vida... O que é aquilo!

Renata, valeu pelo toque! Foi lindo.

Pra quem não viu o show, clique aqui para ver as fotos de Renata D´Elia, direto do gargarejo.

Sobre a foto: fim do show, minha amiga não resiste e pede 5 segundos para o Edgard. Eu preferi fazer um xiste e esticar o pescoço, bancando o "pirate´s parrot".

Sunday, August 27, 2006

Carta para ela

Olha, “sem rótulos” (hehehehe)... Não importa o que vai dar no final, o que importa é que tenho que dizer que esses últimos nove dias que eu tive foram maravilhosos. E aconteça o que acontecer, seja daqui mais nove dias ou nove meses, tenho que dizer que tive uma semana e pouco daquelas que se têm poucas oportunidades para viver. Uma semana com sete dias inesquecíveis, daquelas que, acho, todo mundo gostaria que acontecesse mais vezes na vida.

Estar contigo é um constante desafio, um eterno conquistar. Suas “exigências” só aumentam a minha vontade de acertar, a vontade de querer que dê certo. É por isso que aceito seus movimentos, suas cartas... Ao fazer tuas vontades, alimento também os meus desejos. Não estou infeliz nem um pouco, não houve tempo para infelicidade ainda.

E é com esse frescor da novidade que eu posso dizer que não estou trabalhando com parâmetros anteriores. Para mim, tudo em você é novo ou ganhou um novo frescor: andar de moto, fazer mais exercícios, falar tudo, contar coisas que antes eu achava impensáveis. Com você, amor, eu quero fazer muitos planos, tornar a realidade fantástica e minhas fantasias em realidade, e “sem rótulos”.

E essa é a letra de Balada Pra João e Joana (Samuel Rosa e Chico Amaral), cujos versos eu acho que tem um pouco a ver com nossa trajetória até agora:

Então os dois se acharam na escuridão
Ela com os pes no chão e ele não
Seu destino cego a lhes conduzir
Sua sorte à solta a lhes indicar um caminho
E dançavam lá em meio a tanta gente
Se encontraram ali

Djô Djô, o mundo está tão mau lá fora
Djô Djô, onde irão vocês agora?

Então eles se deram na convicção
Feitos um pro outro, mas por exclusão
Seu destino cego a lhes conduzir
Sua sorte à solta a lhes indicar um caminho
E dançavam lá em meio a tanta gente
Se encontraram ali

Djô Djô, cai um temporal lá fora
Djô Djô, onde irão vocês agora?

Eram os dois avessos aos normais
Ela com os pés no chão, e o chão se abriu
Um abismo
E dançavam lá em meio a tanta gente
Se perderam ali

Djô Djô, nada pára, nada espera
Djô Djô, que o destino assim quisera

E tudo aconteceu
Quando as mãos se tocaram
Quando os olhos nem viram
Quando a noite chegou
E tudo estremeceu
As paredes do tempo
Os telhados do mundo
As cidades do céu


Sunday, August 13, 2006

Bem, esse texto é para falar de Click...

... novo filme do Adam Sandler. Mas eu perdi a idéia do título para esse post. Tive a idéia na noite de sábado, logo depois de assistir. Era uma idéia fabulosa. Bem, fazer o quê? Chego a conclusão de que devo sempre portar papel e caneta. O professor Dirceu já dizia que isso é item obrigatório para nós, malditos jornalistas...

Provavelmente, eu era um dos alunos que o Dirceu olhava e achava que não tinha jeito de jornalista. Segundo ele, jornalista se reconhecia pelo jeito de andar. Não sei, não tenho certeza absolutamente disso. Repórteres, talvez, mas jornalistas podem ser qualquer coisa. Mas se você é só repórter, talvez seja repórter a vida inteira...

Já que comecei errado, vou encurtar o texto. O filme que o senhor Adam Sandler fez é imperdível. O melhor do humor judeu e do humor sobre família, sobre afeto, com uma pincelada boa de drama. E ainda toca U2 num ponto crucial da história. "Ultra Violet". Deu vontade de ouvir na hora.

Aliás, nota mil para a sala 5 do Roxy, em Santos, multiplex de rua, e esta sala deve ter uns 500 lugares. No coração de Santos, no Gonzaga. Alguma coisa vai bem em Santos, pelo menos. E o preço, fantástico.

Thursday, August 10, 2006

Bizz e a cagada da “capa do açougueiro cover”

Nota: publico abaixo carta enviada por e-mail à Bizz na data de hoje (a carta foi sem os palavrões, hehehe)

Caro senhor Ricardo Alexandre,

A Bizz perdeu uma oportunidade rara de ensinar um pouco de cultura musical aos seus leitores ao não explicar adequadamente que a capa da edição 204 se inspirou na capa da coletânea “Yesterday And Today” (conhecida como “The Butcher Sleeve”_a capa do açougueiro), lançada em 66, (há 40 anos!!!!) exclusivamente nos Estados Unidos e retirada das lojas por pressões puritanistas.

A linha de crédito dada no rodapé do editorial assinado por Ricardo Alexandre laconicamente informa que a foto da banda é de “Nino Andrés, numa homenagem à célebre foto de Robert Whitaker com os Beatles”. E que o leitor poderia saber mais sobre as fotos assistindo ao making of no site da Bizz. Porra, que p... descaso!!!

Ao invés de democratizar a informação e torná-la disponível a todos os leitores, a revista a esconde no site. É claro que o público que lê a Bizz (a Abril deve ter pago rios de dinheiro para pesquisar isso) tem acesso a internet banda larga, mas porque deixar de fazer a conexão com uma sub junto ao próprio material sobre o Skank (aliás, fique claro aqui, a matéria de Alex Antunes está fabulosa!!!)????

Segundo Barry Miles, o biógrafo de Paul McCartney, em seu livro “The Beatles a diary: An intimate day by day history”, John Lennon, numa entrevista posterior ao episódio, explicou o motivo da violência empregada nas imagens: “Bob (Robert Whitaker) estava numas de (Salvador) Dalí e realizar fotos surreais... ela foi inspirada na nossa irritação e ressentimento em ter que fazer ´outra sessão fotográfica´ e ´outra coisa à la Beatles´. Nós estamos cansados disso... Essa combinação produziu aquela capa”

Caramba!!!! A situação de 40 anos atrás, numa das coisas mais bonitas do pop, se repete, agora com o Skank, que na reveladora matéria de Antunes demonstra estar cansado de ser um Skank que já não é mais, exatamente como os Beatles se sentiam em 25 de março de 1966, quando a sessão de fotos ocorreu na casa de Whitaker. Desde 2000, o Skank trilha um caminho independente, vendendo menos álbuns, mas não deixando de ganhar bem com seus shows e a alta rotação radiofônica e televisiva, sem recorrer aos recursos já usados para catapultá-los à fama, se reconstruindo como banda a cada dia.

Tudo isso poderia ter sido amarrado com a matéria de Alex Antunes e explicado num texto de 20 a 30 linhas... E o que a Bizz faz: enfia no site!!!

Em tempo, “Yesterday and Today”, foi lançado com a capa “pesada” em 15 de junho de 1966 nos EUA. A capa foi retirada de circulação no dia seguinte. Os discos foram retirados da loja e a Capitol colou sobre a capa original uma capa anódina. Colecionadores retiraram a nova capa com cuidado e várias cópias da “capa do açougueiro” são vendidas em sebos por altas quantias de dinheiro.

Fica a pergunta: porque a Bizz “escondeu” essas informações de seus leitores numa edição que tinha tudo para ser perfeita e histórica? Didatismo e cultura não fazem mal a ninguém.

Atenciosamente,

Mxxxxxx Oxxxxxxx
São Paulo

P.S.: Aliás, será que a Bizz “escondeu” a informação pois a produção da foto mandou muito mal e esqueceu de um pequeno detalhe... sujar os aventais de açougueiro de nossos Beatleskanks???

Monday, August 07, 2006

A perda de peso é continua

Se livrar de pesos, de qualquer espécie, faz muito bem para pele. Há um mês resolvi ajudar um amigo com problemas na família. Ele havia arrumado meu computador e era uma pessoa muito legal... Até que veio para dentro de minha casa!!! Como é interessante ver as pessoas dessa forma, é quando você realmente as vê. Não tem balada ou conversa que demonstre como é uma pessoa realmente, até que ela entra na sua casa...

E esse cara virou tudo aqui do avesso. Me deixou atônito. Roupas sujas, lixo, um tapete no meio da sala, uma cama no canto... Um bonequinho do Corinthians no meio da sala...

É claro que, diante de tudo que andou ocorrendo em minha vida nos últimos seis anos, o casamento frustrado, os murros em ponta-de-faca, as roubadas, meu coração anda duro, meu espírito reticente. Mas meu corpo tenta vingar minha índole e quer se mover. Ele não sabe bem ainda para onde. Uma médica (posso dizer até amiga) me indica o auto-conhecimento, uma amigona me indicou psiquiatra, mas tenho muito medo. Tenho medo do que vou encontrar.

Não sei se alguma droga ou saber se sou mais chato e complexo do que realmente aparento vão me ajudar em algo. Eu acho que é tudo mais simples: movimento, deixar a cabeça completamente fora do trabalho quando estou fora dele, namorar bastante, sair, me divertir de verdade, conhecer gente... Aliás, tô conhecendo uma pessoa muito boa. Viu, querida??? Sem palavras negativas hoje.

Bem, mas voltando ao começo, o amigo/peso está indo embora e eu já começo a me sentir bem melhor, após 8 dias terríveis, com o sofrimento do meu pai no hospital, o início da lenta recuperação, discussões em casa. Ainda bem que a minha mana esteve por aqui. Sem palavras pela sua paciência, companhia e sabedoria, viu??? Você é a caçula, mas eu queria ser como você.

Bem, e perder peso é bom demais. Do ponto de vista físico, dei fim em nove quilos já. Em dezembro, este que vos fala estava com 95kg, a cara redonda, agora estou com peso de garoto: 86,5/87 kg de muito amor para dar. Andando de bike, comendo coisas saudáveis, buscando o melhor para mim. Vamos em frente, ainda tem um caminhão de coisas para fazer e eu não posso ficar aqui parado.

Friday, August 04, 2006

Comentários liberados

Leitores queridos (se é que tenho algum...), podem comentar a vontade. Finalmente habilitei comentários anônimos e para pessoas não filiadas ao Blogger.

Beijo no coração!

Thursday, July 27, 2006

Quem é que faz a alegria do povo????

Mengo!!! Mengo!!! Vi as imagens da comemoração da torcida do Flamengo no Rio. Como queria estar lá ontem!!! Mas não estava, estava aqui em São Paulo, de volta a minha amada cidade após 15 dias fora. Então tá bom, eu queria estar em Santo Amaro, Itaquera, Jd. Miriam, no Braz, todo e qualquer lugar com grande concentração de nordestinos, comendo um sarapatel, cercado de gente maravilhosa do meu povo maravilhoso, brasileiro, gritando MENGO!!!

É o meu time, eu o escolhi. Me emocionei, aos 7 anos, não esqueço, no dia do segundo jogo contra o Cobreloa, quando os chilenos, caçaram Zico e companhia em campo. Perdemos, mas, em campo neutro, em Buenos Aires, na negra, o futebol-arte, e o toque de bola imbatível do Flamengo venceu. Este era o meu time, dali em diante. Para sempre. Estava superado o óbvio, a escolha óbvia de torcer para o Santos, o time da minha cidade. Meu coração já tinha dono: Zico, seus sócios, e depois seus herdeiros.

E como é bom ver o Flamengo ganhar um título nacional de novo. A última alegria que tive com o Mengo foi o tri-carioca em cima do Vasco, com aquele golaço do Petkovic de falta, Isabella na barriga da mãe. Depois, tudo o que eu quis do time é que ele fosse rebaixado. Durante muito tempo achava que a única solução, para que os dirigentes picaretas do Flamengo se rendessem ao óbvio e reformulassem o time, fosse o rebaixamento, agora acho que não. Só a Glória salva o Flamengo.

Thursday, July 20, 2006

PROCURA-SE NAMORADA, URGENTE...

Homem, 32 anos, pouquíssimo exigente, morador da zona sul, nível superior, procura fêmea para fins de namoro, com possibilidade, inclusive, de casamento e/ou reprodução.
Pai, separado, bem apanhado, sem doenças crônicas graves, em plena higidez mental, dentição completa, funções sexuais e reprodutoras ativas. Conhecedor das prendas do lar e da administração doméstica e orçamentária.

Dote considerável..., proporcional ao pé-de-meia (42).

EXIGE-SE:

Que a parceira goste de crianças, a mesma pode, inclusive, já ter uma ou até duas. A candidata deve estar disposta a fazer sexo de 3 a 4 vezes por semana (média nacional), e não usar drogas injetáveis, inaláveis ou fumáveis. Possua dentição completa ou com próteses não-aparentes, tenha o aparelho reprodutor em ordem. Pode ser loira, morena, ruiva (estuda-se propostas de orientais), baixa ou alta, magra, no ponto, ou com alguma suculência, desde que sem grandes reentrâncias. Se não for peluda (isso inclui as partes pudendas), melhor.

Dá-se preferência a não-fumantes e com nível superior em andamento ou já cursado. Ganha pontos se tiver olhos claros e pele clarinha. Ganha muitos pontos se o nariz tiver alguma característica exótica. Pintas na pele, ou sardas, são desejáveis. Pode beber, inclusive além de socialmente. Não precisa saber cozinhar, mas deve gostar de caminhar e, se possível, de praticar esportes. Ganha pontos se gostar de rock, exceto heavy metal pós-NWOBHM.

Friday, July 14, 2006

Frase do dia 1

"É proibido em todos os Estados. Para falar a verdade, é proibido em todos os Estados, menos no Texas." (do exterminador de pragas contratado pela vizinha dos Sem-Floresta ao falar de uma das armadilhas que havia instalado no quintal da animalcida). Cinema americano. Anti-Bush até nos filmes infantis.

Relâmpago McQueen é a edição ultra-moderna de Ulisses

Homero finalmente encontrou sua versão 3-D. Faltou o melodrama de Penélope e suas recusas a todas propostas de casamento, mas Carros (Cars, 2006, EUA), da Pixar (a.k.a Disney, por enquanto), é meio que uma versão super animada da epopéia do guerreiro grego, que desaparece em meio a uma missão e retorna triunfante para retomar seu reino.

Relâmpago McQueen (uma clara homenagem ao ator Steve McQueen, um piloto fora das pistas) é um carro novato muito veloz e audaz, uma espécie de Rookie of The Year. Patrocinado por uma empresa que produz o melhor anti-ferrugem do mercado, marca da qual o jovem bólido tem vergonha, ele espera ser o futuro campeão da Copa Pistão e ser patrocinado pela grande marca que dá apoio ao atual campeão _um veterano prestes a se aposentar.

Após um empate triplo numa corrida, que McQueen perde por pura arrogância, ao não aceitar o conselho da equipe para trocar os pneus, o título tem que ser decidido numa corrida extra na Califórnia. No meio do caminho, nosso Ulisses de metal acaba se perdendo de sua nau, no caso seu caminhão e fiel escudeiro Mack.

Sem faróis, sem GPS e sem conhecimento de estrada, McQueen se perde no mar, no caso o meio do caminho, numa beirada da Route 66, aquela mesmo, a clássica estrada eternizada por Chuck Berry. O carro acaba parando em Radiator Springs, uma cidadezinha que outrora foi a rainha do grande canyon, hoje meio que uma cidade fantasma, mantida pelo amor de seus cidadãos _o juiz Hudson, a promotora Sally, o hippie Ramone, e o guincho Mate, o borracheiro Guido, entre outros, todos fantásticos e muito bem dublados na versão brasileira.

A diferença maior para o enredo de Ulisses está aí. Na história clássica, o herói tem que retornar a seu meio para retomar o seu amor. Na trama de Joe Ranft, o desvio no caminho é preciso para McQueen se encontrar e descobrir que a vida é muito mais que uma pista de corrida.

Na cidadezinha, ele descobre o amor (Sally, uma Porsche carrera com tattoo tribal), a natureza, o valor das coisas simples e seu ídolo, o grande Hudson Hornett, tricampeão da década de 50. É aí que o lado Disney da Pixar entra forte e o desenho ajuda a moldar o caráter de crianças mundo afora.

Apesar de um enredo sobre máquinas, Carros é incrivelmente humano ao mostrar como o homem pode destruir verdadeiros paraísos, destruir economias de cidades pequenas, o meio-ambiente, os sonhos de outras pessoas, com atos impensados, em troca de um atalho que faz menos de 10 minutos de diferença no final do caminho. A trilha, nesse momento introspectivo do filme, nos oferece um Randy Newman inspiradíssimo que entrega a belíssima “Our Town” a magnífica interpretação de James Taylor, soberbo...

Paramos por aqui, para saber como esse Ulisses moderníssimo consegue retornar ao seu meio e sair vitorioso, vocês devem ir ao cinema, com ou sem seus filhos, e assistir. Vale a pena.

Logo, logo, assim que possível, comentarei o engraçadíssimo Os Sem-Floresta.

Tuesday, July 11, 2006

Carros

Assim que eu tiver tempo para sentar e escrever direito, vou falar tudo sobre Carros, um dos melhores filmes que eu vi nos últimos tempos. E comentem, porra, senão eu fico triste...

Sunday, July 09, 2006

A vida é torcer

É pai. 62 anos ontem. Bem vividos, não sei. 36 anos no prédio, demissão no ano passado, depois da aposentadoria. Agora tá bem, mas tá com aquela doença, cujo nome você não gosta de falar. Eu sei como é difícil para você, afinal de contas o tio teve também, e não teve sorte.

Bem, mas a vida é torcer, meu velho, e eu estou contigo. Já esqueci tudo, tá? Esqueci que você me proibia ir muito longe com a bicicleta, mas lembrei que foi você que segurou o celim da bike até eu aprender a andar... Esqueci que você não gostava que eu jogasse bola, mas, mesmo assim, batia uma bolinha com a gente na praia. Esqueci, principalmente, que você não queria que eu tivesse banda e esqueci que você queria que eu fosse doutor...

Mas, com você, eu também aprendi a ser turrão e fiz tudo, no fim das contas, do jeito que eu quis. E tenho que agradecer a você, por você ter sido meu pai. Por isso, ontem, na hora dos parabéns, eu corri para pegar a câmera e bater as duas últimas fotos do filme, porque, infelizmente, poderia ter sido seu último bolo de aniversário, apesar de que eu tenho certeza que não será.

Talvez você não saiba, mas eu te amo, e vou estar junto contigo.

Monday, July 03, 2006

Pra não dizer que não falei da seleção

Independente da polêmica se o pessoal tinha que marcar o Henry ou não no lance do gol ou fazer linha de impedimento (alô Roberto Carlos!!!), independente da desunião do time, das esquesitices e teimosias do Parreira, da overdose de cobertura da Globo, da não-Copa do Ronaldinho Gaúcho, informo que não deixo de ser brasileiro, independentemente de o Zidane ter jogado muitissima bola sábado.

Informo também que não deixarei de torcer, na Copa, para algum time que tenha algo de brasileiro. Então, pra frente Felipão!!! Quem sabe tu volta. Avante escola de Sagres, avante infantes portugueses. O mundo pode ser de vocês de novo, ainda que por algumas horas.

Bem, mas antes de mais nada. "Ah, Parreira, vai tomar no cu..."

Como eu era feio...

Olha, nunca me considerei um lindo, não sou mesmo, mas, caralho, na pós-adolescência, na faculdade, eu era a própria encarnação do Beelzebu. Entretanto, as coleguinhas, ah as coleguinhas, mesmo com os mullets da época só de rever algumas delas, quase que paixões platônicas de outrora retornam...

Quem me achar nas várias fotos em que apareço no link abaixo ganha um drops de cogumelo... Beijo no coração.

http://deborahokida.multiply.com/photos/album/4

Desculpem qualquer coisa...

Amigos, os textos estão cheio de pequenos erros de pontuação e deslizes de estilo, como repetições de palavras num mesmo parágrafo. Peço desculpas a todos, mas informo que não vou revisar não. Tô escrevendo de lan house e revisar custaria uma graninha... Melhor poupar para novas idéias, que não faltam.

Tuesday, June 27, 2006

Tudo pode ser diferente

Porque sempre temos que andar na mesma direção, fazer o mesmo caminho, comer a mesma coisa, beber a mesma coisa, olhar todas as mulheres do mesmo jeito, botar nossos métodos em prática a cada vez que estamos relaxando tranqüilamente numa balada, por exemplo? Porque a gente simplesmente não relaxa?

Tudo pode ser diferente daquilo que imaginamos. Basta querer. Parece papo de livro de auto-ajuda, mas foram dois filmes e duas partidas de futebol que me fizeram pensar a respeito disso hoje_ Vem Dançar (Take The Lead, EUA/2006), aquele mesmo, acreditem, com o Antonio Banderas, O Samurai do Entardecer (Tasogare Seibei, Jap/2002), Brasil 3 x 0 Gana e Espanha 1 x 3 França.

Mas o que uma coisa tem a ver com a outra??? Tudo. Sou um cara extremamente repetitivo mas que odeia rotina. Nada mais anocrônico, mas será que eu odeio mesmo??? Estou começando a achar que gosto de repetição, de rotina, e isso começa a me incomodar, mas não é sobre isso que eu quero falar agora. Vamos aos exemplos.

A começar pelo mais surpreendente: se não tivesse visto o trailer e não tivesse ganho da distribuidora da Folha de S. Paulo o ingresso, provavelmente não teria assistido a Vem Dançar. Filme sobre dança de salão??? Vai se fuder, meu... “Coisa de viado...”, como já disse o grande Pedro Bial. Mas ganhei o ingresso, aliás, já ganhei o ingresso por fazer algo que não faço nunca: comprar a Folha de domingo, não podia deixar de ir. E o filme é simplesmente o máximo.

Banderas é um professor de dança, um profissional que, ao assistir uma cena de vandalismo próxima de sua casa, acorda para a realidade de sua vizinhança, na zona norte de Manhattan, NY, NY... Oferece-se para ajudar a garotada problema da escolona do bairro, um Chiqueiro Louco* nova-iorquino.

A coisa dá certo quando a direção de elenco escolhe uma garotada nova para os papéis dos alunos, todos muito bons, com destaque para YaYa DaCosta, como LaRhette e Rob Brown, como Rock. Banderas percebe algo na história e vai fundo. Já dança bem, foi tranqüilo.

Já O Samurai do Entardecer surpreende mais pela sua história, praticamente surreal, de um samurai pobre e viúvo que abandona os prazeres mundanos em troca de ver suas pequenas cerejeiras (as filhas de 5 e 10 anos) crescerem. Graças a um velho-novo amor, ele acaba retomando a arte da Guerra e reencontra seu destino, sem deixar de amar suas pequenas.

Com essa história bacana, tendo como personagem principal um samurai sensível (diferente, não???) o diretor Yoji Yamada mudou a própria carreira. Diretor de uma série cômica de cinema japonesa, com mais de 40 filmes, sucesso no mercado local, pela primeira vez obteve sucesso fora do país e obteve uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2003.

Ai, ai, ai, mas o que a França e o Brasil tem a ver com isso. Na Copa, hoje, a França parou de pensar no resultado e resolveu jogar sua bolinha. Até apareceu um tal de Zidane, aquele que queria se aposentar, mas meteu um gol aos 40 do segundo tempo. Isso é mudar.

E o Brasil, ah o Brasil só foi bem quando resolveu mudar. Quando Ronaldo resolveu que tinha que driblar o goleiro de Gana, quando Parreira tirou Gilberto Silva e Adriano, quando Dida virou o pé direito um poquinho para a esquerda. Foi um sufoco? Foi. Foi mal-jogado? Foi. O que precisa fazer: mudar. Muda, Parreira, sem dó... Não adianta reclamar da leitura labial do Fantástico.

E eu? Que eu preciso fazer: mudar. Até que já fiz bastante coisa, mas ta na hora de buscar o novo. Acho que a primeira medida é gostar de quem gosta de mim e parar de me apaixonar por pessoas que não querem me dar a chance de me conhecerem de fato...

* Chiqueiro Loco era o apelido da EE onde estudei da 1ª a 8ª série, lá em Santos.

Monday, June 12, 2006

Uma criança como eu

Soube hoje que minha filha não fez amigos ainda na escola nova, lá em Neverland. A mãe dela também está triste que o negócio della é ficar pelos cantos, com lápis e papel na mão. Nossa, nunca me senti tão pai biológico quanto hoje. Eu conheci uma criança assim, sabe??? Essa criança era eu.

Três dias de "terapia intensiva", com ela num hotel, saindo para fazer as coisas que a gente fazia sempre (cinema, parque, etc) será que vão ajudar a resolver? Sabe, é incrível quando se trata de uma criança de quase cinco e você pensa que uma cidade como neverland poderia ser tudo que uma criança quisesse, mas, minha filha, ela tá sentindo falta sabe de quê??? De São Paulo. Essa cidade de luzes ofuscantes crava até na memória de uma quase bebê, da minha bebezinha. Até quinta, querida. Tô chegando.

St. Patrick´s kissing marathon

Sob o pé direito alto e com as bençãos de São Patrício, dois fãs de U2 finalmente se encontraram ontem. Quatro horas, mais de 20 cigarros e não sei quantas long necks depois, tudo o que eu tenho a dizer para você (afinal esse post é seu!!!) é que foram as melhores horas que passei com alguém nos últimos tempos.

Eu estava precisando e sinais ao longo desses dias indicavam à minha intuição que tem que ser com você. Está sendo e espero que continue sendo com você. E que continue sendo o quanto
antes, logo. Minha necessidade é urgente, quase histérica.

Senti que estava com alguém disposto a me ouvir e que tem muita coisa a dizer também. Senti afinidade, como na hora em que cantamos juntos, sem ligar se tinha alguém por perto. E senti você, que é o melhor de tudo. Em resumo, quero mais.

Saturday, June 03, 2006

Me cobrem...

Em breve vou falar aqui do Exquisito!, da Funhouse, do Coppola Music, do Teatro Orion (hahaha, desse eu não falo!!!), do Marrakesh (talvez), do CineBombril, de cinema, de jornalismo, de flertes, fatais ou não, das minhas pedaladas, não tão belas como as do Robinho, do Mengão, do Brasil... De literatura, de música... De comida de boteco. Tanta coisa, tanta coisa.

Um lugar do caralho 1

Bem, para não ficar só falando mal, este que vos fala também vai elogiar aqueles lugares que mantém em alta conta. Numa homenagem à querida Márcia, falecida ano passado, vou começar por uma pérola gastronômica de São Paulo, um verdadeiro segredo escondido na Cracolândia, bairro um dia conhecido como Luz _o Del Mar, na rua dos Andradas, a meio quarteirão do batido Bar Leo, não bar do Leo, como o povo insiste em chamar.
No dia do meu último aniversário, voltei à aconchegante casa que, na tradição dos bares da região, não abre aos domingos e, no sábado, avança somente até as 16h. Como é bom chegar num lugar e ser bem recebido pelos amigos: o mâitre Xavier, o melhor tirador de chopp dessa cidade, todos os outros garçons, sempre ágeis e atenciosos, conscientes da importância do seu digno e honrado trabalho de bem servir.
Um pouco mais clean, mas nem por isso menos tradicional, o bar está mais claro por dentro e continua decorado com motivos espanhóis, em homenagem a seus fundadores. O velho relógio que marca apenas 5 horas continua lá, os ditados espanhóis também. Mas o principal continua idêntico, a bem servida e deliciosa paella valenciana individual, R$ 27 de puro sabor, com camarões e mariscos generosos, frango tenro, arroz no ponto certo.
O chopp Brahma, servido na caldereta, tirado na velha chopeira da casa, tem sabor, textura e temperatura que o tornam o melhor servido na cidade. Ah, e ainda tem a isca de peixe, com certeza a melhor que já comi na vida, e o camarão no alho... Meu Deus!!! Márcia, um beijo, onde quer que você esteja. Os seus continuam tocando seu cantinho como ninguém.

Lugarezinhos de merda 1

Nesta "sessão" do blog falarei de lugares de merda. Vamos começar pela Mercearia do Francês (rua Itacolomi, 636, Higienópolis).
Apesar de evitar a região de Higienópolis por vários motivos aceitei o convite de uma amiga que fazia aniversário, pois gosto dela, mas que lugarzinho...
Metido a chique, o lugar já tem uma réplica horrenda da Torre Eiffel logo na entrada, o que já dizia muito do local, mas, com o pé atrás, segui em frente.
Sentei, estava com fome, mas afim de algo light, afinal sou um homem em dieta. Como era a primeira vez no local não quis arriscar e pedi algo básico, uma salada caesar e chopp. O chopp, Brahma, pelo menos isso, não estava muito bom, mas também não era ruim, e servido no copo correto, aquele que no Rio chama-se caldereta.
Mas a salada... ai, ai, ai. Que horror!!! Como todos sabem, a salada caesar é composta de alface americano cortado em tiras, queijo parmesão e croutons. Acompanha molho italiano ou molho de queijo parmesão. Junto com a salada, o cliente deve ter como opção adicionar tiras de filé de frango ou filé mignon grelhado.
Eis o prato que me foi servido: meia alface americana apenas desfolhada, coberta com fatias molengas de mussarela, salpicada com uns parcos pedaços de frango defumado e rodeada de rodelas de tomate... Sem croutons!!! Conforme havia solicitado, o molho veio a parte. Estrilei na hora, aquilo definitivamente não era salada caesar.
Reclamei dos croutons, aí depois me serviram uns pedaços de pão sírio torrado. Lamentável!!! E não adianta explicar ao garçon, porque, semelhante àquele quadro do Zorra Total, eles dificilmente sabem do que são compostos os pratos. Para completar, a casa não aceita cartão Visa, ou naquele dia a máquina estava com defeito. Mercearia do Francês, agora só de longe, bem longe.

Wham bam thank you man!!!!!

Muita coisa aconteceu de agosto do ano passado para cá, mas, na verdade, não sei muito bem porque parei de escrever. Acho que um dos motivos é que o hitmebaby já tinha dado. Ele havia perdido o sentido, quase que totalmente.
O "hitme" tinha a proposta de ser um blog temático sobre dor de cotovelo. Sei que eu tinha muito para falar sobre o tema, mas cansei. Não quero mais um tema único, quero escrever o que me der na telha. Crônicas (será que são mesmo crônicas? quem sabe?) de um trintão, que parece estar num momento contraditório em que prefere mais "observar" do que "estar".
Quero, de fora, olhar para dentro de mim mesmo e refletir o que acontece a minha volta. Vou tentar colocar tudo isso aqui.