Homero finalmente encontrou sua versão 3-D. Faltou o melodrama de Penélope e suas recusas a todas propostas de casamento, mas Carros (Cars, 2006, EUA), da Pixar (a.k.a Disney, por enquanto), é meio que uma versão super animada da epopéia do guerreiro grego, que desaparece em meio a uma missão e retorna triunfante para retomar seu reino.
Relâmpago McQueen (uma clara homenagem ao ator Steve McQueen, um piloto fora das pistas) é um carro novato muito veloz e audaz, uma espécie de Rookie of The Year. Patrocinado por uma empresa que produz o melhor anti-ferrugem do mercado, marca da qual o jovem bólido tem vergonha, ele espera ser o futuro campeão da Copa Pistão e ser patrocinado pela grande marca que dá apoio ao atual campeão _um veterano prestes a se aposentar.
Após um empate triplo numa corrida, que McQueen perde por pura arrogância, ao não aceitar o conselho da equipe para trocar os pneus, o título tem que ser decidido numa corrida extra na Califórnia. No meio do caminho, nosso Ulisses de metal acaba se perdendo de sua nau, no caso seu caminhão e fiel escudeiro Mack.
Sem faróis, sem GPS e sem conhecimento de estrada, McQueen se perde no mar, no caso o meio do caminho, numa beirada da Route 66, aquela mesmo, a clássica estrada eternizada por Chuck Berry. O carro acaba parando em Radiator Springs, uma cidadezinha que outrora foi a rainha do grande canyon, hoje meio que uma cidade fantasma, mantida pelo amor de seus cidadãos _o juiz Hudson, a promotora Sally, o hippie Ramone, e o guincho Mate, o borracheiro Guido, entre outros, todos fantásticos e muito bem dublados na versão brasileira.
A diferença maior para o enredo de Ulisses está aí. Na história clássica, o herói tem que retornar a seu meio para retomar o seu amor. Na trama de Joe Ranft, o desvio no caminho é preciso para McQueen se encontrar e descobrir que a vida é muito mais que uma pista de corrida.
Na cidadezinha, ele descobre o amor (Sally, uma Porsche carrera com tattoo tribal), a natureza, o valor das coisas simples e seu ídolo, o grande Hudson Hornett, tricampeão da década de 50. É aí que o lado Disney da Pixar entra forte e o desenho ajuda a moldar o caráter de crianças mundo afora.
Apesar de um enredo sobre máquinas, Carros é incrivelmente humano ao mostrar como o homem pode destruir verdadeiros paraísos, destruir economias de cidades pequenas, o meio-ambiente, os sonhos de outras pessoas, com atos impensados, em troca de um atalho que faz menos de 10 minutos de diferença no final do caminho. A trilha, nesse momento introspectivo do filme, nos oferece um Randy Newman inspiradíssimo que entrega a belíssima “Our Town” a magnífica interpretação de James Taylor, soberbo...
Paramos por aqui, para saber como esse Ulisses moderníssimo consegue retornar ao seu meio e sair vitorioso, vocês devem ir ao cinema, com ou sem seus filhos, e assistir. Vale a pena.
Logo, logo, assim que possível, comentarei o engraçadíssimo Os Sem-Floresta.
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