Subo e desço por esses nomes e vejo seu esplendor. Está no meu bairro a vista que hoje considero a mais bonita da cidade. A que se tem do viaduto Beneficência Portuguesa, olhando para a 23 de Maio, sentido Centro. Os bebedores de gasolina em seu frenético vai-e-vem, com um canteiro lindamente verde nesta época do ano ao centro e belíssimas e frondosas árvores do lado direito, ao fundo o prédio do Banespa... Antes gostava mais da vista sentido zona sul, com o Centro Cultural e a cúpula da Catedral Ortodoxa, como referência, mas o novo empreendimento imobiliário, medonho, bem na boca do Metrô Paraíso, estragou tudo.
Outro dia, tinha um compromisso e confundi a Vergueiro com a Liberdade e fui descendo pelas paralelas da Brigadeiro e da 23 até a Condessa de S. Joaquim. No caminho, descobri sem querer o convento das Carmelitas e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Outro domingo, esperava encontrá-la aberta, mas depois da missa das 11h, ela só reabre às 18h30. Bastou ler a placa.
Aproveitei, desci e conheci a feira do bairro, na rua Santo Amaro, perto da Jaceguai (aquela do Silvio Santos e do Oficina). Provei o pastel, senti o cheiro das flores e vi as utilidades domésticas de última geração, como o desentupidor de pia que parece um câmbio de carro... Mas foi subindo a Brigadeiro pelo mão sentido Jardins que fiquei triste.
O belo hotel Danúbio, onde uma época funcionou o clube Base, está fechado. Suas cúpulas azuis, de inspiração bizantina, com acabamento feito com pequenos ladrilhos azuis e amarelos, parece que esperam que alguém as tome pela mão e cuide delas. Esse prédio precisa ser tombado, porque é lindo, como a pequena rua Adoniran Barbosa, de casas simétricas e coloridas...
Prefiro deixar a decadência da Brigadeiro de lado e volto para o lado de dentro e me deparo com a mais surpreendente construção. Uma típica vila italiana inteira, a Vila Itororó, entre a Maestro Cardim e a rua Martiniano de Carvalho, transformada num gigantesco cortiço e completamente abandonada. Uma grande casa, uma mansão típica dos tempos do café ou do início da industrialização paulistana, toma conta da paisagem. Na sua lateral, seis belíssimas colunas jônicas ou dóricas ornamentam o conjunto de fins do século XIX e seus rococós...
Olhando mais um pouco por cima do muro, me surpreendo mais ainda, pois uma rua de paralelepípedos lá embaixo termina no muro do terreno, crianças jogam bola, as roupas estão no varal, numa cena típica de Nápoles. Estava eu num filme italiano??? Não, estava em São Paulo, a cidade que eu escolhi para viver.
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Na mesma Bela Vista, também vou me acostumando com o comércio, seus costumes e seus horários. A pior e melhor coisa é o Extra. Ponto de convergência, costuma estar mais lotado depois da meia-noite, do que às 20h, mas a empresa do seu Diniz insiste em manter pouquíssimos funcionários na madruga. Resultado: filas enormes no caixa rápido do careiro supermercado, mas na Pedroso tem o Pão de Açúcar, que também fica aberto até tarde. O jeito é tentar a sorte por lá... É tudo caro mesmo, não é , seu Diniz??? Aliás, Carrefour, Wal-Mart, onde estão vocês, seus covardes??? Vamos quebrar esse monopólio!!!
Mas o bom mesmo do bairro é o Sacolão Brigadeiro, sob o viaduto Treze de Maio, que na verdade tem outro nome na placa: Armando Puglisi, o Armandinho do Bixiga, fundador do Vai-Vai, se não me engano... Bem, o pessoal do sacolão é muito legal. Você pede, eles dão um jeito e sempre tem o sorriso e simpatia da moça do caixa, que eu já descobri não se tratar de uma moça, mas de uma quase quarentona, mas ela não parece, pô... Tá sempre sorrindo!!!
Ontem descobri o padoca Dengosa, na Artur Prado, que serve sopa e pizzas num salão no andar superior, com um preço bem bacana e serve o honesto chopp Itaipava, que eu tomei com sopa, e muito bem acompanhado, o que dá muito certo no frio. E tem o bar em frente ao sacolão, o Dascanio, ou outro nome parecido (ainda estou me acostumando), com preços honestos, um dia tem chorinho com samba, outro dia Blues... Subindo mais um pouco tem a pizzaria Comilão, um segredo do bairro. É bom morar aqui, estou feliz.
6 comments:
adorei o seu texto...a medida em que eu lia, imaginava o que vc descrevia...pude ouvir o barulho das crianças jogando bola....pq vc não torna isso um novo hobby e quem sabe passe a escrever frilas sobre o assunto....leve a máquina fotográfica e regitre...vc terá uma bela e gratificante surpresa...
bjs
Cris
Estou pensando em fazer isso. Outro dia vi uma máquina por R$ 500 na p... do Extra. Quase comprei... Vou ver se acho no Carrefour e parcelo no cartão antes do aniversário da Bella... Duro é ter luz boa com o tempo fechado que tem feito aqui. Obrigadão pelo comentário.
São Paulo é mesmo uma cidade incrível. Apesar dos pesares, amo o fato de ter nascido aqui e morar aqui...ainda.
Beijos
Como assim, "ainda"???
Lindo!!!!!!!!!!!!!
Li seu texto com a imaginação real de alguém que nasceu e creceu na Bela Vista, que viu a paisagem mudar, os prédios chiques serem construidos e destruirem a paisagem.
Vi casinhas que poderiam ter sido tombadas pelo patrimonio historico irem à baixo, velhos cortiços, antes soberbas moradias dos barões do café. Hoje, estacionamentos ou prédio modernos, caros e feios.
Me lembro da Dengosa com um andar só, antes do prédio chique chegar e transformar a vizinhança local. Antes da Artur Prado ser reduto desta nova elite que gostou de viver no centro.
Gostei muito do seu texto. Também gosto de caminhar pelo bairro. E bate uma imensa tristeza ao perceber que ele muitas vezes caiu no abandono. Ao ver que o belo teatro onde um dia se apresentou Elis Regina virou apenas mais uma igreja qualquer (ali na esquina da Brigadeiro com a Pedroso).
Ótimo texto! Gostei de sua historia e do modo como vc a conta!
Bruna Buzzo, 20 anos, desde sempre na Rua Santa Madalena, uma paulistana incorrigivel.
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