Quem ama a arte sabe que o artista dentro de cada um de nós nunca morre. Não foi à toa que escolhi a mitológica Choperia Liberdade, um karaokê extremamente bizarro e antológico no centro de SP, para a festa de fim-de-ano da “firma”. Desejava ansiosamente que aquele pequeno grupo de talentosas pessoas se soltassem e se divertissem e honrassem o palco em que pisariam aquela noite, ainda que o palco tivesse menos de 20 cm de altura. Afinal de contas, cada um que subiu naquele palco, a cada música desembolsou duas pilas.
Até o segundo ano do segundo grau eu era completamente nerd. Três eventos naquele ano, entretanto, me fizeram começar a me soltar. Em 1990, aos 16, tomei meu primeiro porre no aniversário de 15 anos de minha irmã. Licor de menta e sprite foram a fórmula que me levaram a emular um misto de Page/Plant com uma vassoura... Entre 1990 e 1991 interpretei João Grilo em o “Auto da Compadecida”, na montagem que fizemos da peça de Suassuna para a aula de Literatura. E em 1991 minha primeira banda, a então Nowhere Band, estreou no anfiteatro da outrora gloriosa EESG Primo Ferreira.
A partir desses três eventos descobri que poderia dar um pouco de mim para os outros através de movimentos, expressões, palavras e música e comecei a entender o que é o artista, seu trabalho, sua importância e porque jamais se deve vaiar aquele que dá a cara para bater em cima de um palco. Poucas pessoas têm noção, por exemplo, sobre o que é um ensaio em uma garagem calourenta, no verão santista, a 40º C, a repetição exaustiva, dentro de um estúdio, de um riff, ou decorar um poema para declamá-lo...
A vida levou-me a não ser um artista profissional, mas nunca deixei de ser um “entertainer”. Entendo que o convívio entre pessoas pode ser algo extremamente desgastante e chato e o meu lado artista tenta, com minhas presepadas, deixar o ambiente leve para o outro, que não é obrigado a estar feliz o tempo inteiro.
Eu mesmo não passo por um dos momentos mais brilhantes da minha vida: stress, excesso de trabalho, falta de grana, doenças, despesas que surgem do nada, coisas extremamente desagradáveis têm me ocorrido... Nos últimos dias cheguei até a não ser gentil ou agradável com os meus colegas de trabalho. Ontem, definitivamente, eu queria muito cantar, interpretar. Na verdade, eu precisava.
E os colegas vieram. Estávamos num simpático grupo de oito pessoas, alguns estreavam num karaokê e se intimidaram, mas todos tentaram. Felipão surpreendeu sacando o sambinha “As Mariposa”, de Adoniran Barbosa. Bruno dividiu os microfones comigo em duas canções do Cazuza, “Ideologia” e “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, com direito a olhares fulminantes para uma gaja de olhoso verdes, mesmo com o arranjo travado do Barão (que sufoco, mano!). No karaokê a gente sempre conhece pessoas legais e fui convidado ao palco para dividir os vocais de “Canteiros”, de Fagner, um dos meus hinos... mesmo sem saber direito a parte do meio.
Soltei minhas veias bregas, românticas e cantei: “Me Dê Motivo” (Tim Maia), que é muito boa para soltar a voz, uma vez que é uma música na qual tento imitar a voz e trejeitos de Tim em vez de cantar; “Eu Te Darei o Céu” (Roberto e Erasmo Carlos); “Sonhos” (Peninha); “Tempos Modernos” (Lulu Santos), um velho clássico dos tempos do Espetinhos, em Santa Cecília... e, pela “primeira vez na TV”, “Cachoeira”, de Ronnie Von... com coro animado de todo o karaokê...
Apesar de tantas músicas, a sensação de frio na barriga antes de cada estréia, a espera ansiosa, e muita manguaça no cerebelo, todos esses sentimentos estavam de volta... Mas nem um pouco de vergonha, nem um pouco de raiva, nem um pouco de stress, estava livre, era dono do meu espaço. Eu sorria, como um iniciante que acerta um belo chute, uma bela tacada, afinal éramos todos absolutamente iniciantes, absolutamente amadores, e nervosos também, como Bowie (lindamente) cantou na brega, porém maravilhosa “Absolute Beginners”, tema de um filme horroroso de mesmo nome.
I've nothing much to offer
There's nothing much to take
I'm an absolute beginner
But I'm absolutely sane...
As long as we're together
The rest can go to hell
I absolutely love you
But we're absolute beginners
With eyes completely open
But nervous all the same
If our love song
Could fly over mountains
Could laugh at the ocean
Just like the films
There's no reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true
Nothing much could happen
Nothing we can't shake
Oh we're absolute beginners
With nothing much at stake
As long as you're still smiling
There's nothing more I need
I absolutely love you
But we're absolute beginners
But if my love is your love
We're certain to succeed
If our love song
Could fly over mountains
Could sail over heartaches
Just like the films
If it's reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true
FELIZ NATAL E FELIZ 2007, AMIGOS, COM MUITO AMOR.
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3 comments:
Felicidades, bróder! Abração!
É Marcelo, prometo que na próxima vez escolho uma música mais fácil ! E de preferência nacional!!!!
Abraços
Fred
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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