A expectativa diante do show de Wander Wildner no último dia 31 era enorme. Seria o último show de sua temporada de todas as terças em São Paulo, no Mão Santa (rua Mourato Coelho, 816, Vila Madalena, São Paulo), o que sempre prenuncia um show especial, ainda mais quando anunciado que teria a participação especial de Júlio Reny (artista solo, guitarrista, ator, radialista, integrante de bandas como os Cowboys Espirituais, Expresso Oriente, lançando um novo disco solo “Dias de Chuva”, enfim uma lenda do rock gaúcho, com quase 30 anos de serviços prestados à música).
Uma pena que parte dessa expectativa acabou frustrada, causando-me, inclusive, uma descarga tão bruta de adrenalina que me rendeu uma dor de cabeça monstro só curada pela atenção amiga da Helô.
A parte mais frustrante foi que a participação do Júlio não pôde ser considerada especial. Não por causa do show, que foi ótimo, apesar de ter sido uma apresentação de abertura, curta, é claro, mas devido ao desrespeito do público com o artista. As conversas das pessoas na audiência eram mais altas que a bela voz do cantor no (fraco) sistema de som da casa. Ninguém prestava atenção, mesmo com os arranjos maravilhosos do guitarrista apresentado por WW como Viajandão. E uma vez que a participação do artista foi divulgada como especial, eu tinha entendido que ele e o Wander, apesar de suas formações musicais distintas, iriam fazer uma jam, mas não rolou...
Até aí, tudo bem, mas a frustração foi antecidida por incidentes muito chatos. Não sei se por ser uma temporada fechada, num dia não muito maravilhoso (terça-feira), a casa (que anuncia aceitar cartão de crédito e débito) cobrou os R$ 10 de entrada na porta, em dinheiro... Como estava só, metade da minha grana do táxi já ficou ali mesmo. Segundo o porteiro, essa cobrança antecipada de ingresso foi decidida entre a entourage do músico e a casa. Com a palavra o Wander (estou mandando um e-mail para ele sobre isso).
Pessoalmente e financeiramente, não fico puto pela cobrança antecipada, mas me senti aviltado como consumidor. Se o ingresso custava R$ 10 para todos, antecipado, pagos na porta e não no final da conta, porque mesas reservadas? As condições deveriam ser iguais para todos os consumidores, não é? Fui um dos primeiros a chegar e fiquei sentado no fundo e sou fã igual a maioria das pessoas que estava ali... E se o esquema da casa é bar com show, deveria cobrar couvert artístico e não ingresso, com pagamento na saída e aceitando todas as formas de pagamento disponíveis. E se o esquema da casa é show, com bar, não deveria permitir que parte dos consumidores ficasse em pé, atrapalhando a visão do artista para boa parte da audiência, eu incluso.
Não bastasse isso tudo, no letreiro da casa havia a informação “chopp” e a casa só vendia cerveja em garrafa e em lata, de três marcas: Schincariol, Skol e Original. Pedi uma Original que chegou quente a minha mesa e, apesar da minha reclamação, não foi trocada. Detalhe, a pobre garçonete, casa lotada, mais perdida que o Mr. Magoo no trânsito, não me disse que havia latinhas... Infeliz com a cerveja, pedi uma Coca-Light... Não tinha. Só a Coca-Hard... E refris de limão e guaraná, da Schin...
Decidi não beber mais nada, mas tava um puta calor dentro daquele lugar pequeno e pedi uma coca normal mesmo, com bastante gelo para diluir, mas já tinha acabado a coca... Tomei uma schin de Limão, parecia a Tubaína do demo!!!! O copo cheio de gelo foi minha salvação... Tudo isso para dizer: pode tocar o WW de novo, o Ira!, o Roberto Carlos naquela p... de Mão Santa, que eu nunca mais piso naquela m... Lugar de bosta. Mais um (confira os posts Lugarezinhos de Merda 1 e 2).
Mas graças a Deus, WW, que estava alheio a tudo isso, sossegado, assistindo o show do Reny (o qual apresentou com enorme carinho) como todos os mortais. Em seguida, subiu ao palco com o mesmo guitarrista do show do Studio SP e arrasou. Acústico, Wanderley Luiz Wildner mostra todas as nuances de sua voz enorme, às vezes rouca, às vezes grunhida, porém sempre afinada, um Tom Waits melhorado, menos excêntrico, brasileiro, latino, com suas letras que de uma hora para outro mudam de curso, mas que dizem o simples (o simples é sempre o mais difícil de alcançar e ele alcança o simples com facilidade). No show, WW se dividiu com maestria entre os clássicos gaúchos revisitados como “Empregada”, “Amigo Punk” e “Um Lugar do Caralho” e suas próprias canções. Poucos acordes e muita alegria e sorrisos no rosto de quem o vê.
Já escrevi demais, o repertório do show fala por si...
Ganas de Vivir (Juan Suarez)
Refrões (WW)
Bebendo Vinho (WW)
Anjos e Demônios (WW)
Um bom motivo (WW)
Quase Um Alcoólatra (Giancarlo Morelli)
Empregada (Frank Jorge)
Eu Não Consigo Ser Alegre o Tempo Inteiro (WW)
Você Já Era (Out Of Time) (Jagger/Richards, vers. Clarah Averbuck)
Minha Vizinha (Gerbase/Wildner)
No Ritmo da Vida (WW)
Um rapaz só (Lonely Boy) (Steve Jones/Paul Cook, vers. Marcelo Moreira)
Correndo por Correr (Todo Mundo Um Dia Vai Embora) (Sandro Nunes/WW)
Candy (Iggy Pop)
Rodando El Mundo (WW, com citação de “Machu Pichu”, de Hermes Aquino)
Maverickão (Zicco Cardoso)
Mantra das Possibilidades (WW)
Um Lugar do Caralho (Flávio Basso a.k.a Júpiter Maçã)
Última Canção (Vico)
Eu Tenho Uma Camiseta Escrita Eu Te Amo (WW)
Amigo Punk (Frank Jorge)
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2 comments:
Amigo punk, escuta este meu desabafo: teu texto é foda, mas eu prefiro quando vc não reclama. Fica com cara de carta de leitor do Guia da Folha. Mas quando vc fala da banda é o de sempre, sempre o texto bom e tal. Tinha que escrever um livro, amigão
Obrigado. Concordo com a crítica, mas o lado rabugento foi inexorável e invencível.
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