O choque final aconteceu dia 25. Minha filha foi ao dentista e ela precisa de um aparelho. E eu não tenho um centavo para ajudar neste momento. Isso me jogou no chão com violência, como o tombo daquele outro dia. Fiquei mal, me sentindo um merda... Peguei meu cartão de crédito e o parti em dois. Pô, se me chamam para uma balada eu vou, por que posso pagar no cartão. Se minha filha precisa de dinheiro vivo para o aparelho eu não tenho.
Que vida é essa na qual usufruo de crédito, mesmo sem ter dinheiro vivo? É uma espiral sem fim, da qual começarei a me livrar mês que vem, quando, finalmente, terei direito a um dinheiro que é meu, mas que o Estado precisa emprestado para financiar casas. Coisas do Estado. Foi ruim para mim, mas é justo que o sistema seja assim. De alguma forma, esse país de endividados tem que tentar poupar.
Tenho condições de buscar prazer de outras formas e vou encontrá-lo, sem gastar um centavo. Há uma pilha de livros e CDs na minha sala que sempre quis ler e escutar e agora chegou a hora, até porque “la piazza e mia!!!!!!!!”. Tem Talese, Gaspari, Paulo Cesar Araújo, mais Safran Foer, Hornby, tem Los Hermanos, Nara Leão, Erasmo, rock inglês que eu não ouvi, um monte de filmes que não assisti... E se o frio deixar tem a bicicleta também. Fred está viajando, Marcos sumiu e eu vou ficar aqui sozinho este feriado, acertando as contas comigo mesmo. Alguém quer vir?