Decidi escrever este texto ao parar pela milésima vez no alto da passarela Ciccillo Matarazzo (a passarela do Detran), que liga o Detran ao pavilhão da Bienal, no Ibirapuera. Passava pela enésima vez por ali com a minha bicicleta, mas não pude deixar de parar o olhar para aquele horizonte metade de pedra, metade verde. Árvores, parque Ibirapuera começando a lotar, trânsito insandecido (aliás, como tava parada a 23 sentido Centro), mas hoje tinha sol, hoje tinha céu azul...
Céu azul e sol forte logo após uma noite de chuva, daquelas feitas para dormirmos bem, têm poder abrasador. Acordei cedo e fui buscar o remédio da filhota (que eu entregarei pessoalmente no feriado do dia 8), enchi os pneus da bike e lá estava eu na farmácia de manipulação. Mesmo há quase um mês sem andar de bike decentemente, lá fui eu para o inexorável, onipresente, tesudo, cheiroso, louco parque do Ibirapuera, grande concentração de pessoas zen do bem...
E ao chegar, não pude deixar de sentir o cheiro das folhas úmidas e da terra que subiam, voláteis, rumo ao ar, rumo às nossas narinas. Cada sombra trazia uma sensação única, assim como trecho da ciclovia do parque sob o sol levava aos olhos as matizes mais diversas de cor, o lago do parque parecia encantada, faltando apenas que ali encarnassem fadas diáfanas... Não sei como as pessoas não usam o parque o Ibirapuera como cenário para casar, como os japas fazem no Central Park...
Com um parque como o Ibirapuera, para que uma cidade precisa de vida noturna??? Mas São Paulo tem e só na noite de São Paulo é possível encontrar uma colombiana curtindo Chuck Berry e Ray Charles na pista da Funhouse, depois de testemunhar seu melhor amigo destruir, por desafinação e não por avacalhação, “As Curvas da Estrada de Santos”, no karaokê-restaurante japonês-choperia Liberdade, enquanto era vaiado por falsos moderninhos bombados e tatuados com mullets-interlace que não conseguiam sequer cantar “Besame Mucho”.
E só em São Paulo um amigo seu te liga às 23h30, depois de assistir com a mãe ao Rei no Credicard Hall, nos fundões da marginal Pinheiros, e te chama para sair... E, no táxi, no caminho para a balada, o motorista, admirado por `jovens´ gostarem de Roberto Carlos, revela que teve uma banda de rock nos anos 60, chamada Os Lobos e que conheceu o rei “himself” e que o cara era muito gente fina (“O Paulo Sérgio, que não era nada, era todo metido, já o Roberto sempre conversava com todo mundo. Ele merece todo o sucesso que tem”. Vida longa ao Rei, e te agradeço, São Paulo, por existir, todos os dias. Foi aqui que eu construí o pouco que eu tenho, foi aqui que nasceu minha filha maravilhosa, é aqui o cenário da minha história... Tava com saudades.
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1 comment:
Boa, Zoyd, boa mesmo. Essa cidade às vezes cansa, mas esses detalhes ainda a mantém como boa. Fiquei emocionado com as menções da noite tranqueira/bacana de quinta. Só faltou dizer que eu levei saquê numa garrafinha de água por não ter dinheiro para pagar a conta
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