Wednesday, December 20, 2006

Absolute beginners

Quem ama a arte sabe que o artista dentro de cada um de nós nunca morre. Não foi à toa que escolhi a mitológica Choperia Liberdade, um karaokê extremamente bizarro e antológico no centro de SP, para a festa de fim-de-ano da “firma”. Desejava ansiosamente que aquele pequeno grupo de talentosas pessoas se soltassem e se divertissem e honrassem o palco em que pisariam aquela noite, ainda que o palco tivesse menos de 20 cm de altura. Afinal de contas, cada um que subiu naquele palco, a cada música desembolsou duas pilas.

Até o segundo ano do segundo grau eu era completamente nerd. Três eventos naquele ano, entretanto, me fizeram começar a me soltar. Em 1990, aos 16, tomei meu primeiro porre no aniversário de 15 anos de minha irmã. Licor de menta e sprite foram a fórmula que me levaram a emular um misto de Page/Plant com uma vassoura... Entre 1990 e 1991 interpretei João Grilo em o “Auto da Compadecida”, na montagem que fizemos da peça de Suassuna para a aula de Literatura. E em 1991 minha primeira banda, a então Nowhere Band, estreou no anfiteatro da outrora gloriosa EESG Primo Ferreira.

A partir desses três eventos descobri que poderia dar um pouco de mim para os outros através de movimentos, expressões, palavras e música e comecei a entender o que é o artista, seu trabalho, sua importância e porque jamais se deve vaiar aquele que dá a cara para bater em cima de um palco. Poucas pessoas têm noção, por exemplo, sobre o que é um ensaio em uma garagem calourenta, no verão santista, a 40º C, a repetição exaustiva, dentro de um estúdio, de um riff, ou decorar um poema para declamá-lo...

A vida levou-me a não ser um artista profissional, mas nunca deixei de ser um “entertainer”. Entendo que o convívio entre pessoas pode ser algo extremamente desgastante e chato e o meu lado artista tenta, com minhas presepadas, deixar o ambiente leve para o outro, que não é obrigado a estar feliz o tempo inteiro.

Eu mesmo não passo por um dos momentos mais brilhantes da minha vida: stress, excesso de trabalho, falta de grana, doenças, despesas que surgem do nada, coisas extremamente desagradáveis têm me ocorrido... Nos últimos dias cheguei até a não ser gentil ou agradável com os meus colegas de trabalho. Ontem, definitivamente, eu queria muito cantar, interpretar. Na verdade, eu precisava.

E os colegas vieram. Estávamos num simpático grupo de oito pessoas, alguns estreavam num karaokê e se intimidaram, mas todos tentaram. Felipão surpreendeu sacando o sambinha “As Mariposa”, de Adoniran Barbosa. Bruno dividiu os microfones comigo em duas canções do Cazuza, “Ideologia” e “Todo Amor que Houver Nessa Vida”, com direito a olhares fulminantes para uma gaja de olhoso verdes, mesmo com o arranjo travado do Barão (que sufoco, mano!). No karaokê a gente sempre conhece pessoas legais e fui convidado ao palco para dividir os vocais de “Canteiros”, de Fagner, um dos meus hinos... mesmo sem saber direito a parte do meio.

Soltei minhas veias bregas, românticas e cantei: “Me Dê Motivo” (Tim Maia), que é muito boa para soltar a voz, uma vez que é uma música na qual tento imitar a voz e trejeitos de Tim em vez de cantar; “Eu Te Darei o Céu” (Roberto e Erasmo Carlos); “Sonhos” (Peninha); “Tempos Modernos” (Lulu Santos), um velho clássico dos tempos do Espetinhos, em Santa Cecília... e, pela “primeira vez na TV”, “Cachoeira”, de Ronnie Von... com coro animado de todo o karaokê...

Apesar de tantas músicas, a sensação de frio na barriga antes de cada estréia, a espera ansiosa, e muita manguaça no cerebelo, todos esses sentimentos estavam de volta... Mas nem um pouco de vergonha, nem um pouco de raiva, nem um pouco de stress, estava livre, era dono do meu espaço. Eu sorria, como um iniciante que acerta um belo chute, uma bela tacada, afinal éramos todos absolutamente iniciantes, absolutamente amadores, e nervosos também, como Bowie (lindamente) cantou na brega, porém maravilhosa “Absolute Beginners”, tema de um filme horroroso de mesmo nome.

I've nothing much to offer
There's nothing much to take
I'm an absolute beginner
But I'm absolutely sane...
As long as we're together
The rest can go to hell
I absolutely love you
But we're absolute beginners
With eyes completely open
But nervous all the same

If our love song
Could fly over mountains
Could laugh at the ocean
Just like the films
There's no reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true

Nothing much could happen
Nothing we can't shake
Oh we're absolute beginners
With nothing much at stake
As long as you're still smiling
There's nothing more I need
I absolutely love you
But we're absolute beginners
But if my love is your love
We're certain to succeed

If our love song
Could fly over mountains
Could sail over heartaches
Just like the films
If it's reason
To feel all the hard times
To lay down the hard lines
It's absolutely true

FELIZ NATAL E FELIZ 2007, AMIGOS, COM MUITO AMOR.

Monday, December 11, 2006

Amor incondicional

Enquanto na vida amorosa todos os meus resultados são incompletos e tudo parece estar em colapso (nenhum ciclo parece se fechar e meus três casos recentes não foram vividos plenamente _um beijo fugidio longe de casa, uma garota mais ligada em livros e computadores do que na vida e uma bela psicóloga que não sabe se fica casada ou se separa), com Isabella, mesmo com a distância de 696 km, a vida parece fazer sentido.

Dezessete horas de viagem (ida e volta), diárias de hotel, gasto com material escolar, presente de Natal, gasolina (minha contrapartida para a volta de carro), gastos com alimentação, lanches, tomar Coca-Cola normal, coisa que já não faço mais... Para muita gente tudo isso poderia ser o inferno, para mim é o paraíso. Porque são por essas atitudes, essa presença, que acredito estar vivendo pela primeira vez meu único amor incondicional _o amor de um pai por sua prole.

Logo de cara começo a sentir a sensação de dever cumprido. Chego, me registro no hotel, encontro Isabella e a levo para a escola. Naquele segundo, ela entra pela última vez na pré-escola. Ano que vem, no final de janeiro, ela começa o ensino fundamental. Me sinto parte, sinto que cada centavo está sendo bem empregado. Depois, verifico os documentos de matrícula da minha filha e constato que ela já tomou todas as vacinas e leio o primeiro boletim escolar de uma carreira que eu sei que será longa e que vai bem, obrigado.

No sábado, mantivemos uma tradição que temos desde quando ela tinha dois anos. Fomos ao cinema à tarde. Vimos “Happy Foot”. Tirando as músicas, os efeitos de animação fantásticos, a versão em português meia-boca e o roteirozinho chulé derrubam o filme e tornam seu final ininteligível para uma criança de 5 anos.

À noite, fomos ao Willie Davids ver os balões que participavam do Campeonato Brasileiro de Balonismo fazer o Night Glow... Espetáculo bonito, mas os organizadores estragaram tudo, anunciando que a festa começaria às 19h, quando 19h era apenas o horário de abertura dos portões, deixando as pessoas duas horas trancadas num estádio de futebol, assistindo uma prostituta da cidade fazer um cover podre de Vanessa da Mata, acompanhada de duas piranhas e uma bichona supostamente dançarinos e pessimamente coreografados. Viva a pipoca e o churros...

Mesmo com o soninho e o showzinho dado no restaurante japonês logo em seguida e a longa viagem que teríamos na volta, nada era capaz de desfazer a minha alegria. Tudo valeu a pena no domingo de manhã. Assim que acordamos, ouvi um sonoro e sincero “papai eu te amo!”.

Friday, December 08, 2006

Neologismo sino-francês

Como os brasileiros são criativos!

Como você chamaria um
restaurante/lanchonete que serve yakissoba? Que tal misturar a palavra
yakissoba com o sufixo de origem francesa "eria", que remete a
rotisserie, panetterie... A nova palavra foi vista na rua Barão de
Iguape, na Liberdade, a caminho da Choperia para esbaldar-me no
aniversário de Debbie ontem:

Bem, já imagino o verbete no dicionário:

Yakissoberia - s.f.: Local onde é servido yakissoba, receita de origem
chinesa na qual se refogam macarrão, legumes e isca de carne na manteiga
e cebola, alho e muito molho de soja (shoyu).

Saturday, December 02, 2006

Brasileiro sim, e daí

Quarta-feira caminhava à noite pela rua Augusta, sem eira, nem beira, com uma fome não-específica. O Ibotirama, que serve um pf honesto estava lotado. Lembrei do Violeta, o melhor pedaço de pizza da afamada rua. Ouvi uma voz feminina até que afinadinha cantando Roberto Carlos, era Claudia Abreu. Ela tava na TV (Globo), onde passava o (muito bom) “O Caminho das Nuvens”, de Vicente Amorim, cantando “Se Você Pensa”.

“Das origens”, o balconista gente boa estava com os olhos fixos na tela, babava o tempo todo, se via na história de Romão, que percorre o Brasil de norte a sul (3.200 km) entre a Paraíba e o Rio de Janeiro, levando mulher e cinco filhos, em busca de seu sonho. “Puta filme bom da porra!”, exclamava o “cãoterrâneo”. Também estatelado, falei que o filme era bom pra cacete e que ele deveria assistir até o final. Esqueci de perguntar seu nome.

Roberto Carlos, a quem o filme é dedicado, é a trilha do sonho. Quando faltava dinheiro ou comida ou os dois, a personagem de Claudia Abreu tirava um Roberto da cachola e mandava com os filhos. Com os cobres, enchiam os buchos e os pneus da bicicleta e seguia em frente. Nosso personagem, atrás do balcão, se via na tela e reconhecia. “A gente vê tanta porcaria do estrangeiro e às vezes não dá valor ao que é nosso”. E eu continuei dando força ao nosso amigo. “Eu já vi o filme muito bom”. “Viu no cinema?”, ele pergunta. “Sim, aqui do lado”, respondo.

O nosso personagem não sabe que Amorim é filho de embaixador, ele não quer e não precisa saber disso, ele não está nem aí que o filme é da Globo Filmes, ele não torce o nariz porque Claudia Abreu canta Roberto. Ele acha a história bonita e vê um filme brasileiro, às 22h30 da noite, na Rede Globo! E é isso que importa! O Brasil precisa se reconhecer na tela, foda-se quem ta pagando por isso. Nosso amigo balconista prometeu procurar “O Caminho das Nuvens” na locadora. Tomara que ele ache, tomara que ele assista. Quando eu passar de novo no Violeta, vou cobrar isso dele.

Friday, December 01, 2006

Dirija um kart

Fã de Fórmula 1 desde a mais tenra infância, quando, aos 7 anos, vi Nelson Piquet ganhar seu primeiro título mundial na travada pista de Las Vegas, sempre tive curiosidade de tomar o volante de um monoposto. Realizei esse sonho no último domingo, pilotando o kart, num lugar super legal de tão bizarro, o SP Diversões, no Butantã, numa tarde com o pessoal do "selviço"...

Tinha chovido um pouco antes e os marmanjos decidem então botar o simpático macacão fornecido pelo centro de diversões. Manja aquele macacão podre do seu mecânico, com zíper até a altura da cueca... Pois é, usei um treco desses... Hehehehe

Partimos para as voltas de reconhecimento de pista, mas o meu kart apresentou problemas no seu impressionante sistema de partida e morreu várias vezes, me impedindo de fazer a tomada de tempo. Os carrinhos estavam todos empenados e muitas vezes o freio só freava de um lado, fora isso estava com calçado completamente inadequado...

Apesar de tudo isso ter prejudicado o meu desempenho e me posto no último lugar da competição, correr naquele velotrol turbinado foi sensacional. Por estar posicionado bem atrás do piloto, o motor faz um ronco inacreditável... Nas curvas é preciso ter muito braço e a pista molhada fazia o kart rodar direto. Tudo isso é extremamente adrenalizante e é tudo o que você jamais poderia fazer com o seu carro.

O SP Diversões cobra, segundo os meus colegas de trabalho pesquisaram, um dos preços mais baratos para uma bateria de meia-hora. R$ 48. Eu recomendo. Entretanto, sugiro que os mais sensíveis levem protetor auricular, não pelo barulho dos motores, mas em virtude da horrorosa trilha sonora: Rappa, axé e Bruno & Marrone.