Sunday, March 08, 2009

Elegia ao amor


Há tempos um filme não mexia tanto comigo emocionalmente como "Fatal", de Isabel Coixet ("Elegy", 2008). Saí realmente abalado da sessão que acabo de assistir no Espaço Banrisul de Cinema, em Porto Alegre. Após uma longa caminhada, sentar no escuro era tudo o que eu queria fazer para pensar um pouco na vida, nada melhor do que assistindo um filme de Isabel, uma autora do qual já vi “Minha Vida Sem Mim” e a “A Vida Secreta das Palavras”.

Isabel sabe filmar o amor, definitivamente. Diante do título idiota que recebeu no Brasil e, como não havia lido nenhuma resenha, pensava, erroneamente, que o filme era uma escorregadela da diretora pela velha-história-do-professor-muitos-anos-mais-velho-que-se-apaixona-pela-aluna-que-acaba-mal-com-a-morte-de-alguém.

Errei, ainda bem. Isabel acertou, de novo.

Há alguns dias, desde que, aparentemente, pus fim a um capítulo de um ano e meio de minha vida, só tenho pensado numa “aluna” que conheci, 13 anos mais nova, que mora do outro lado do país e que mexe comigo de uma forma devastadoramente positiva.

Vendo o filme, senti tudo o que sente o professor David Kepesh, brilhantemente interpretado pelo fleumático e técnico Ben Kingsley, e acho que entendi o que sente Consuelo, que ganha vida através de Penélope Cruz, divina. Trinta e poucos anos mais velho que Consuelo, batido por anos de relacionamentos fugazes, ele, na casa dos 60, não sabe lidar com as emoções e não sabe, claro, lidar com esse novo relacionamento.

Entretanto Kepesh não quer sofrer, ele corta tudo pela raiz e um dos que mais sofre é seu filho, Kenny, de cuja mãe ele se separou quando o rapaz era um garoto. Quando busca resposta no pai, Kenny só encontra interrogações. Simultaneamente, o professor busca uma estabilidade no estranho e durável relacionamento com a executiva Carolyn, a qual vê a cada 20 dias.

Entendo o sofrimento do professor, entendo seu medo, e me via nas cenas dele, especialmente, quando ele ficava sozinho no apartamento, querendo dizer tudo o que sentia para Consuelo, enciumado, pensando onde e com quem ela passava a noite. Entendi também quando ele teve medo e evitou uma festa da família dela, o que causou o fim do relacionamento.

Uma cena, em especial me tocou. Após uma briga, Consuelo liga para Kepesh. Ele pensa que ela vai terminar com ele até que dispara: “o que você espera de mim”. “Você tem a vida inteira por viver e eu só estou esperando o dia em que você vai me dizer que vai embora”, ele responde.

O solitário pensar do professor, destruído por anos de pragmatismo e de apologia do prazer, tem sentido, mas não é o que quero para mim. Quero viver até a última gota esse sentimento maravilhoso do amor, que me põe conectado a milhares de quilômetros de distância, com uma pessoa tão diferente de mim, mas linda e pura. Quero viver a nossa história. Obrigado por existir e demonstrar tão claramente o seu ser. E obrigado, Isabel, por me fazer refletir com um filme tão belo, verdadeira elegia ao amor.

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