Sunday, May 03, 2009

E agora, Marcelo?

“Vivi quatro dias no paraíso ao lado do meu amor, trocando juras intensas e verdadeiras”. Esse é o resumo, numa frase de uma linha, do que foi o primeiro encontro com meu amor, no mês passado, em João Pessoa.

Depois, de volta, continuava com os pés levemente afastados do chão, como num êxtase prolongado. Passei o primeiro sábado no Hopi Hari, ainda confortável, com a minha filha, usufruindo o presente dado pelo meu amor, mas quem estava presente era ela. Como eu queria que ela estivesse conosco, rindo de nossas brincadeiras, comendo nossa comida, passando calor e frio no mesmo dia, conforme os desígnios do fim de abril em São Paulo.

No domingo, surgiu a ressaca, a alegria do parque foi substituída por um vazio intenso e uma tristeza profunda. Sentia, demais a ausência de Clara. O cansaço e a ressaca do passeio me fizeram passar o dia em casa, aumentando o branco em mim, uma lacuna. Era como se os fatos passassem em frente ao meu rosto, sem deixar marcas.

Só havia espaço para uma pergunta, parafraseando Drummond: “E agora, Marcelo?”.

Essa era a abertura do texto que eu escreveria na noite de domingo passado ou no início da semana passada, mas que, devido ao trabalho, a retomada da rotina, etc, eu acabei não escrevendo e não publicando.

Os dias passam e buscamos eu e a Clara a resposta juntos. Outro dia, num papo sobre filhos, na verdade, sobre quando tê-los, ela questionou sobre a diferença de experiências entre nós e eu disse: “Onde tá a confusão? Isso é normal”. Sabiamente, do alto de seus 21 anos, ela respondeu: “É normal, por isso é confusão”.

Ela tem toda razão, pois se antes de nos conhecermos havia dúvidas de que nosso relacionamento é real, após os quatro dias juntos na Paraíba, não há dúvida nenhuma de que o que sentimos um pelo outro é verdadeiro e normal. E, sendo normal, um sentimento humano, cheio de imperfeições, confusões.

Para concluir o assunto, naquela conversa matinal rápida, lapidei:

“Onde tem gente, onde tem emoção, meu amor, é sempre assim...
sempre vai ter confusões, o coração vai sofrer apertos...
sabia disso desde que fui praí, mesmo quando tínhamos nossas pequenas tensões.
Hoje, eu não sinto mais aquele aperto no coração a cada vez que temos nossas rusgas.
A ansiedade negativa agora passou e deu lugar apenas a uma saudade positiva, a saudade das boas lembranças.
O futuro não é mais medo ou algo a se temer, é uma esperança.
E eu te amo. Você é a razão de tudo isso.”

E passados 11 dias da última vez que estive com você, meu amor, e aguardando ainda 51 para estar com você de novo, continuo achando a mesma coisa. O futuro não é mais algo a se temer, é uma esperança. E eu te amo.

Desculpe qualquer erro nos últimos dias, aqui de longe é difícil ser perfeito ao expressar algo, mas a gente já venceu a distância uma vez, vamos vencê-la de novo e encontraremos a resposta juntos. Te amo.

Sunday, March 08, 2009

Elegia ao amor


Há tempos um filme não mexia tanto comigo emocionalmente como "Fatal", de Isabel Coixet ("Elegy", 2008). Saí realmente abalado da sessão que acabo de assistir no Espaço Banrisul de Cinema, em Porto Alegre. Após uma longa caminhada, sentar no escuro era tudo o que eu queria fazer para pensar um pouco na vida, nada melhor do que assistindo um filme de Isabel, uma autora do qual já vi “Minha Vida Sem Mim” e a “A Vida Secreta das Palavras”.

Isabel sabe filmar o amor, definitivamente. Diante do título idiota que recebeu no Brasil e, como não havia lido nenhuma resenha, pensava, erroneamente, que o filme era uma escorregadela da diretora pela velha-história-do-professor-muitos-anos-mais-velho-que-se-apaixona-pela-aluna-que-acaba-mal-com-a-morte-de-alguém.

Errei, ainda bem. Isabel acertou, de novo.

Há alguns dias, desde que, aparentemente, pus fim a um capítulo de um ano e meio de minha vida, só tenho pensado numa “aluna” que conheci, 13 anos mais nova, que mora do outro lado do país e que mexe comigo de uma forma devastadoramente positiva.

Vendo o filme, senti tudo o que sente o professor David Kepesh, brilhantemente interpretado pelo fleumático e técnico Ben Kingsley, e acho que entendi o que sente Consuelo, que ganha vida através de Penélope Cruz, divina. Trinta e poucos anos mais velho que Consuelo, batido por anos de relacionamentos fugazes, ele, na casa dos 60, não sabe lidar com as emoções e não sabe, claro, lidar com esse novo relacionamento.

Entretanto Kepesh não quer sofrer, ele corta tudo pela raiz e um dos que mais sofre é seu filho, Kenny, de cuja mãe ele se separou quando o rapaz era um garoto. Quando busca resposta no pai, Kenny só encontra interrogações. Simultaneamente, o professor busca uma estabilidade no estranho e durável relacionamento com a executiva Carolyn, a qual vê a cada 20 dias.

Entendo o sofrimento do professor, entendo seu medo, e me via nas cenas dele, especialmente, quando ele ficava sozinho no apartamento, querendo dizer tudo o que sentia para Consuelo, enciumado, pensando onde e com quem ela passava a noite. Entendi também quando ele teve medo e evitou uma festa da família dela, o que causou o fim do relacionamento.

Uma cena, em especial me tocou. Após uma briga, Consuelo liga para Kepesh. Ele pensa que ela vai terminar com ele até que dispara: “o que você espera de mim”. “Você tem a vida inteira por viver e eu só estou esperando o dia em que você vai me dizer que vai embora”, ele responde.

O solitário pensar do professor, destruído por anos de pragmatismo e de apologia do prazer, tem sentido, mas não é o que quero para mim. Quero viver até a última gota esse sentimento maravilhoso do amor, que me põe conectado a milhares de quilômetros de distância, com uma pessoa tão diferente de mim, mas linda e pura. Quero viver a nossa história. Obrigado por existir e demonstrar tão claramente o seu ser. E obrigado, Isabel, por me fazer refletir com um filme tão belo, verdadeira elegia ao amor.